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JANIO DE FREITAS
Não há dúvida mesmo
O incumbido de dar explicações pelo presidente da República precisou mentir, para enfrentar o ponto essencial da
participação de Fernando
Henrique Cardoso na articulação de Luiz Carlos Mendonça de Barros e André Lara Resende para manipular a privatização da Telerj e mais 15 telefônicas. Logo, não é preciso
dizer mais nada sobre a impossibilidade de explicação do
presidente da República.
É suficiente registrar a mentira, na afirmação central do
ministro Pimenta da Veiga:
""Todos os telefonemas que o
presidente recebeu tinham a
finalidade de prestar informações genéricas" sobre a privatização. Essa foi a resposta de
Pimenta quando questionado
sobre a autorização de Fernando Henrique (""Não tenha
dúvida") para o uso de seu nome, pedido por Lara Resende,
em pressões que enfraquecessem um dos concorrentes e favorecessem outro.
Não foi um telefonema de informação, mas de deformação
ilegal da concorrência, por
ambos, e, por Fernando Henrique, do uso da autoridade de
presidente da República.
O Ministério Público Federal, que já concluiu pela ocorrência de manipulações no
preparo do leilão daquelas telefônicas, proporciona a compensação possível para a desesperança provocada pela
classe política. Mas a esta bastaria a omissão conduzida pelos senadores e deputados governistas. Foi um exagero abusivo o espetáculo de pequenez,
ainda mais pessoal do que político, oferecido ao longo do
dia. Como se política de governistas só pudesse ser praticada
em um mundo de anões morais.
É infindável a capacidade
desses senadores e deputados
de falar na necessidade de não
prejudicar o andamento das
reformas, numa suposta agenda positiva, no interesse nacional de não prejudicar a economia com questões políticas.
A decência pessoal e a probidade administrativa não entram na concepção de interesse nacional nem, ao menos, da
agenda positiva. Nenhum viu,
no diálogo tão preciso da gravação transcrita, a concordância de uso da autoridade da
Presidência da República para
forçar o deslocamento da Previ, rico fundo de pensão do
Banco do Brasil, de um consórcio para outro.
De todas as manifestações
que pude recolher no dia todo,
um só governista me proporciona a exceção de praxe. Do
senador Lúcio Alcântara, do
PSDB: o conteúdo das gravações transcritas ""denota uma
grande permissividade. Houve
pelo menos suspeita de negócio sujo"; e aquela, exposta nas
fitas, ""não seria a melhor conduta para um presidente num
negócio desses". Pelo menos no
primeiro momento, Lúcio Alcântara teve a melhor conduta
para um senador.
Pensando melhor, a atitude
dos governistas é até compreensível: há uma perfeita
adequação na fraudulência
explicada pela mentira.
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