São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006/ ESTATAIS

Furnas banca ações em reduto de ex-diretor

Estatal concentra projetos sociais em cidades da base eleitoral do ex-diretor Marcos Lima, candidato a deputado pelo PMDB

Volume liberado em 2005 a Pouso Alegre (MG), onde Lima tem residência, foi R$ 698 mil para 19 projetos, o dobro do que destinou a SP


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-diretor de Relações Institucionais de Furnas Centrais Elétricas Marcos Cerqueira Lima (PMDB-MG) usou a política de assistência social da empresa pública de energia para deslanchar sua candidatura a deputado federal no sul de Minas. Levantamento da Folha indica que Furnas concentrou doações nos municípios que formam a base eleitoral do candidato. A estatal tem sede no Rio e é subordinada ao Ministério das Minas e Energia.
A empresa reserva 0,7% de seu lucro líqüido para atender a pedidos de ajuda financeira para projetos assistenciais de prefeituras e de entidades filantrópicas. No ano passado, repassou R$ 8,8 milhões e atendeu a 345 pedidos. A maioria -299 projetos, totalizando R$ 7,4 milhões- foi de Minas.
O fenômeno se repetiu no primeiro semestre deste ano. Dos 286 pedidos atendidos, entre janeiro e junho, 267 são de Minas. O resultado, em termos de desembolso, é proporcional: R$ 4,48 milhões para Minas, e R$ 862 mil para os demais Estados onde a estatal atua.
Derrotado na eleição para deputado federal em 2002, depois de vários mandados consecutivos, Marcos Lima foi nomeado diretor de Furnas, em junho de 2003, por indicação do PMDB, que indicou ainda o presidente da companhia, José Pedro Oliveira, ligado ao ex-presidente Itamar Franco.
Marcos Lima ficou três anos como diretor de Relações Institucionais e se afastou no final de março, para novamente concorrer a deputado. A diretoria, extinta após sua saída, era responsável pelas doações.
Furnas não divulga a existência de tais recursos, nem a relação das instituições contempladas com doações, segundo a empresa, por receio de avalanche de pedidos. Mas, com isso, não há transparência no processo, e simples conhecimento de tal benefício acaba por se constituir informação privilegiada e moeda eleitoral.
Um indício de que houve uso eleitoreiro dos recursos está no volume liberado para o município de Pouso Alegre, onde Marcos Lima tem residência. No ano passado, a cidade recebeu R$ 698 mil para 19 projetos -o dobro do que Furnas destinou a São Paulo, onde também tem usinas. Neste ano, a estatal liberou R$ 247 mil a Pouso Alegre e R$ 115 mil para SP, por exemplo.
Entidades e prefeitos ouvidos pela reportagem informaram que recursos de Furnas foram oferecidos por cabos eleitorais de Marcos Lima. Quando o prefeito era aliado político, a ajuda era dada também às prefeituras. Mas, quando era adversário, o benefício ia apenas para entidades filantrópicas escolhidas pelos cabos eleitorais.
Um dos coordenadores da campanha eleitoral de Marcos Lima, Valdir Teixeira, atuou como assessor do ex-diretor, contratado por Furnas, baseado em Poços de Caldas. Teixeira é citado como a pessoa que oferecia recursos às entidades filantrópicas em vários municípios do sul de Minas.
Em Pedralva, cidade vizinha, o prefeito, Antonio Eloisio Gomes (PL), apontou o presidente da Câmara Municipal, Paulo Cesar Carvalho (PMDB) como a pessoa que selecionou as entidades filantrópicas na cidade. O vereador confirmou a informação.
"Escolhi duas entidades neste ano, que estavam com documentação em ordem, e ofereci os recursos. Os pedidos foram enviados a Furnas em fevereiro e o dinheiro saiu em março ou abril. Ele [Marcos Lima] viabilizou recursos para as cidades vizinhas", disse o vereador.
Em São Sebastião do Paraíso, também no sul de Minas, a reportagem encontrou outra evidência de uso eleitoral. Cinco escolas (três estaduais e duas municipais) receberam total de R$ 20 mil da estatal como auxílio para compra de material didático. Segundo Idalina Carvalho, diretora da escola São João da Escócia, aquinhoada com R$ 2.000, quem conseguiu a verba foi o diretor de outra escola beneficiada, conhecido como Sargento Amaral.


Texto Anterior: Outro lado: Professora nega compra de voto; candidata não é encontrada
Próximo Texto: Presidente de estatal se diz surpreso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.