São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Retiradas de beneficiários identificados pela CPI dos Correios já ultrapassam R$ 35 milhões

CPI identifica sacadores de mais R$ 9,6 mi de Valério

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Correios identificou novos saques e transferências milionários nas contas de empresas das quais o publicitário mineiro Marcos Valério de Souza é sócio.
As transações, destinadas a duas empresas, duas associação de juízes, uma associação de organizações não governamentais e uma frente de prefeitos, somam pelo menos R$ 9,6 milhões.
Com isso, as retiradas das empresas de Marcos Valério com beneficiários já identificados ultrapassam R$ 35 milhões.
A Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações Ltda., cujo endereço anotado no banco é o de uma galeria na avenida São Luiz, na região central de São Paulo, retirou mais de R$ 6 milhões em 2003. Os saques foram feitos por meio de cheques nominais, na agência do Banco Rural em Brasília.
A CPI também localizou ontem o primeiro dos grandes depósitos feitos na conta da DNA Propaganda no Banco do Brasil.
A empresa de telefonia Telemig Celular, de Minas Gerais, controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, depositou cerca de R$ 13 milhões na conta da agência.
A Telemig é cliente da DNA mas, mesmo assim, os pagamentos feitos pela companhia telefônica foram descritos em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) como "operações atípicas".
O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) e o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), integrantes da comissão, desconfiam das transferências para a Guaranhuns. "É a terceira maior beneficiária de saques da agência de Marcos Valério e vamos ter de identificar quem é quem", afirmou ACM Neto.

Maiores saques
Até ontem, os maiores saques identificados nas contas das empresas de Marcos Valério eram os realizados pela diretora financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, que retirou R$ 6,1 milhões, e pelo policial civil Davi Rodrigues Alves, que sacou R$ 4,9 milhões.
Além disso, novas movimentações bancárias da corretora Bonus-Banval, de São Paulo, onde trabalhou a filha do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), complicam ainda mais a situação do parlamentar.
Ele é acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de participar do "mensalão".
O Coaf já havia identificado um saque de R$ 255 mil da conta da DNA Propaganda, em 10 de setembro de 2004, feito por Benoni Nascimento de Moura, funcionário da corretora onde trabalhou Michelle Kremmer Janene.
Agora, dados do Banco Rural demonstram que a corretora foi destinatária de R$ 2,940 milhões da 2S Participações. Segundo relatório do Coaf, a 2S movimentou R$ 26,4 milhões em cerca de dois anos. A empresa foi montada em nome de funcionários de Valério e seu capital é de R$ 1.000. Em 2004, a movimentação de seu caixa foi de R$ 20,2 milhões.
A maioria dos transações financeiras envolvendo a Bonus-Banval e a 2S Participações aconteceu em maio do ano passado. Das cinco operações, quatro foram registradas nesse mês e uma em fevereiro do mesmo ano.

Entidades
Segundo parlamentares que tiveram acesso aos documentos, a Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) recebeu R$ 500 mil da DNA Propaganda na conta do Banco do Brasil.
A Frente Nacional de Prefeitos recebeu, em 7 de janeiro deste ano, uma transferência da DNA no valor de R$ 90,5 mil. O responsável pela organização é o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB).
A DNA também repassou R$ 70 mil para a Ajufer (Associação de Juízes Federais da 1ª Região) e R$ 140 mil para o Instituto dos Magistrados do Distrito Federal, segundo os parlamentares que analisaram os documentos.


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