São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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CAMPO MINADO

Comissão apura transferência de R$ 400 mil da Anca para plano de previdência de dois funcionários da entidade

CPI da Terra identifica "laranjas" do MST

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Como resultado da quebra dos sigilos fiscal e bancário, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Terra identificou a movimentação de R$ 3,5 milhões da Concrab (Confederação das Cooperativas de Reforma agrária do Brasil), entidade vinculada ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em nome de três supostos "laranjas".
A investigação da CPI, cujos trabalhos foram prorrogados ontem até novembro, também identificou a transferência de R$ 400 mil da Anca (Associação Nacional de Cooperação Agrícola) para um plano de previdência privada de dois funcionários da entidade.
"Não estamos prejulgando nem muito menos condenando, mas há indícios fortes de corrupção nos caixas dessas entidades", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da comissão, que reúne deputados e senadores.
A Folha tentou localizar ontem os responsáveis pela Anca e pela Concrab. Deixou recados nas duas entidades durante o dia, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
As duas entidades tidas como principais braços financeiros do MST tiveram os sigilos fiscal e bancário quebrados no ano passado pela CPI da Terra. Anca e Concrab recorreram ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas não conseguiram impedir o rastreamento do dinheiro, com origem sobretudo em doações do exterior e verbas públicas. Em seis anos, as duas entidades teriam movimentado pelo menos R$ 29,9 milhões. Posteriormente, a CPI também quebrou os sigilos de uma terceira entidade igualmente ligada ao MST, o Iterra (Instituto de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária).
"Esse dinheiro é destinado aos assentamentos, houve pelo menos um desvio de finalidade", disse Álvaro Dias. Ele reconvocou para a próxima quarta-feira o ex-secretário-executivo da Anca, José Trevisol, o presidente da Concrab, Francisco Dalchiavon, e as três pessoas identificadas como responsáveis por movimentações milionárias: Emerson Rodrigues da Silva, Edmilson José de Pinho e Orlando Vieira de Araújo.
"A Polícia Federal já foi acionada caso eles não apareçam no dia 1º", adiantou Álvaro Dias. Os depoentes haviam sido convocados para anteontem, mas faltaram.
José Trevisol aparece como beneficiário de um depósito de R$ 200 mil em plano de previdência de um banco privado, feito em janeiro de 2003. No mesmo dia, a Anca depositou mais R$ 200 mil em plano semelhante em nome de Selma Aparecida dos Santos, tesoureira da entidade que mais movimenta recursos públicos entre as ONGs ligadas ao MST. Entre janeiro de 1998 e abril de 2003, a CPI identificou a movimentação de R$ 3,5 milhões por um grupo de três pessoas, supostos laranjas.


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