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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/O PUBLICITÁRIO
Para movimentos sociais e radicais, gestão petista deu mais força aos conservadores e está enfraquecendo ala progressista
Militantes vêem governo "despetizado"
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO
A saída do governo de José Dirceu, elevado à condição de neoaliado pelo MST, e o esperado encolhimento do PT no governo
com a reforma ministerial acenderam a luz vermelha nos movimentos sociais, entre radicais e na
militância do partido, que avaliam estar perdendo a guerra contra a "ala conservadora".
Na terça-feira da semana passada, 43 entidades e movimentos,
entre eles a CUT (Central Única
dos Trabalhadores) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), esboçaram uma
tentativa de reação à onda de denúncias que abala o governo.
A inspiração, genérica, é a aliança feita na Venezuela pelo presidente Hugo Chávez com movimentos sociais, contra as chamadas "elites empresariais".
Em documento intitulado "Carta ao Povo Brasileiro", as entidades manifestam-se contrárias "a
qualquer tentativa de desestabilização do governo, patrocinada
pelos setores conservadores".
Em outro ponto, escrevem: "De
olho nas eleições de 2006, as elites
iniciaram, através dos meios de
comunicação, uma campanha
para desmoralizar o governo".
No ato de lançamento da "Carta", João Pedro Stédile, coordenador nacional do MST, disse que
Lula deveria aproveitar o momento de crise política para "fazer
do limão azedo uma limonada" e
defendeu uma "limpeza nos ministérios que não estão claramente comprometidos com o povo".
Pareceu que daria certo. No
mesmo dia, discursando para trabalhadores rurais, Lula fez eco ao
MST e desqualificou as denúncias
envolvendo seu governo. Chamando-as de "bobagens", o presidente disse que eram motivadas
pelo "medo" de sua reeleição.
Durou pouco. Na quinta-feira,
em pronunciamento em rede TV,
Lula recuou: "Se houver gente que
tenha cometido desvios de conduta, usarei toda a força da Lei".
Na sexta, confirmou a progressiva
"despetização" do governo, oferecendo ministérios ao PMDB.
"O presidente Lula precisa de
governabilidade social, mais importante do que as alianças com
partidos políticos que vem fazendo", afirma João Paulo Rodrigues,
da coordenação nacional do MST.
Ministros demonizados
Na mesma linha vai a esquerda
petista. "Lula chegou ao poder em
condições muito melhores do que
as de Chávez para peitar o conservadorismo. O PT é um partido estruturado e com relação forte com
movimentos sociais, mas as alianças impedem o avanço", afirma o
deputado Ivan Valente (PT-SP).
Para o MST, o governo Lula é
um governo em disputa. Demonizados pelo movimento estão cinco ministros: Antônio Palocci
(Fazenda), Roberto Rodrigues
(Agricultura), Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento), Henrique Meirelles (Banco Central) e
Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação). Do outro lado, na
análise dos sem-terra, está José
Dirceu, identificado como pólo de
resistência à política econômica.
"O núcleo conservador do governo continua firme, enquanto o
Dirceu, que era o símbolo da ala
progressista, teve de sair", declara
Rodrigues.
O descontentamento dos movimentos sociais contamina até correntes moderadas do partido, como a "PT de Luta e de Massa",
que apóia a recondução de Genoíno à presidência do PT, em setembro, quando será escolhida a
nova direção partidária.
Presidente do Diretório Zonal
da Capela do Socorro, com 7.500
filiados, e membro do "PT de Luta
e de Massa", Glauco Piai acha que
está em curso uma operação de
"sanitização" do governo.
Ele lembra que, em 1992, o publicitário Duda Mendonça, então
a serviço de Paulo Maluf, criou
um slogan contra a candidatura
de Eduardo Suplicy à prefeitura
de São Paulo que dizia: "Não temos nada contra o Suplicy, só não
queremos o PT mandando aqui".
"É a mesma coisa agora: a elite até
engole o Lula, mas não quer o PT
mandando. Por isso exige do presidente a despetização."
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