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PRECATÓRIOS
Solução montada pelo Senado seria desvantajosa para o Tesouro, afirma o secretário Eduardo Guimarães
Governo volta atrás em socorro a Estados
da Sucursal de Brasília
O governo recuou e desistiu de
socorrer os Estados e municípios
que lançaram títulos irregularmente para pagar supostos precatórios (dívidas oriundas de ações
judiciais).
A decisão inviabiliza a proposta
para rolagem de cerca de R$ 2 bilhões desses títulos aprovada na
terça pelo Senado, com apoio da
bancada governista, e ameaça tornar inadimplentes os Estados de
Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina e os municípios paulistas de
Campinas, Guarulhos e Osasco.
A proposta aprovada no Senado
visava contornar uma resolução
dos senadores tomada em 1998, a
qual impedia a rolagem dos papéis
investigados pela CPI dos Precatórios entre 1996 e 1997.
A CPI havia concluído que houve
operações fraudulentas e, em alguns casos, nem sequer havia dívidas judiciais que justificassem a
emissão dos papéis investigados.
Mas, como os títulos estão vencendo e Estados e municípios envolvidos não têm recursos para pagá-los, o Senado decidiu aprovar
uma medida de socorro.
No total, há R$ 8,945 bilhões desses papéis no mercado, segundo
dados do Banco Central referentes
a fevereiro passado.
Mas para que o socorro funcionasse, era vital o aporte de recursos
do Tesouro. A decisão tomada pelo Senado afirma que o Tesouro
poderia refinanciar os títulos emitidos irregularmente. Mas, para
tanto, os Estados e municípios envolvidos deveriam questionar na
Justiça a emissão dos papéis.
O Tesouro faria depósitos judiciais no valor refinanciado, e o dinheiro só seria liberado para os
credores quando a Justiça desse
sua palavra final.
Ontem, o secretário do Tesouro,
Eduardo Guimarães, anunciou
que não participa da solução montada pelo Senado.
A Folha apurou que o governo
voltou atrás por considerar que o
texto final aprovado pelo Senado
deixava o Tesouro em risco.
Isso porque os precatórios poderiam ser considerados ilegais pela
Justiça, o que faria com que o prejuízo ficasse totalmente com o Tesouro.
Mas o governo continua disposto a negociar a rolagem da dívida
dos precatórios, desde que em
condições diferentes da aprovada
pelo Senado.
"A União não tem nenhum conforto em fazer um financiamento
de algo que está sendo discutido na
Justiça", disse Guimarães.
Segundo ele, o financiamento do
Tesouro só sai depois que a Justiça
decidir pela legalidade dos papéis.
O secretário afirmou que a solução apresentada pelo Senado é
desvantajosa para o Tesouro.
De acordo com Guimarães, o governo teria de emitir títulos para
fazer os depósitos judiciais, pagando a taxa Selic (os juros fixados pelo Banco Central). Em contrapartida, os depósitos judiciais seriam
remunerados pela TR (Taxa Referencial), a mesma da caderneta de
poupança, historicamente mais
baixa que a Selic.
O senador José Fogaça (PMDB-RS), relator do projeto que autorizou a rolagem de dívidas de precatórios, disse ontem que ficou surpreso com o anúncio feito pelo secretário do Tesouro.
Segundo Fogaça, o governo sempre manifestou interesse na rolagem das dívidas mobiliárias de Estados e municípios que emitiram
títulos irregularmente e foram investigados pela CPI.
O senador afirmou, porém, que a
área econômica do governo já havia anunciado que teria "dificuldades técnicas" para fazer os depósitos em juízo das dívidas de títulos
com validade pendente.
Banco do Brasil
O Banco do Brasil seria um dos
possíveis perdedores com a solução montada pelo Senado. O BB é
credor de cerca de R$ 5 bilhões em
títulos do município de São Paulo.
A CPI concluiu que 76,6% dos títulos emitidos são irregulares.
Pela resolução, a prefeitura seria
obrigada a questionar a dívida na
Justiça. O BB não receberia os valores no vencimento e seria obrigado
a lançar os títulos como prejuízo.
O presidente do Banco do Brasil,
Andrea Calabi, está fazendo gestões no Senado em uma tentativa
de modificar a norma.
Uma perda próximo de R$ 5 bilhões consumiria a maior parte do
patrimônio líquido (dinheiro investido no banco pelo Tesouro e
demais acionistas) do BB, que é de
R$ 6,631 bilhões.
Guimarães evitou comentar a hipótese de o Tesouro injetar recursos no BB. "A resolução ainda não
foi promulgada pelo Senado."
O Banco do Brasil poderia ter
perdas ainda maiores com papéis
do Estado do Rio de Janeiro.
O BB tem cerca de R$ 10 bilhões
em títulos fluminenses, que poderão perder valor se parte da dívida
não for rolada.
A CAE (Comissão de Assuntos
Econômicos) do Senado, que analisa o caso, recebeu do Banco Central um parecer contrário à operação do governo do Rio.
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