São Paulo, sexta, 26 de setembro de 1997.



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IGREJA
Presidente da CNBB comenta pesquisa Datafolha e anuncia a introdução de elementos afros nas missas
D. Lucas critica os 'católicos cartoriais'

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília


O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Lucas Moreira Neves, apontou ontem como principal problema da Igreja Católica brasileira a grande faixa de "católicos cartoriais" que não seguem os dogmas da religião.
D. Lucas concordou com o resultado da pesquisa Datafolha feita junto a 847 católicos praticantes entrevistados à entrada ou saída de 80 igrejas do Rio e São Paulo.
Segundo a pesquisa, a maioria (68%) prefere seguir a própria consciência a obedecer as determinações da igreja. Para d. Lucas, esse problema é maior do que o avanço dos grupos evangélicos e seria motivado por falta de conhecimento dos princípios religiosos.
"São católicos que vão à igreja e, por algum motivo, não conhecem a verdadeira doutrina católica", disse. "Falta catequese, cursos de evangelização para mudar essa realidade."
De acordo com a pesquisa, o uso de camisinha, condenado pelo papa, conta com o apoio de 90% dos entrevistados, se a justificativa é evitar a gravidez, e de 96%, quando o motivo é evitar a Aids.
A pesquisa foi publicada ontem na Folha, em caderno especial sobre a Igreja e a visita do papa João Paulo 2º, que chega ao Rio dia 2.
Segundo o secretário-geral da CNBB, Raymundo Damasceno Assis, acredita-se 50% da população seja brasileira católica. Desses, 25% seriam praticantes. A CNBB pretende alterar essa situação até o ano 2000.
Missa com berimbau
Arcebispo de Salvador, d. Lucas anunciou que em cinco anos será implantada a Pastoral Afro-brasileira, com a missão de introduzir traços da cultura negra nas missas.
Segundo ele, o berimbau e outros instrumentos da cultura afro-brasileira poderão ser incorporados aos rituais em algumas dioceses que sofram esse tipo de influência, como na Bahia.
Ele descartou que isso viabilize a absorção de cânticos e instrumentos do candomblé nos rituais católicos. A estratégia visa identificar a igreja com os grupos culturais que formam a sociedade brasileira.



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