|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE
Em 2004, trabalhador ficou nacionalmente conhecido ao devolver carteira com US$ 10 mil achada em banheiro do aeroporto de Brasília
Lula recorre a gesto de faxineiro em discurso
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva recorreu ao faxineiro Francisco Cavalcante -que se tornou
um símbolo de honestidade ao
encontrar e devolver, num aeroporto, uma carteira recheada de
dólares-, para dizer que os avanços dos investimentos estão atrelados à diminuição da corrupção.
Ontem pela manhã, durante visita às obras de ampliação do aeroporto internacional de Brasília,
Lula reencontrou Francisco Basílio Cavalcante, 57. Em 2004, Cavalcante ficou conhecido ao devolver uma carteira com US$ 10
mil que havia encontrado em um
banheiro do aeroporto.
"Vocês percebem que gestos como esse engrandecem a figura humana, engrandecem o ser humano. Porque nós estamos percebendo, com todas as denúncias
que acontecem no Brasil, que se
nós tivéssemos 180 milhões de
Franciscos, certamente o dinheiro
do Brasil daria para a gente fazer
muito mais coisas para o povo pobre deste país, do que se as pessoas levarem [sic] dinheiro", afirmou o presidente.
Francisco Cavalcante, que após
a fama foi promovido de faxineiro
a supervisor de limpeza do aeroporto de Brasília e já foi recebido
por Lula no Palácio do Planalto,
foi chamado ao palanque pelo
presidente, que lhe deu as mãos
enquanto discursava.
"Por isso, meu querido [Francisco], prazer em te encontrar
aqui mais bonito do que o dia em
que eu te vi, mais elegante. Você é
um exemplo de brasileiro, um
exemplo de ser humano."
Por 20 minutos, Lula discursou
de improviso a cerca de 400 operários que trabalham nas obras do
aeroporto Juscelino Kubitschek.
A expectativa do Planalto, que em
meio à crise tem organizado uma
chamada agenda positiva do presidente, era que Lula fosse recebido por 1.200 trabalhadores.
Ontem, em seu discurso, Lula
falou de emprego, agricultura familiar, turismo, saneamento básico, família e educação. Porém só
arrancou aplausos dos operários
quando chamou Francisco Cavalcante ao palanque.
A estratégia da Presidência,
além de encher a agenda com viagens, tem sido atrair Lula para
eventos nos quais é ovacionado e
tratado em clima eleitoral. Foi assim nas últimas semanas com
sem-terra, sindicalistas, metalúrgicos, petroleiros e caminhoneiros. Ontem, porém, diante de
operários, a tática não funcionou.
Durante o discurso do presidente, os trabalhadores ficaram
dispersos, no aguardo do café da
manhã servido uma hora depois
do combinado por conta do atraso da comitiva de Lula. Até o presidente reclamou ao abrir sua fala:
"Primeiro, eu fui convidado para
vir aqui tomar café e, até agora,
café que é bom, nada".
Diante desse clima, numa tenda
erguida no local, Lula também se
conteve nas palavras, gesticulando pouco e mantendo sempre um
tom de voz ameno, ao contrário
do que ocorreu na semana passada no Rio de Janeiro, por exemplo, quando falou a funcionários
da Petrobras. Ontem, no lugar de
empurra-empurra e gritos de
"Lula outra vez", viu-se somente
alguns operários tirando fotos do
presidente.
Antes da fala, Lula visitou as
obras de um viaduto que será erguido para a finalização de uma
nova pista do aeroporto. Ao lado
de meia dúzia de operários, Lula
posou para fotos num pequeno
palanque erguido à beira de
imenso buraco enlameado.
Texto Anterior: Mala suspeita: Imagens podem comprovar quem entregou dinheiro a petista, diz PF Próximo Texto: Hoje é Lula que quer estar a meu lado, diz faxineiro Índice
|