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FOLCLORE POLÍTICO
De leões e coelhos
JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO
Roberto Magalhães ainda
era governador, no começo de
1986. Mas já preparava sua candidatura ao Senado. Roberto
sempre foi de uma franqueza rude. Com todo mundo. E sua cara
feia era feia como a cara feia de
todos os grandes personagens da
vida pública de Pernambuco, Virgulino Ferreira (Lampião), Luiz
Gonzaga, Miguel Arraes, Jarbas
Vasconcelos. Além de seu tio Agamenon Magalhães, claro.
As diferenças entre seu comportamento luterano e a alegria de
viver de seu vice, o poeta e ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause, eram enormes. Mas sempre se
deram bem. Uma vez, Roberto
apresentava sua equipe a Tancredo e Ulisses. Krause chegou atrasado, camisa branca aberta no
peito, cinto branco, calça branca
com bolso nas pernas, mocassim
branco, sem meia, Cohiba na
mão. E Roberto: "Esse é meu vice". Depois, virando-se para Tancredo, disse alto, para todo mundo ouvir, que "hoje, para astronauta, falta só o capacete".
Naquele dia, já acordou cuspindo fogo. Que fugiu da prisão o
major Ferreira, condenado por
ter matado o procurador da República Pedro Jorge. Indignação
coletiva. Muitos consideravam o
governo culpado pela fuga. E Roberto preocupado com a eleição.
Pensando que nada de pior lhe
poderia acontecer. Estava enganado. Fim da manhã, chegou a
notícia terrível: fugiu do zoológico
um leão perigosíssimo.
As informações eram de que o
tal leão iria destroçar o primeiro
ser humano com que cruzasse.
Roberto convocou seu secretário
dos Transportes, José Múcio Monteiro (hoje deputado federal pelo
PSDB). Que, no palácio, era quase
primeiro-ministro. E Roberto pediu que ele fosse prender o dito
leão. Urgente.
Foi quando José Múcio disse:
"Governador, estão na minha sala Osvaldo Coelho [deputado federal", Geraldo Coelho [deputado
estadual", Adalberto Coelho, José
Coelho e Paulo Coelho". Todos
conhecidos pela intransigência
com que defendem os interesses
de Petrolina. Pensando bem, intransigência é até pouco. E José
Múcio completou: "É brabo por
brabo, governador. Eu cuido do
leão e o senhor cuida dos coelhos".
Roberto então pensou, pensou e
encerrou a conversa: "Prefiro o
leão".
P.S.: O major Ferreira foi depois
preso, cumprindo pena em Itamaracá. O leão vive dormindo, no
zoológico. Mas Roberto acabou
perdendo sua eleição de senador.
José Paulo Cavalcanti Filho, 54, advogado, escreve às segundas nesta coluna
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