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Ellen perde posto na OMC para mexicano
Ministra do STF disputava vaga no Órgão de Apelação; decisão é revés para Itamaraty, que fez intensa campanha pela juíza
Falta de conhecimento de Ellen com matéria que ia julgar foi obstáculo; Ricardo Ramírez tem experiência com temas ligados à OMC
Alan Marques - 28.mai.08/Folha Imagem
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Ellen Gracie, ministra do Supremo, durante julgamento na corte
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ministra Ellen Gracie
Northfleet, juíza do STF (Supremo Tribunal Federal) saiu
derrotada da disputa por um
posto no Órgão de Apelação da
OMC (Organização Mundial do
Comércio). Ela concorria à vaga deixada no início do ano pelo
brasileiro Luís Olavo Baptista,
mas a OMC preferiu indicar o
mexicano Ricardo Ramírez.
A decisão representa um
considerável revés para o Itamaraty, que fez intensa campanha por Ellen. O fato amplia a
longa lista de derrotas brasileiras no cenário internacional,
como a de Luiz Felipe de Seixas
Corrêa na disputa pela direção
da OMC em 2005, e a de José
Graça Aranha para a direção da
Organização Mundial de Propriedade Intelectual, em 2008.
Em nota oficial, o Ministério
das Relações Exteriores defendeu a qualificação da magistrada para o cargo e afirmou que
ela dispunha do "apoio dos Estados-membros da OMC". O
Itamaraty disse que o ministro
Celso Amorim "telefonou para
o diretor-geral da OMC, Pascal
Lamy, para manifestar a decepção do Brasil com os resultados
do processo de seleção".
A assessoria do STF informou que "foi uma escolha geoeconômica" e que "não se trata
de uma derrota para a ministra,
mas sim para o país". A ministra não comentou o assunto.
Pelas informações que chegaram à diplomacia brasileira,
o maior obstáculo foi a falta de
conhecimento de Ellen sobre a
matéria. Já o escolhido, Ricardo Ramírez, tem ampla experiência com temas ligados à
OMC e já foi assessor do ministro da Economia do México.
Outro fator que pesou contra
a ministra foi a divisão regional.
Já que a vaga havia sido ocupada durante oito anos por Baptista, alguns países latino-americanos deram o apoio ao mexicano para que o Brasil "não se
perpetuasse na cadeira".
Desde o início da campanha
ficou claro que o fato de Ellen
não ser especializada em comércio internacional era uma
séria desvantagem. Para compensá-la, o Itamaraty procurou
destacar que a juíza era a primeira mulher a presidir o STF.
Além disso, o Brasil tentou
vender a ideia de que a inexperiência de Gracie em temas comerciais deveria ser considerada um trunfo, já que ela levaria
à OMC um olhar sem ideias
preconcebidas. Mas na sabatina a que foi submetida pelos
seis membros do Comitê de Seleção da entidade, o desconhecimento ficou evidente e a própria Ellen teve que admitir que
não era uma perita.
Formado por sete juízes, o
Órgão de Apelação é uma espécie de corte suprema do comércio internacional. Decide disputas envolvendo bilhões e
tende a ser cada vez mais importante, no ambiente protecionista gerado pela crise.
O Comitê de Seleção que rejeitou o nome de Gracie é formado pelo diretor-geral da
OMC, Pascal Lamy, e pelos presidentes de conselhos da entidade, atualmente ocupados por
embaixadores da Noruega, Chile, Canadá, Nigéria e Cingapura. Além do mexicano Ramírez,
a outra vaga, destinada à Europa, ficou com o belga Peter van
den Bossche. Os dois nomes serão ratificados pelos 153 membros da OMC no dia 19 de julho.
Há duas semanas, ao negar os
rumores de que estava de olho
na direção da Agência Internacional de Energia Atômica,
Amorim disse que as duas únicas candidaturas internacionais do Brasil eram a de Ellen
Gracie na OMC e a do Rio para
sede da Olimpíada de 2016 -na
qual o governo está totalmente
engajado. A tal ponto que o próprio Lula deve ir no próximo
mês a Lausanne, sede do COI.
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