São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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30% do Senado vê indício para cassar Renan

Foram ouvidos 67 parlamentares; 13 deles responderam que agravantes ainda são insuficientes para a perda do mandato

Em enquete feita pela Folha com as mesmas perguntas há dois meses, nenhum dos senadores afirmou haver elementos para a cassação

MARIA LUIZA RABELLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Às vésperas da votação do processo no Conselho de Ética, pelo menos 24 dos 67 senadores (35,8%) ouvidos pela Folha afirmaram que há indícios suficientes para cassar o mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros, por quebra do decoro. Esse número representa 29,63% da casa.
A Folha ouviu 67 dos 81 senadores entre quinta e sexta, depois da entrega da perícia da Polícia Federal feita nos documentos de Renan. Desses, dez disseram estar indecisos sobre o caso e 13 defenderam que os agravantes são insuficientes para cassar o senador. Outros 20 se recusaram a responder aos questionamentos.
Treze senadores não foram localizados, sendo que três estavam em viagem ao exterior -Mão Santa (PMDB-PI), Serys Slhessarenko (PT-MT) e Edison Lobão (DEM-MA). Renan Calheiros não foi procurado.
Os senadores foram ouvidos com o compromisso de sigilo das respostas. O argumento deles é que a divulgação de suas posições poderia prejudicar o futuro julgamento do caso no plenário. Alguns se manifestaram abertamente. A votação em plenário é secreta.
Três perguntas foram feitas pela reportagem aos senadores: 1) o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deveria se afastar do cargo durante o processo?; 2) já há elementos suficientes para a cassação do mandato dele?; 3) se ele deixar o posto, quem deveria sucedê-lo?

Comparação
O resultado da sondagem mostra que cresceu o número de parlamentares que já têm opinião formada sobre o caso.
Há dois meses, a Folha fez exatamente as mesmas perguntas aos senadores. Na ocasião, foram ouvidos 70 senadores e nenhum dizia haver elementos suficientes para cassar Renan.
O número de senadores que se recusaram a responder e o de indecisos também sugere um cenário de intensas negociações nos bastidores pelo futuro político de Renan. A previsão é que o primeiro dos três processos que enfrenta seja votado no dia 30 no conselho. Ele é acusado de ter despesas pagas por um lobista ligado à construtora Mendes Júnior.
Ao longo dos últimos dois meses, surgiram novas denúncias contra o presidente do Senado, como o suposto uso de laranjas numa sociedade em rádios de Alagoas, a suspeita de que o senador atuou para beneficiar a cervejaria Schincariol e, recentemente, empréstimos não-declarados com uma locadora de veículos que tinha entre suas principais fontes de renda a prestação de serviço a órgãos públicos.
Sobre a primeira pergunta, que questionava a permanência do alagoano na presidência da Casa, 36 parlamentares (53,7%) defenderam que Renan deveria se licenciar do cargo. Ao menos 15 já pediram publicamente sua saída do cargo.
"O grande erro foi ele ter permanecido no cargo, ele errou muito na condução", disse Raimundo Colombo (DEM-SC).
Outros 13 senadores rechaçaram a idéia de Renan se afastar do posto agora. E 18 não se pronunciaram. "As coisas já estão consumadas, acho que ele deveria deixar a presidência depois do julgamento, seria um gesto de grandeza do ponto de vista político", afirmou Gilvam Borges (PMDB-AP), que é aliado do senador José Sarney (PMDB-AP), principal conselheiro de Renan desde que o escândalo veio à tona.
"Não tem crise nenhuma, tudo resultou de um namorico mal dado. As forças ocultas, querem derrubá-lo", disse Paulo Duque (PMDB-RJ), suplente do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ).
A maioria dos entrevistados não quis responder à terceira questão, que trata de um eventual sucessor de Renan. Ainda assim, os nomes mais freqüentes foram o do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e o do primeiro-vice-presidente da Casa, Tião Viana (PT-AC). Outros nomes lembrados foram o do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), antecessor de Renan, e o do ex-vice-presidente Marco Maciel (DEM-PE).


Colaboraram SILVIO NAVARRO e FERNANDA KRAKOVICS , da Sucursal de Brasília


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