São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Em 2004, trabalhador ficou nacionalmente conhecido ao devolver carteira com US$ 10 mil achada em banheiro do aeroporto de Brasília

Lula recorre a gesto de faxineiro em discurso

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu ao faxineiro Francisco Cavalcante -que se tornou um símbolo de honestidade ao encontrar e devolver, num aeroporto, uma carteira recheada de dólares-, para dizer que os avanços dos investimentos estão atrelados à diminuição da corrupção.
Ontem pela manhã, durante visita às obras de ampliação do aeroporto internacional de Brasília, Lula reencontrou Francisco Basílio Cavalcante, 57. Em 2004, Cavalcante ficou conhecido ao devolver uma carteira com US$ 10 mil que havia encontrado em um banheiro do aeroporto.
"Vocês percebem que gestos como esse engrandecem a figura humana, engrandecem o ser humano. Porque nós estamos percebendo, com todas as denúncias que acontecem no Brasil, que se nós tivéssemos 180 milhões de Franciscos, certamente o dinheiro do Brasil daria para a gente fazer muito mais coisas para o povo pobre deste país, do que se as pessoas levarem [sic] dinheiro", afirmou o presidente.
Francisco Cavalcante, que após a fama foi promovido de faxineiro a supervisor de limpeza do aeroporto de Brasília e já foi recebido por Lula no Palácio do Planalto, foi chamado ao palanque pelo presidente, que lhe deu as mãos enquanto discursava.
"Por isso, meu querido [Francisco], prazer em te encontrar aqui mais bonito do que o dia em que eu te vi, mais elegante. Você é um exemplo de brasileiro, um exemplo de ser humano."
Por 20 minutos, Lula discursou de improviso a cerca de 400 operários que trabalham nas obras do aeroporto Juscelino Kubitschek. A expectativa do Planalto, que em meio à crise tem organizado uma chamada agenda positiva do presidente, era que Lula fosse recebido por 1.200 trabalhadores.
Ontem, em seu discurso, Lula falou de emprego, agricultura familiar, turismo, saneamento básico, família e educação. Porém só arrancou aplausos dos operários quando chamou Francisco Cavalcante ao palanque.
A estratégia da Presidência, além de encher a agenda com viagens, tem sido atrair Lula para eventos nos quais é ovacionado e tratado em clima eleitoral. Foi assim nas últimas semanas com sem-terra, sindicalistas, metalúrgicos, petroleiros e caminhoneiros. Ontem, porém, diante de operários, a tática não funcionou.
Durante o discurso do presidente, os trabalhadores ficaram dispersos, no aguardo do café da manhã servido uma hora depois do combinado por conta do atraso da comitiva de Lula. Até o presidente reclamou ao abrir sua fala: "Primeiro, eu fui convidado para vir aqui tomar café e, até agora, café que é bom, nada".
Diante desse clima, numa tenda erguida no local, Lula também se conteve nas palavras, gesticulando pouco e mantendo sempre um tom de voz ameno, ao contrário do que ocorreu na semana passada no Rio de Janeiro, por exemplo, quando falou a funcionários da Petrobras. Ontem, no lugar de empurra-empurra e gritos de "Lula outra vez", viu-se somente alguns operários tirando fotos do presidente.
Antes da fala, Lula visitou as obras de um viaduto que será erguido para a finalização de uma nova pista do aeroporto. Ao lado de meia dúzia de operários, Lula posou para fotos num pequeno palanque erguido à beira de imenso buraco enlameado.


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