São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Processo de Renan pode ter 3 relatórios

Casagrande e Marisa Serrano querem cassar o senador, mas por razões diferentes; Almeida Lima vai pedir a absolvição

Os três relatores se reúnem na próxima terça-feira em um último esforço para apresentar um parecer único, o que dificilmente acontecerá

FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na reta final do processo contra Renan Calheiros (PMDB-AL) no Conselho de Ética, o presidente do Senado vai enfrentar duas frentes para respaldar o pedido de cassação do mandato. Uma vai se concentrar no aspecto político, cujo ponto central é o uso de um lobista para pagar suas despesas pessoais. A outra linha será técnica, apontando inconsistências em seus negócios com gado e na evolução patrimonial.
Há divergências de pontos-de-vista entre os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS). Isso pode acarretar na apresentação de dois relatórios, além de um terceiro do senador Almeida Lima (PMDB-SE), que pedirá a absolvição de Renan.
Os três relatores se reúnem na terça-feira em um esforço para apresentar um parecer único, o que dificilmente ocorrerá. A possibilidade de haver dois relatórios diferentes favorece Renan porque dilui os votos no conselho. Assim, Casagrande e Marisa tentarão fundir seus pareceres.
Para a senadora tucana, a quebra de decoro parlamentar é uma definição de cunho político, e não criminal. Seu argumento principal é que Renan não poderia usar um lobista de uma empreiteira privada para intermediar pagamentos da pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso. "O presidente do Senado tem o dever de dar o bom exemplo. Ele precisa ser diligente", afirmou Marisa.
Ela também pretende mirar no fato de Renan não ter declarado no Imposto de Renda a pensão alimentícia de R$ 12 mil mensais. O presidente do Senado diz que optou pela discrição por se tratar de relação extraconjugal. "Isso é contra a lei."
Integrante do Conselho de Ética, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), concorda. "Não há na legislação a previsão de que, se você tiver razões de foro íntimo, não precisa declarar rendimentos no Imposto de Renda", afirmou o petista.
Marisa pretende destacar ainda trecho da perícia da Polícia Federal no qual a contabilidade rural de Renan é considerada "fictícia" devido à ausência de registros de despesas com o custeio das fazendas. Para a PF, essa lacuna se reflete em sua evolução patrimonial.
Em resumo, a senadora tucana recomendará a cassação amparada nas denúncias contra Renan nos últimos três meses, e não em fato específico.
Já Casagrande pedirá a perda do mandato de Renan porque vê provas cabais de que houve crimes fiscais e financeiros. Ele está convencido de que Renan não tinha dinheiro suficiente para arcar com a pensão alimentícia e recorreu a artifícios contábeis para inflar seus rendimentos, seja com gado ou com empréstimos nunca pagos. "Nunca vamos ter um recibo da empreiteira. Vamos dar a resposta indiretamente", afirmou.
Integrante da base de sustentação do governo, Casagrande está cauteloso na redação de seu relatório e procura se ater a argumentos técnicos. O terceiro relator, Almeida Lima, aliado de Renan, pedirá absolvição.


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