São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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LIXO PAULISTA

Implicado no caso Waldomiro operava na prefeitura paulistana

Buratti atuou por empresa na Caixa, no INSS e na Fazenda

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

O advogado Rogério Tadeu Buratti, 41, investigado pelo Ministério Público de Ribeirão Preto (SP) por suposto envolvimento em irregularidades em licitações públicas, representava a empresa de lixo Leão Leão em órgãos e instituições da área econômica do governo federal, como a Caixa Econômica Federal, e em prefeituras municipais, como a de São Paulo.
A revelação foi feita em maio último pela própria empresa, em ofício enviado ao Ministério Público. Entre as atribuições de Buratti estava representar a empresa, que fatura R$ 200 milhões anuais, na Caixa, na Fazenda Nacional, no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), sediado no Rio de Janeiro, "para a obtenção de linhas de crédito".
Ex-secretário municipal de Antonio Palocci Filho em 94, ex-sócio do chefe-de-gabinete do ministro, Juscelino Antonio Dourado, Rogério Buratti é foco de investigação no Ministério Público de Ribeirão Preto (SP) e personagem importante no escândalo Waldomiro Diniz.
No decorrer da investigação aberta em Ribeirão, os promotores levantaram indícios de que Buratti, mesmo após ter deixado oficialmente a Leão Leão, em março, continuou prestando apoio à empresa na solução de assuntos de Brasília.
A investigação incluiu grampos telefônicos realizados com ordem judicial ao longo de cinco meses. De acordo com investigadores que tiveram acesso às gravações, Buratti foi procurado no dia 26 de julho último por um alto executivo do grupo Leão Leão, Luiz Pacola, para falar sobre "o negócio de Brasília".
Buratti teria respondido que já havia conversado com "ele" sobre o assunto, que "ele" estaria em Ribeirão Preto no dia seguinte, e aconselhou o empresário a "ligar para o chefe-de-gabinete e marcar" uma audiência.
No dia seguinte à conversa, 27 de julho, houve um evento em Ribeirão com a presença do ministro, um seminário sobre desenvolvimento econômico internacional realizado no Hotel JP.
No mesmo dia 27, ainda conforme os investigadores, em nova ligação Pacola explica a Buratti que teria falado com o "chefe-de-gabinete". Ele teria respondido "que vai tentar marcar, mas é só questão de agenda".
Procurada ao longo de três dias da semana passada, a assessoria do ministro Palocci não respondeu às seguintes dúvidas levantadas pela Folha: se o ministro foi procurado por empresário do grupo Leão Leão, se manteve reunião com alguém da empresa em julho e se alguma vez seu chefe-de-gabinete foi procurado por Rogério Buratti para agendamento desse tipo de reunião.
Sobre essas dúvidas, a assessoria nada respondeu. O assessor de imprensa do ministro, Marcelo Neto, não deu retorno a um pedido de contato da reportagem, feito por meio de cerca de 25 ligações telefônicas em diferentes horários na quarta-feira, na quinta-feira e na sexta-feira passadas.

Consultoria
O ofício enviado pela Leão Leão ao Ministério Público dá uma maior dimensão às funções de Buratti na empresa. Quando exercia o cargo de vice-presidente do grupo, depois do caso Waldomiro Diniz pediu afastamento do cargo e a empresa então esclareceu que ele não integrava o quadro de funcionários da empresa. Era um consultor, remunerado por meio de uma microempresa, primeiro chamada Buratti & Siqueira Consultores Associados, depois chamada BBS Consultores S/C (o contador de Buratti informou, em março, que ele emitia entre R$ 200 mil e R$ 300 mil em notas fiscais anualmente).
Foi para explicar a relação comercial com essas empresas que a Leão Leão enviou o ofício ao Ministério Público. Os promotores queriam saber a razão de dezenas de notas fiscais emitidas pela Leão para a BBS.
No escândalo Waldomiro Diniz, executivos da multinacional GTech afirmaram em depoimento à Polícia Federal que Waldomiro Diniz, ex-assessor parlamentar do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, havia indicado a empresa BBS, de Buratti, como a destinatária de R$ 6 milhões a título de "facilitar" a renovação de contrato de R$ 650 milhões da GTech com a Caixa. A GTech diz que nunca pagou o dinheiro.
De acordo com o ofício da Leão Leão, a Caixa Econômica estava na área de atuação do consultor. "O sr. Rogério Tadeu Buratti representou a empresa junto a órgãos federais, tais como o INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], a Caixa Econômica Federal e a Fazenda Nacional, no processo de enquadramento do programa Refis, e ainda junto a alhures citada instituição financeira e BNDES [Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social], para a obtenção de linhas de crédito", diz o texto da Leão Leão.
"Referentemente às prefeituras municipais, sua consultoria integrava contatos com diversos municípios não só no Estado de São Paulo, como em outros Estados, destacando-se Ribeirão Preto, Araraquara, Monte Alto, Cascavel [PR], Itu, São Paulo, Sertãozinho, Governo do Distrito Federal e Rio de Janeiro", afirma a empresa.
Durante as investigações do Ministério Público, Buratti teve pelo menos duas conversas grampeadas nas quais comentou, com outro executivo da Leão, o andamento de licitações de limpeza urbana da Prefeitura de São Paulo.


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