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QUESTÃO AGRÁRIA
Cartório fornece a três empresas certidões de áreas sobrepostas, que na verdade são da União
Pará tem fraude em registros de terras
LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém
Registros de propriedade fornecidos pelo cartório do 1º Ofício de
Altamira (PA) para três empresas
diferentes mostram a sobreposição de áreas rurais, que na verdade pertencem à União.
Pela análise dos documentos,
fazendas que foram compradas
pelas empresas Teka Tecelagem
Kuehnrich (de Blumenau), Aços
Macon (de São Paulo) e C.R.Almeida (de Curitiba) estariam localizadas em áreas que fazem parte da Floresta Nacional de Altamira e da gleba Jamaxim, ambas terras da União.
O Ministério Público Federal
desenhou, com base nos dados
fornecidos pelos registros, um
mapa mostrando a sobreposição
de áreas (veja quadro ao lado).
Certidões
A Agência Folha teve acesso às
certidões. Em dois documentos,
lavrados pelo mesmo cartório,
parte das coordenadas geográficas chega a ser descrita com as
mesmas palavras e números.
Esses documentos têm a mesma data e são assinados pela mesma pessoa, a tabeliã Eugênia Silva
de Freitas. Procurada pela Agência Folha, ela não quis falar sobre
o assunto.
Assim, dentro das terras reivindicadas pela empresa C.R.Almeida, do empreiteiro Cecílio do Rego Almeida, com 4,7 milhões de
hectares, estão contidas as terras
compradas pela Teka Tecelagem,
de Blumenau (SC), de 70.520 hectares. Dentro das terras da Teka
está parte da área adquirida pela
empresa Aços Macon, de Guarulhos (SP), de 20.230 hectares.
Reforma agrária
Segundo o Procurador da República Felício Pontes Júnior, outras 14 empresas e pessoas físicas
teriam registros irregulares emitidos pelo mesmo cartório.
O Ministério Público Federal
pediu à Corregedoria do Tribunal
de Justiça do Estado a intervenção
no cartório de Altamira e o afastamento da tabeliã.
Felício Pontes Júnior afirmou
que a maioria dos documentos
fraudados pode ter sido utilizada
para a venda de imóveis à própria
União.
A maioria desses registros foi lavrada em 1997. Na época, existia
uma medida provisória, que acabou não sendo reeditada, permitindo o abatimento de dívidas
com o INSS (Instituto Nacional
do Seguro Social) para empresas
que vendessem ao Incra terras para fins de reforma agrária.
O processo da Teka Tecelagem
foi o que mais perto chegou da
conclusão.
No segundo semestre do ano
passado, o Ministério de Política
Fundiária descobriu um superfaturamento nas avaliações das
propriedades rurais e brecou o
processo a tempo.
As fazendas São Pedro 2, São
Félix e São Sebastião, adquiridas
pela Teka por R$ 725 mil, receberam avaliações de até R$ 90 milhões.
Punição
A descoberta da superavaliação
levou ao afastamento de quatro
funcionários do Incra de seus cargos -entre eles o então superintendente do Incra, Hermedes Miranda, que hoje atua em Tocantins como procurador do órgão.
O então administrador do escritório do Incra em Altamira, Dino
Getúlio Barile, autor de uma das
avaliações, foi exonerado.
A Polícia Federal foi acionada e
19 inquéritos foram abertos.
A delegada Maria das Graças
Malheiros Monteiro, de Santarém
(PA), pretende chegar aos verdadeiros autores das fraudes rastreando os documentos e as pessoas envolvidas.
"Ainda é cedo para dizer quem
realmente é responsável pelas falsificações", afirma a delegado.
Suspeitos
Os suspeitos são muitos. Em junho, a Justiça autorizou a quebra
de sigilo bancário de seis pessoas
envolvidas na venda das terras à
Teka. A Agência Folha apurou
que algumas dessas pessoas são
funcionários do Incra.
A Polícia Federal pretende investigar se as pessoas e empresas
que teriam vendido as terras existem ou são "laranjas".
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