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ELEIÇÕES 2006/ ESTATAIS
Furnas banca ações em reduto de ex-diretor
Estatal concentra projetos sociais em cidades da base eleitoral do ex-diretor Marcos Lima, candidato a deputado pelo PMDB
Volume liberado em 2005 a Pouso Alegre (MG), onde Lima tem residência, foi
R$ 698 mil para 19 projetos, o dobro do que destinou a SP
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-diretor de Relações Institucionais de Furnas Centrais
Elétricas Marcos Cerqueira Lima (PMDB-MG) usou a política de assistência social da empresa pública de energia para
deslanchar sua candidatura a
deputado federal no sul de Minas. Levantamento da Folha
indica que Furnas concentrou
doações nos municípios que
formam a base eleitoral do candidato. A estatal tem sede no
Rio e é subordinada ao Ministério das Minas e Energia.
A empresa reserva 0,7% de
seu lucro líqüido para atender a
pedidos de ajuda financeira para projetos assistenciais de prefeituras e de entidades filantrópicas. No ano passado, repassou R$ 8,8 milhões e atendeu a
345 pedidos. A maioria -299
projetos, totalizando R$ 7,4
milhões- foi de Minas.
O fenômeno se repetiu no
primeiro semestre deste ano.
Dos 286 pedidos atendidos, entre janeiro e junho, 267 são de
Minas. O resultado, em termos
de desembolso, é proporcional:
R$ 4,48 milhões para Minas, e
R$ 862 mil para os demais Estados onde a estatal atua.
Derrotado na eleição para
deputado federal em 2002, depois de vários mandados consecutivos, Marcos Lima foi nomeado diretor de Furnas, em
junho de 2003, por indicação
do PMDB, que indicou ainda o
presidente da companhia, José
Pedro Oliveira, ligado ao ex-presidente Itamar Franco.
Marcos Lima ficou três anos
como diretor de Relações Institucionais e se afastou no final
de março, para novamente
concorrer a deputado. A diretoria, extinta após sua saída,
era responsável pelas doações.
Furnas não divulga a existência de tais recursos, nem a
relação das instituições contempladas com doações, segundo a empresa, por receio de
avalanche de pedidos. Mas,
com isso, não há transparência
no processo, e simples conhecimento de tal benefício acaba
por se constituir informação
privilegiada e moeda eleitoral.
Um indício de que houve uso
eleitoreiro dos recursos está no
volume liberado para o município de Pouso Alegre, onde Marcos Lima tem residência. No
ano passado, a cidade recebeu
R$ 698 mil para 19 projetos -o
dobro do que Furnas destinou
a São Paulo, onde também tem
usinas. Neste ano, a estatal liberou R$ 247 mil a Pouso Alegre e R$ 115 mil para SP, por
exemplo.
Entidades e prefeitos ouvidos pela reportagem informaram que recursos de Furnas foram oferecidos por cabos eleitorais de Marcos Lima. Quando
o prefeito era aliado político, a
ajuda era dada também às prefeituras. Mas, quando era adversário, o benefício ia apenas
para entidades filantrópicas escolhidas pelos cabos eleitorais.
Um dos coordenadores da
campanha eleitoral de Marcos
Lima, Valdir Teixeira, atuou
como assessor do ex-diretor,
contratado por Furnas, baseado em Poços de Caldas. Teixeira é citado como a pessoa que
oferecia recursos às entidades
filantrópicas em vários municípios do sul de Minas.
Em Pedralva, cidade vizinha,
o prefeito, Antonio Eloisio Gomes (PL), apontou o presidente da Câmara Municipal, Paulo
Cesar Carvalho (PMDB) como
a pessoa que selecionou as entidades filantrópicas na cidade.
O vereador confirmou a informação.
"Escolhi duas entidades neste ano, que estavam com documentação em ordem, e ofereci
os recursos. Os pedidos foram
enviados a Furnas em fevereiro
e o dinheiro saiu em março ou
abril. Ele [Marcos Lima] viabilizou recursos para as cidades
vizinhas", disse o vereador.
Em São Sebastião do Paraíso,
também no sul de Minas, a reportagem encontrou outra evidência de uso eleitoral. Cinco
escolas (três estaduais e duas
municipais) receberam total de
R$ 20 mil da estatal como auxílio para compra de material didático. Segundo Idalina Carvalho, diretora da escola São João
da Escócia, aquinhoada com
R$ 2.000, quem conseguiu a
verba foi o diretor de outra escola beneficiada, conhecido como Sargento Amaral.
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