|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA
Aditivos que aumentaram em R$ 20 mi custos e compra de móveis serão apurados
Procuradoria investigará, de novo, obra do TRT de SP
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Passados cinco anos do escândalo das fraudes na construção do
fórum do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São Paulo,
que culminou na prisão, em 2000,
do ex-presidente Nicolau dos
Santos Neto, novamente a obra é
alvo de uma investigação do Ministério Público Federal.
Os procuradores abriram procedimento investigatório para
apurar 12 aditivos que garantiram
à empreiteira OAS R$ 20 milhões
a mais do que o previsto na licitação da conclusão da obra. Com os
aditivos, a obra pulou de R$ 54,9
milhões para R$ 75,2 milhões
-38% a mais. A pedido dos procuradores, uma equipe de engenheiros civis da Caixa Econômica
Federal fará um pente-fino nos
aditivos. Papéis já foram encaminhados pelo TRT.
Os procuradores têm pelo menos dois focos: uma auditoria do
TCU (Tribunal de Contas da
União), que apontou várias irregularidades na obra, e depoimentos de servidores do TRT que, intimados pelo MPF, revelaram que
a atual gestão do tribunal dificultou o trabalho dos engenheiros,
exonerou e remanejou vários deles, esvaziando o setor.
Os aditivos foram autorizados
na gestão da atual presidente, Maria Aparecida Pellegrina. Na sexta,
ela foi citada formalmente pelo
STJ (Superior Tribunal de Justiça)
por outra acusação do Ministério
Público, sobre supostas irregularidades na aquisição de móveis.
Pellegrina foi acusada, em maio,
pela subprocuradora-geral Aurea
Maria Pierre, de prevaricação (retardar, deixar de fazer ato ou agir
contra ação do ofício em benefício próprio) e de desobediência à
lei das licitações. Teria participado de direcionamento na licitação, de R$ 3,7 milhões.
Na denúncia sobre os móveis, à
qual a Folha teve acesso, são relatadas dúvidas do Serviço de Engenharia do TRT sobre os aditivos.
Revelou também medidas de Pellegrina contra o serviço.
O serviço foi quase desmantelado: passou de 14 para cinco servidores -um arquiteto foi transferido para a biblioteca, engenheiros civis acabaram em varas, registros e autuações.
A fiscalização foi feita também
por funcionários indicados pelo
Banco do Brasil. O principal deles,
Joaquim Andrade Filho, foi nomeado na semana passada para
um cargo em comissão no tribunal, após se aposentar pelo BB.
"No 2º semestre de 2003, para a
inauguração do fórum, houve o
afastamento do Serviço de Engenharia", diz a denúncia. A obra,
prevista para agosto de 2004, foi
acelerada e entregue em março.
Segundo a procuradora, "a diretora de engenharia do tribunal,
assim como o diretor de apoio administrativo, respectivamente
Adriana Marcelino Carvalho e
Cesar Gilli, não concordando com
as providências adotadas, foram
exonerados em junho de 2003".
As "providências" citadas por
Áurea foram perfurações feitas
pela OAS no prédio que, para os
engenheiros, estavam desautorizadas e seguiam o layout de uma
das empresas de móveis que disputariam a licitação.
O Serviço de Engenharia foi
criado em 98 por causa do escândalo do juiz Nicolau -quando
foram desviados R$ 169 milhões:
como o tribunal não notou as irregularidades? O órgão não possuía equipe especializada.
Cesar Gilli, um dos servidores
ouvidos pelo MPF no inquérito
dos móveis, coordenou a investigação interna que apontou irregularidades na época de Nicolau.
Em 2003, ele assumiu a execução
da obra de conclusão, até ser exonerado, em junho. Em depoimento, Gilli manifesta estranheza a
respeito dos aditivos concedidos.
No cargo, ele represou os pedidos
da empreiteira. Gilli diz que as
empresas que participaram da
concorrência em 2003 foram advertidas a apresentar uma proposta global. "Realizei audiência
pública na qual levei ao conhecimento dos interessados que o futuro contrato não admitiria aditamentos", diz o depoimento.
Auditoria
Segundo auditoria da obra do
TCU, de março último, "diversos
serviços apresentam preços unitários muito superiores à mencionada referência de mercado". O
relatório apontou que a taxa de
BDI (Bonificações de Despesas
Indiretas) usada nos aditivos era
diferente da indicada na da licitação. Saiu de 20% para 21,30%. Foi
usado o percentual de 178,44%
nos encargos sociais. Para o tribunal, o índice é 126,78%". O TCU
não esclareceu qual o impacto das
alterações no valor dos aditivos.
Texto Anterior: Em e-mail, espião disse que o papai do céu o protegia Próximo Texto: Outro lado: Presidência do TRT nega reter dados de obra Índice
|