São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

O gerente e as bombas

Não foi dos melhores dias para o presidenciável Geraldo Alckmin, "o gerente". Da Globo, abrindo o "SPTV" no meio do dia:
- São Paulo amanheceu relembrando um pesadelo. A Marginal Tietê debaixo d'água. Em alguns pontos, rio e pista se confundiam. Além das vias expressa e local, as ruas do entorno ficaram submersas.
Pior, "desta vez nem as máquinas da obra de ampliação da calha escaparam". Ao vivo, diz então o repórter:
- Governador, fica aquela sensação de que as obras não deram resultado.
Entra Alckmin:
- Não, as obras deram, sim, resultado. Ficamos três anos sem enchente. Tivemos uma chuva excepcional.
Foi defesa curta e, sem pausa, "o gerente" passou a responsabilizar a prefeitura:
- Só a ponte das Bandeiras, onde nós estamos, é que tem sistema de bombeamento. O rio volta para a calha, mas o trânsito não libera porque acumula água... O caminho é colocar bombas embaixo de todas, e nós já detectamos as que precisam. Aí vamos ter um impacto menor na população.
Mais à frente, voltou por contra própria ao assunto:
- Com as bombas, aí nós minimizamos o problema do trânsito nas marginais, que é o que atrapalha a população.
Falaria mais, mas foi cortado para as cenas de um resgate com caiaque e dois botes.
 
De manhã, ao vivo no "Note e Anote", da Record, "o gerente" já havia gasto dez minutos na mesma tecla:
- O problema agora é debaixo das pontes... Não [falei com o prefeito], mas o Estado vai ajudar... Só temos bombas aqui na ponte das Bandeiras... Vamos entrar em contato com a prefeitura para ajudar na compra ou aluguel... Vamos ajudar a prefeitura a pôr bomba embaixo de todas... De todas, só a das Bandeiras tem... O sistema de bombeamento é do município, mas o Estado vai ajudar.
À noite, ao vivo no "Brasil Urgente", da Band, evitou afinal as "bombas", mas respondeu sobre a "briga" com o prefeito por causa da enchente:
- Não há nenhuma briga. O que nós temos que fazer é trabalhar. Amassar barro, comer poeira, suar a camisa. No ano que vem quem vai decidir é o partido. Aquele que for escolhido, o partido estará junto. Mas não neste momento.
Minutos depois e, na Globo, lá estava ele de novo:
- Vamos ajudar a prefeitura a ter um sistema de bombas e a erguer as pontes.
Estava encerrando reunião com os secretários em que, para a Globo, "ficou decidido que o governo do Estado vai propor à prefeitura... bombas".
 
Foi um dia depois de a Globo, entre outras, relatar o encontro dos "quatro presidenciáveis do PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o prefeito de São Paulo, José Serra", mais FHC e Aécio Neves.
E depois de Alckmin, segundo a Jovem Pan, ser "questionado sobre uma pesquisa que o aponta como candidato pouco conhecido no restante do Brasil", ao contrário de Serra.
E depois de um site tucano, o E-agora, postar uma nota sem assinatura intitulada:
- Pode não ser Alckmin.

AOS PRANTOS

Reprodução
Ilustração ontem no Blog do Colunista

Os sites noticiosos bem que se esforçaram, mas muito pouca coisa aconteceu, desde a leitura do requerimento da CPI até a meia-noite.
A Folha Online cobriu o golpe de teatro, mais um, do senador petista Eduardo Suplicy, que saiu anunciando "emocionado", aos prantos, que assinaria o requerimento da comissão porque assim "é melhor para o meu partido, é melhor para o presidente Lula, para que venhamos a refletir melhor".
Foi o pouco que animou também o esforçado "live blogging" de Ricardo Noblat, no Blog do Colunista, fora um ou outro parlamentar que tirava ou colocava o nome no requerimento da CPI. Aqui e ali, Severino Cavalcanti também chamou a atenção ao anunciar que a comissão era "fato consumado", na Globo Online. Até Itamar Franco conseguiu alguma atenção, com críticas à ação do governo no Congresso.
Finalmente, chegou a Globo News e, três minutos depois da meia-noite, anunciou:
- Pelos cálculos do governo, não foi possível retirar o número necessário de assinaturas e impedir a instalação da CPI.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

Pouco imposto
O "New York Times" deu editorial sobre "Crescimento e os pobres" no Brasil e América Latina. Disse que não tem chegado aos pobres e responsabilizou o serviço da dívida externa e o fato de os governos "tomarem muito pouco em impostos".

Lucro recorde
O "Financial Times" deu reportagem dizendo que "o forte crescimento que o Brasil não via há anos" está "por trás da estelar performance corporativa":
- As empresas do Brasil informaram lucros recordes no primeiro trimestre do ano.


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