São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Contrato para usinas de Angra 1 e 2 permitiu à Assurê ganhos de ao menos US$ 360 mil

Estatal indicou seguro com corretora ligada a Jefferson

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A Eletronuclear recomendou a contratação de uma corretora de um apadrinhado do presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson, para intermediar um seguro de US$ 3,6 milhões das usinas de Angra 1 e 2 no ano passado. Esse contrato permitiu à Assurê Corretagem de Seguros, do empresário Henrique Brandão, ganhos de ao menos US$ 360 mil.
A recomendação da estatal foi feita por carta endereçada à Bradesco Auto-Re, do grupo Bradesco, vencedora da licitação feita no ano passado. O diretor de Administração e Finanças da Eletronuclear, Carlos Padilha -filiado ao PT do Rio, partido pelo qual foi prefeito de Angra dos Reis (RJ)- admitiu, em entrevista gravada à Folha, que enviou a carta ao Bradesco, depois da licitação, recomendando que a Assurê fosse mantida como corretora no contrato com a estatal.
A Eletronuclear, subsidiária da Eletrobrás, é uma das estatais sob influência do PTB. O diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da empresa, Luiz Rondon Teixeira Magalhães Filho, foi nomeado para o cargo por indicação de José Carlos Martinez, presidente do PTB morto em 2003.
Rondon tem como principal assessor o genro do deputado federal Roberto Jefferson, Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira, que está sendo investigado pelo Ministério Público Federal. Em declaração prestada anteontem a procuradores, Jefferson reconheceu que o genro trabalhou como corretor da Assurê e possui ""relações comerciais" com Henrique Brandão ""até a presente data".

Remuneração
Cada usina nuclear está segurada em US$ 500 milhões para cobertura de risco de danos materiais, fora a cobertura de US$ 78 milhões relativa à responsabilidade civil em caso de acidentes. O prêmio pago pela Eletronuclear para fazer o seguro é de US$ 3,6 milhões por ano, segundo informação prestada pela estatal.
Segundo informações do mercado segurador, a remuneração do corretor nesse tipo de operação é de pelo menos 10% do valor do prêmio, o que daria uma receita de pelo menos US$ 360 mil para a Assurê.
Quando a equipe do atual governo tomou posse, em janeiro de 2003, o seguro das usinas Angra 1 e 2 era feito pela seguradora Interbrazil, cujo contrato expirou em junho do ano passado. A Eletronuclear abriu licitação para fazer uma nova apólice, mas acabou sendo obrigada a fazer um contrato de emergência por três meses porque as 13 candidatas -todas grandes seguradoras - foram inabilitadas. Segundo a direção da Eletronuclear, quando a Interbrazil tinha o contrato de seguro, a corretora era outra, cujo nome não foi especificado.
No contrato de emergência, foi contratada a seguradora Itaú. Foi nesse período, entre junho e setembro de 2004, que a Assurê entrou na relação. Carlos Padilha, diretor financeiro da Eletronuclear, afirmou que não sabia esclarecer quem indicou a corretora naquela ocasião, mas disse que, normalmente, a indicação do corretor é feita pelo IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), por envolver operação de resseguro, que é monopólio estatal.
Enquanto vigorava o contrato de emergência com a Itaú, foi feita nova licitação, no qual quatro seguradoras foram habilitadas: Bradesco, Interbrazil, AGF Brasil e Itaú. Conhecido o vencedor, a Eletronuclear enviou a carta ao Bradesco recomendando manter a Assurê como corretora.
São muitos os vínculos que ligam a Assurê, o deputado Roberto Jefferson e o IRB, estatal ligada ao Ministério da Fazenda na qual o PTB indicou o ex-presidente Lídio Duarte (afastado há dois meses) e o atual, Luiz Appolônio Neto (este em consenso com o PP).
A Assurê contribuiu com a campanha da vereadora no Rio da filha de Jefferson, Cristiane Brasil Francisco, com R$ 70 mil em dinheiro, e Henrique Brandão, com R$ 10 mil. Luiz Rondon, diretor da Eletronuclear indicado por Martinez, aparece na relação de doadores com R$ 10 mil.

Depoimento
No depoimento ao Ministério Público Federal, anteontem, Jefferson disse conhecer Henrique Brandão há 30 anos, mas afirmou nunca ter tido negócios com ele.
Segundo a revista ""Veja", Brandão teria sido emissário da cobrança de uma mesada de R$ 400 mil que o PTB teria feito ao ex-presidente do IRB, Lídio Duarte -informação contestada por Roberto Jefferson. Desde que o suposto tráfico de influência no IRB veio à tona, há duas semanas, Brandão não deu entrevistas. Em sua empresa, a informação é de que estaria em viagem. Brandão é presidente do sindicato dos corretores de seguro do Rio e sua empresa é tida como uma grande corretora, com tradição de contratos com o setor público.


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