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PF vê indícios de que Renan ocultou contas
Peritos suspeitam que senador fez movimentações de recursos não informadas nem ao Conselho de Ética nem à polícia
Outros pontos contestados
são empréstimos feitos pelo
peemedebista a locadora de
veículos, negociações com
gado e venda de um imóvel
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal levantou
indícios de que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) movimenta recursos em contas
bancárias não informadas nem
ao Conselho de Ética do Senado nem ao INC (Instituto Nacional de Criminalística).
Segundo a Folha apurou, esse é um dos seis pontos de
maior controvérsia na defesa
de Renan, na avaliação de peritos do INC encarregados de
analisar a documentação entregue pelo presidente do Senado para rebater acusação de
que teve contas pessoais pagas
pelo lobista Cláudio Gontijo.
No laudo do INC enviado ao
conselho na semana passada,
os peritos destacam dois pontos que embasam a suspeita de
que o senador teria movimentação financeira oculta.
"Cabe informar que, conforme análise dos extratos da conta corrente no Banco do Brasil,
foram identificadas emissões
de DOC-D, que evidenciam haver outras contas correntes ou
movimentações bancárias não
apresentadas aos peritos", escreveram os técnicos da PF.
DOC-D é a sigla para transferências interbancárias entre
contas de mesma titularidade.
Nas declarações de Imposto de
Renda, o senador informou
duas contas, uma no Banco do
Brasil e outra na Caixa Econômica Federal. Os extratos dessas duas contas foram entregues ao Conselho de Ética.
A Folha deixou recado na assessoria do senador, mas ele
não se manifestou até o fechamento desta edição.
Empréstimos
O outro ponto refere-se a supostos empréstimos que Renan
informou à PF ter tomado na
Costa Dourada Veículos, entre
2004 e 2005, no valor de
R$ 178 mil. Esse dinheiro não
transitou pelas duas contas
apresentadas pelo senador.
A empresa pertence a Tito
Uchôa, primo de Renan e suspeito de atuar como testa-de-ferro do presidente do Senado.
Chamou a atenção a forma
como Renan teria tomado e se
comprometido a pagar a dívida.
Foram cerca de 40 saques periódicos, entre R$ 3.000 e R$
4.800, somando os R$ 178 mil.
Em 2006, ele reconheceu a
dívida e os juros, assinando
uma nota promissória no valor
R$ 214.895, com vencimento
em 31 de março deste ano. Não
pagou, assinando nova promissória, de R$ 294.563, com vencimento em 31 de outubro de
2007. Ou seja, ainda não a quitou, conforme documentação.
O laudo elaborado pelos peritos aponta várias inconsistências na atividade rural do senador. Foi na criação de gados que
Renan sustentou sua defesa.
O senador declarou ter encerrado 2003 com rebanho de
1.040 cabeças de gado. Informou cem animais nascidos naquele ano e 264 vendidos até 25
de abril de 2004, o que daria um
rebanho de 876 cabeças. Mas
Renan declarou ter vacinado
naquela data 1.500 cabeças de
gado. Isto é, 624 a mais do que o
identificado pelos peritos.
Ele informou à Receita Federal que, em 2004, houve 472
nascimentos em seu rebanho.
O documento de vacinação informa só 200 matrizes com idade acima de 36 meses (ideal para reprodução). Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o
período de gestação de bovinos
é de nove meses, sendo raros os
casos de bezerros gêmeos.
Ou seja, todas as matrizes de
Renan precisariam ter gerado,
em média, mais de dois bezerros por ano, o que, dizem especialistas, é impossível.
No laudo do INC, os peritos
responderam a 30 perguntas. A
última questionava se valores
da venda de gado de Renan teriam sido depositados na conta
do senador no BB. O INC confirmou. Outro ponto considerado suspeito foi um flat que
Renan teria vendido por R$
182,8 mil. Declarou ganho de
R$ 21,4 mil, e só teria recolhido
imposto sobre R$ 12,4 mil.
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