São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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PF vê indícios de que Renan ocultou contas

Peritos suspeitam que senador fez movimentações de recursos não informadas nem ao Conselho de Ética nem à polícia

Outros pontos contestados são empréstimos feitos pelo peemedebista a locadora de veículos, negociações com gado e venda de um imóvel

ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal levantou indícios de que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) movimenta recursos em contas bancárias não informadas nem ao Conselho de Ética do Senado nem ao INC (Instituto Nacional de Criminalística).
Segundo a Folha apurou, esse é um dos seis pontos de maior controvérsia na defesa de Renan, na avaliação de peritos do INC encarregados de analisar a documentação entregue pelo presidente do Senado para rebater acusação de que teve contas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo.
No laudo do INC enviado ao conselho na semana passada, os peritos destacam dois pontos que embasam a suspeita de que o senador teria movimentação financeira oculta.
"Cabe informar que, conforme análise dos extratos da conta corrente no Banco do Brasil, foram identificadas emissões de DOC-D, que evidenciam haver outras contas correntes ou movimentações bancárias não apresentadas aos peritos", escreveram os técnicos da PF.
DOC-D é a sigla para transferências interbancárias entre contas de mesma titularidade. Nas declarações de Imposto de Renda, o senador informou duas contas, uma no Banco do Brasil e outra na Caixa Econômica Federal. Os extratos dessas duas contas foram entregues ao Conselho de Ética.
A Folha deixou recado na assessoria do senador, mas ele não se manifestou até o fechamento desta edição.

Empréstimos
O outro ponto refere-se a supostos empréstimos que Renan informou à PF ter tomado na Costa Dourada Veículos, entre 2004 e 2005, no valor de R$ 178 mil. Esse dinheiro não transitou pelas duas contas apresentadas pelo senador. A empresa pertence a Tito Uchôa, primo de Renan e suspeito de atuar como testa-de-ferro do presidente do Senado.
Chamou a atenção a forma como Renan teria tomado e se comprometido a pagar a dívida. Foram cerca de 40 saques periódicos, entre R$ 3.000 e R$ 4.800, somando os R$ 178 mil.
Em 2006, ele reconheceu a dívida e os juros, assinando uma nota promissória no valor R$ 214.895, com vencimento em 31 de março deste ano. Não pagou, assinando nova promissória, de R$ 294.563, com vencimento em 31 de outubro de 2007. Ou seja, ainda não a quitou, conforme documentação.
O laudo elaborado pelos peritos aponta várias inconsistências na atividade rural do senador. Foi na criação de gados que Renan sustentou sua defesa.
O senador declarou ter encerrado 2003 com rebanho de 1.040 cabeças de gado. Informou cem animais nascidos naquele ano e 264 vendidos até 25 de abril de 2004, o que daria um rebanho de 876 cabeças. Mas Renan declarou ter vacinado naquela data 1.500 cabeças de gado. Isto é, 624 a mais do que o identificado pelos peritos.
Ele informou à Receita Federal que, em 2004, houve 472 nascimentos em seu rebanho. O documento de vacinação informa só 200 matrizes com idade acima de 36 meses (ideal para reprodução). Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o período de gestação de bovinos é de nove meses, sendo raros os casos de bezerros gêmeos.
Ou seja, todas as matrizes de Renan precisariam ter gerado, em média, mais de dois bezerros por ano, o que, dizem especialistas, é impossível.
No laudo do INC, os peritos responderam a 30 perguntas. A última questionava se valores da venda de gado de Renan teriam sido depositados na conta do senador no BB. O INC confirmou. Outro ponto considerado suspeito foi um flat que Renan teria vendido por R$ 182,8 mil. Declarou ganho de R$ 21,4 mil, e só teria recolhido imposto sobre R$ 12,4 mil.


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