São Paulo, Sábado, 26 de Junho de 1999
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Europa não cede em açúcar, cereal e carne

do enviado especial

e da Sucursal do Rio

Se já é difícil extrair concessões da União Européia na área agrícola, em pelo menos três linhas de bens o Mercosul pode desistir: açúcar, cereais e carne bovina.
É pelo menos o que prevê o vice-presidente da Comissão Européia, o espanhol Manuel Marín, para quem essas três áreas são especialmente "sensíveis" para países europeus.
Aliás, a UE tem argumentos numéricos para demonstrar que, apesar da elevadíssima proteção que oferece a seus agricultores, "há uma significativa assimetria favorável ao Brasil" justamente no comércio de produtos agrícolas e alimentares, conforme diz o Eurostat, o setor de estatísticas.
De fato, em 1997 (último ano em que há dados disponíveis nessa área), os europeus compraram do Brasil 5,719 bilhões de euros (o que hoje daria algo em torno de US$ 6 bilhões). Venderam apenas 604 milhões de euros (ou cerca de US$ 634 milhões).
O saldo é, portanto, de 5,115 bilhões de euros (veja quadro acima).
Mais: só os Estados Unidos superam o Brasil na venda de produtos agrícolas e alimentares à UE.
Como comprador, no entanto, o Brasil é o 17º mercado para a produção européia.
É com números como esses que os europeus lembram que a negociação com o Mercosul não é uma via de mão única em que apenas a Europa faça concessões.
Por isso, o chanceler Luiz Felipe Lampreia lembrava ontem: "Não vamos fazer só o que interessa a nós. Temos que discutir também o que interessa a eles".
Ou posto de outra forma: superada a onda em torno da resistência européia a negociar a parte agrícola, é o momento de o Brasil (e o Mercosul) decidir o que pode ceder na mesa de negociação para que um eventual acordo seja, como diz Lampreia, "razoável e equilibrado".
Para os europeus, interessa, é óbvio, maior acesso ao mercado de bens industriais e serviços.
Menos óbvio é o interesse europeu em que o Mercosul se torne mais parecido com a UE em termos institucionais.
Um exemplo citado por Marín, com a cautela de ressalvar que a UE não pretende que o Mercosul simplesmente copie suas regras: a Europa tem um mecanismo de resolução de controvérsias comerciais comum a todos os seus 15 países membros. Uma decisão a respeito vale para todos.
Já, no Mercosul, não há esse mecanismo, necessário, sempre segundo Marín, para que as empresas européias sintam "uma garantia jurídica" para fazer negócios com o bloco, em vez de conduzi-los país a país.
(CLÓVIS ROSSI E CRISTINA GRILLO)


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