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GOVERNO SOB PRESSÃO
Contrato para usinas de Angra 1 e 2 permitiu à Assurê ganhos de ao menos US$ 360 mil
Estatal indicou seguro com corretora ligada a Jefferson
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A Eletronuclear recomendou a
contratação de uma corretora de
um apadrinhado do presidente
nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson, para intermediar
um seguro de US$ 3,6 milhões das
usinas de Angra 1 e 2 no ano passado. Esse contrato permitiu à Assurê Corretagem de Seguros, do
empresário Henrique Brandão,
ganhos de ao menos US$ 360 mil.
A recomendação da estatal foi
feita por carta endereçada à Bradesco Auto-Re, do grupo Bradesco, vencedora da licitação feita no
ano passado. O diretor de Administração e Finanças da Eletronuclear, Carlos Padilha -filiado ao
PT do Rio, partido pelo qual foi
prefeito de Angra dos Reis (RJ)-
admitiu, em entrevista gravada à
Folha, que enviou a carta ao Bradesco, depois da licitação, recomendando que a Assurê fosse
mantida como corretora no contrato com a estatal.
A Eletronuclear, subsidiária da
Eletrobrás, é uma das estatais sob
influência do PTB. O diretor de
Planejamento, Gestão e Meio
Ambiente da empresa, Luiz Rondon Teixeira Magalhães Filho, foi
nomeado para o cargo por indicação de José Carlos Martinez, presidente do PTB morto em 2003.
Rondon tem como principal assessor o genro do deputado federal Roberto Jefferson, Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira, que
está sendo investigado pelo Ministério Público Federal. Em declaração prestada anteontem a
procuradores, Jefferson reconheceu que o genro trabalhou como
corretor da Assurê e possui ""relações comerciais" com Henrique
Brandão ""até a presente data".
Remuneração
Cada usina nuclear está segurada em US$ 500 milhões para cobertura de risco de danos materiais, fora a cobertura de US$ 78
milhões relativa à responsabilidade civil em caso de acidentes. O
prêmio pago pela Eletronuclear
para fazer o seguro é de US$ 3,6
milhões por ano, segundo informação prestada pela estatal.
Segundo informações do mercado segurador, a remuneração
do corretor nesse tipo de operação é de pelo menos 10% do valor
do prêmio, o que daria uma receita de pelo menos US$ 360 mil para
a Assurê.
Quando a equipe do atual governo tomou posse, em janeiro de
2003, o seguro das usinas Angra 1
e 2 era feito pela seguradora Interbrazil, cujo contrato expirou em
junho do ano passado. A Eletronuclear abriu licitação para fazer
uma nova apólice, mas acabou
sendo obrigada a fazer um contrato de emergência por três meses porque as 13 candidatas -todas grandes seguradoras - foram inabilitadas. Segundo a direção da Eletronuclear, quando a
Interbrazil tinha o contrato de seguro, a corretora era outra, cujo
nome não foi especificado.
No contrato de emergência, foi
contratada a seguradora Itaú. Foi
nesse período, entre junho e setembro de 2004, que a Assurê entrou na relação. Carlos Padilha,
diretor financeiro da Eletronuclear, afirmou que não sabia esclarecer quem indicou a corretora
naquela ocasião, mas disse que,
normalmente, a indicação do corretor é feita pelo IRB (Instituto de
Resseguros do Brasil), por envolver operação de resseguro, que é
monopólio estatal.
Enquanto vigorava o contrato
de emergência com a Itaú, foi feita
nova licitação, no qual quatro seguradoras foram habilitadas: Bradesco, Interbrazil, AGF Brasil e
Itaú. Conhecido o vencedor, a
Eletronuclear enviou a carta ao
Bradesco recomendando manter
a Assurê como corretora.
São muitos os vínculos que ligam a Assurê, o deputado Roberto Jefferson e o IRB, estatal ligada
ao Ministério da Fazenda na qual
o PTB indicou o ex-presidente Lídio Duarte (afastado há dois meses) e o atual, Luiz Appolônio Neto (este em consenso com o PP).
A Assurê contribuiu com a
campanha da vereadora no Rio
da filha de Jefferson, Cristiane
Brasil Francisco, com R$ 70 mil
em dinheiro, e Henrique Brandão, com R$ 10 mil. Luiz Rondon,
diretor da Eletronuclear indicado
por Martinez, aparece na relação
de doadores com R$ 10 mil.
Depoimento
No depoimento ao Ministério
Público Federal, anteontem, Jefferson disse conhecer Henrique
Brandão há 30 anos, mas afirmou
nunca ter tido negócios com ele.
Segundo a revista ""Veja", Brandão teria sido emissário da cobrança de uma mesada de R$ 400
mil que o PTB teria feito ao ex-presidente do IRB, Lídio Duarte
-informação contestada por Roberto Jefferson. Desde que o suposto tráfico de influência no IRB
veio à tona, há duas semanas,
Brandão não deu entrevistas. Em
sua empresa, a informação é de
que estaria em viagem. Brandão é
presidente do sindicato dos corretores de seguro do Rio e sua empresa é tida como uma grande
corretora, com tradição de contratos com o setor público.
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