São Paulo, Quarta-feira, 26 de Maio de 1999
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Itamar diz que há "promiscuidade"

CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local

O governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), acha que o caso do grampo revela uma "promiscuidade" entre setores do governo e interesses privados nacionais e internacionais e que cabe uma explicação pessoal do presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o assunto.
"A promiscuidade no caso das privatizações sobretudo está permitindo que se venda o país e seus interesses", afirmou Itamar ontem em São Paulo.
O resultado do grampo ressuscitou o tom oposicionista do discurso do antecessor de FHC, que negou pretender uma aproximação com o tucano. Itamar avaliou como "muito sério o envolvimento" do presidente da República no processo de privatizações e defendeu a apuração pelo Congresso e Ministério Público.
Embora tenha sido evasivo ao comentar a possibilidade de apoiar uma tentativa de impeachment de FHC, Itamar criticou o método adotado pelo presidente na privatização das teles.
"Uma autoridade não pode influenciar nem para aumentar o preço. Se for assim, não precisa de leilão. Basta fazer consultas pelo telefone", declarou o governador.
As revelações do grampo deram gás para o projeto de Itamar de evitar a privatização de Furnas. "O acordo com o FMI estabeleceu a venda de geradoras de energia. Querem entregar até os nossos rios e Minas vai resistir a isso", disse.
Falando ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem almoçou, Itamar cobrou explicações diretas de FHC, a quem apoiou na disputa presidencial de 94. "Essa gente deve se explicar ao país e isso não pode ser feito por porta-voz", afirmou.

PMDB
O dia oposicionista de Itamar em São Paulo começou com um discurso para cerca de 300 militantes do PMDB estadual arregimentados pelo ex-governador Orestes Quércia.
"Essa gente que está no governo quebrou o país e Minas hoje é o grande front de resistência à política econômica e social do presidente da República", discursou para os quercistas, que lançaram com Itamar e Paes de Andrade, ex-presidente nacional do partido, uma campanha por um "novo PMDB" .
O governador mineiro defendeu, mais uma vez, o afastamento imediato do PMDB do governo federal. Itamar se declarou favorável à criação de um "movimento" para combater FHC. "Vamos fazer isso no PMDB ou fora dele", afirmou.
Ovacionado pelo que restou do quercismo, Itamar comparou números de sua passagem pelo Palácio do Planalto com os ostentados pela administração tucana.
Permitiu-se até uma divergência pública com o anfitrião Quércia, que momentos antes definira o PT como "oposição consentida e o novo pelego da República".
Para o governador mineiro, na construção do movimento para enfrentar FHC não há lugar para vetos. Quércia investiu contra o governador Mário Covas (PSDB)."Só um bunda-mole como o Covas pode achar que as coisas vão bem no país", atacou.



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