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Europa não cede em açúcar, cereal e carne
do enviado especial
e da Sucursal do Rio
Se já é difícil extrair concessões
da União Européia na área agrícola, em pelo menos três linhas de
bens o Mercosul pode desistir:
açúcar, cereais e carne bovina.
É pelo menos o que prevê o vice-presidente da Comissão Européia,
o espanhol Manuel Marín, para
quem essas três áreas são especialmente "sensíveis" para países europeus.
Aliás, a UE tem argumentos numéricos para demonstrar que,
apesar da elevadíssima proteção
que oferece a seus agricultores, "há
uma significativa assimetria favorável ao Brasil" justamente no comércio de produtos agrícolas e alimentares, conforme diz o Eurostat, o setor de estatísticas.
De fato, em 1997 (último ano em
que há dados disponíveis nessa
área), os europeus compraram do
Brasil 5,719 bilhões de euros (o que
hoje daria algo em torno de US$ 6
bilhões). Venderam apenas 604
milhões de euros (ou cerca de US$
634 milhões).
O saldo é, portanto, de 5,115 bilhões de euros (veja quadro acima).
Mais: só os Estados Unidos superam o Brasil na venda de produtos
agrícolas e alimentares à UE.
Como comprador, no entanto, o
Brasil é o 17º mercado para a produção européia.
É com números como esses que
os europeus lembram que a negociação com o Mercosul não é uma
via de mão única em que apenas a
Europa faça concessões.
Por isso, o chanceler Luiz Felipe
Lampreia lembrava ontem: "Não
vamos fazer só o que interessa a
nós. Temos que discutir também o
que interessa a eles".
Ou posto de outra forma: superada a onda em torno da resistência
européia a negociar a parte agrícola, é o momento de o Brasil (e o
Mercosul) decidir o que pode ceder na mesa de negociação para
que um eventual acordo seja, como diz Lampreia, "razoável e equilibrado".
Para os europeus, interessa, é óbvio, maior acesso ao mercado de
bens industriais e serviços.
Menos óbvio é o interesse europeu em que o Mercosul se torne
mais parecido com a UE em termos institucionais.
Um exemplo citado por Marín,
com a cautela de ressalvar que a
UE não pretende que o Mercosul
simplesmente copie suas regras: a
Europa tem um mecanismo de resolução de controvérsias comerciais comum a todos os seus 15 países membros. Uma decisão a respeito vale para todos.
Já, no Mercosul, não há esse mecanismo, necessário, sempre segundo Marín, para que as empresas européias sintam "uma garantia jurídica" para fazer negócios
com o bloco, em vez de conduzi-los país a país.
(CLÓVIS ROSSI E CRISTINA GRILLO)
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