São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na ONU, Lula anuncia plano para clima e propõe "Rio+20"

Na abertura da Assembléia Geral, presidente pede nova reunião no Rio em 2012

Discurso é marcado também por defesa do programa de biocombustíveis, criticado por outros líderes e em relatório das Nações Unidas

Fernando Donasci/Folha Imagem
Lula aguarda para discursar na abertura da Assembléia Geral


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O Brasil se ofereceu ontem para sediar uma reunião mundial de discussão de questões ambientais. O anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso de abertura da 62ª Assembléia Geral da ONU, em Nova York. O brasileiro propôs um novo encontro no Rio de Janeiro, nos moldes da Rio 92.
"Proponho a realização, em 2012, de uma nova Conferência, que o Brasil se oferece para sediar, a Rio+20", discursou. O segundo mandato de Lula termina em 2011. No mesmo texto, o presidente anuncia um plano para mudanças climáticas e responde às críticas recebidas pelo programa brasileiro de álcool.
Lula não deu detalhes do plano, além do título: Plano Nacional de Enfrentamento às Mudanças Climáticas. À tarde, o chanceler Celso Amorim diria que esse deve envolver "zoneamento e cerceamento ao desmatamento", entre outros aspectos. No discurso, o presidente só menciona que são "essenciais estratégias nacionais claras que impliquem responsabilidade dos governos diante de suas próprias populações".
Quanto ao biocombustível, Lula aproveitou a visibilidade do evento para responder a críticas que o programa do álcool brasileiro vem enfrentando, lideradas pelo cubano Fidel Castro, o venezuelano Hugo Chávez e alguns acadêmicos e reforçadas pela divulgação, no dia anterior, de relatório feito a pedido da ONU.
No texto, o relator especial da entidade para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, sugere moratória de cinco anos em relação ao aumento da produção de álcool feito a partir de cana-de-açúcar e milho. A crítica comum é que a expansão do consumo de álcool "roubaria" terras que poderiam ser usadas na produção de alimentos. O Brasil é o maior produtor do biocombustível.
"Decidimos estabelecer completo zoneamento agroecológico do país para definir quais áreas agricultáveis podem ser destinadas à produção de biocombustíveis", disse Lula, após falar que "a experiência brasileira de três décadas mostra que a produção de biocombustíveis não afeta a segurança alimentar".
Depois de dizer que a cana-de-açúcar ocupa 1% das terras brasileiras agricultáveis, "com crescentes índices de produtividade", o presidente falou que o problema da fome no planeta não decorre da falta de alimentos, "mas da falta de renda que golpeia quase 1 bilhão de homens, mulheres e crianças".
Crítico freqüente do álcool e visto com simpatia por Fidel e ONGs socialistas, Ziegler sugere que nova geração de biocombustíveis seja criada para evitar que o álcool complique a questão alimentar mundial.
Indagado pela Folha se o presidente respondia a Chávez, Fidel ou aos relatórios, Celso Amorim contemporizou. "Não é uma resposta a nenhuma pessoa em particular, é uma resposta a idéias que, ainda que bem intencionadas, não se baseiam em fatos reais". Para o chanceler, o exemplo mais eloqüente é que São Paulo, o Estado brasileiro que mais produz alimentos, também é o que mais produz álcool.
"Um presidente que propôs e realizou o Fome Zero, a preocupação principal dele é com a segurança alimentar", disse Amorim. "Grande parte dos países africanos têm problema de falta de alimentos e não têm álcool", afirmou.

Leia a íntegra do discurso de Lula na ONU

Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Análise: Números selecionados ajudam discurso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.