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Planalto usa verbas para engordar base aliada no Congresso
Líderes dizem que Walfrido dos Mares Guia promete liberar emendas de quem deixar a oposição; ministro nega a acusação
Oposicionista baiano alega que sofre pressão das bases, e prefeito confirma: "ter um deputado contra o governo inviabiliza muitos projetos"
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto está
engordando sua base na Câmara prometendo facilitar a liberação de verbas do Orçamento
para as emendas de deputados
que deixarem a oposição. A prática é conhecida, mas ontem a
Folha ouviu isso abertamente
de dois deputados da oposição
que estão migrando para partidos da base aliada.
São eles Cláudio Cajado
(DEM-BA) e Geraldo Thadeu
(PPS-MG). No caso de Cajado,
segundo disseram à Folha um
líder da oposição e outro governista, a oferta de emendas partiu do encarregado pelo Planalto pela articulação política -o
ministro Walfrido dos Mares
Guia (Relações Institucionais).
Walfrido negou, por meio de
sua assessoria, que tenha oferecido liberação de emendas a
Cajado em troca da mudança
de partido. Segundo o ministro,
foi o deputado quem tomou a
iniciativa de procurá-lo e dizer
que pretendia trocar de sigla.
Cajado desconversou, negando ter sido procurado por
Walfrido para integrar o PP,
mas admitiu a motivação. Diz
estar sendo pressionado pelos
prefeitos de sua base eleitoral a
aderir ao governo para que as
verbas cheguem aos municípios para os quais fez emendas.
"É a questão do apelo dos
prefeitos. Os prefeitos estão
apelando para que eu apóie o
governo aqui em Brasília." A
Folha foi procurar os prefeitos
das cidades representadas por
Cajado e falou com um deles,
que confirmou a história.
Trata-se de Reinaldo Barbosa Góes, prefeito de Iuiú, município de 10.230 habitantes na
Bahia, quarta cidade do Estado
que mais votos deu a Cajado
(3.358). "Ele deve ir para um
partido da base do governo porque a gente sabe que sem o
apoio do governo fica difícil.
Ter um deputado contra o governo, principalmente governo
federal, a gente sabe que inviabiliza muitos de nossos projetos. Não deveria ser assim, mas
é", disse Góes, afirmando que
não saiu até agora nem um centavo da emenda de R$ 1 milhão
destinada pelo deputado para
calçamento das ruas de Iuiú.
Já Geraldo Thadeu, de mudança do PPS para o PMDB,
disse que pesou na decisão o fato de as cidades de sua base, na
região de Poços de Caldas, terem mais facilidade para obter
recursos. "Execução de emenda é sempre um problema. Claro que se você vem de um partido da base fica mais fácil."
As emendas dos deputados
destinam-se quase sempre a
pequenas obras em seus redutos. A liberação é decidida pelo
Executivo, que pode não liberar
nada. Historicamente ele direciona mais verbas aos aliados.
Reportagem da Folha mostrou
que a liberação de verbas a
emendas dos que apoiaram a
prorrogação da CPMF foi em
valores 52% superiores à reservada aos que foram contra.
O líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), um dos partidos que mais engordaram a
bancada, explica que a pressão
dos municípios para liberar
emendas é muito grande sobre
o parlamentar: "É bom estar
com o governo quando o deputado tem municípios na sua base muito dependentes de recursos do Orçamento federal".
Pelo menos 21 deputados e
senadores negociam mudar de
partido, a maioria para legendas do governo. O bloco de
apoio a Lula na Câmara elegeu
354 e já conta com 378. A oposição elegeu 158 e caiu para 133.
Alguns dos que preparam
mudança negam que estejam
atrás de recursos para suas
emendas. "Descobri que eu estava num partido que não fala
minha língua. Sou um socialista", justifica Bispo Rodovalho
(DF), que deve deixar o DEM
para ingressar no PR.
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