São Paulo, Terça-feira, 26 de Outubro de 1999
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ANÁLISE
No final da crise, Garotinho sai ganhando

MARCELO BERABA
Diretor da Sucursal do Rio

O governador do Rio, Anthony Garotinho, sai vitorioso da batalha que provocou contra o PT. O rompimento do partido com o seu governo permitiu que ele mantivesse na sua administração, com o aval da Direção Nacional, apenas o PT que lhe interessa, aquele que chama de "competente". Livrou-se, assim, dos "radicais", sempre fortes e barulhentos e que desde sempre estiveram contra a coligação com o PDT.
É um retoque a mais, portanto, na imagem que vem tentando desenhar de um político ponderado, mas determinado, ideologicamente pragmático, que não tem medo de enfrentamentos. Firme e confiável. Uma alternativa viável no quadro de sucessão presidencial que apenas se esboça. Como ele mesmo já admitiu, está buscando um espaço entre as candidaturas de Lula e de Ciro Gomes, um caminho pelo centro.
Garotinho bateu de frente contra parte do PT sabendo que só tinha a ganhar. Primeiro, porque já não contava com aquele PT nas votações na Assembléia Legislativa. Aliás, nem com o PT nem com parte do seu próprio PDT, que vive a lhe aprontar surpresas.
A base de apoio hoje do governo na Assembléia não é mais a aliança que o apoiou na eleição e que não soma 30 dos 70 deputados. O apoio de outras forças, como o PMDB, acaba sendo até mais importante. No caso do PT, por exemplo, eram apenas oito deputados estaduais, e dois já não votavam mesmo com ele.
Outro fator que deve ter pesado na disposição de o governador provocar o PT às vésperas da convenção foi seu índice de popularidade. Ele mesmo citou ontem a última pesquisa do Ibope para mostrar que não depende dos que saem. Realizada este mês, a pesquisa mostra que 78% dos moradores do Estado aprovam sua administração, contra apenas 13% que desaprovam. Em áreas mais pobres como a Baixada Fluminense, a aprovação chega a 83%.
Esses números e o tratamento positivo que vem tendo na mídia dão ao governador do Rio forças para se distanciar dos aliados incômodos, como fez com Brizola durante a campanha. É possível prever que o PDT brizolista mais cedo ou mais tarde possa ter o mesmo fim da esquerda do PT: a rua. A rejeição pública à parte do PT e as irritações com o PDT coincidem com uma presença cada vez mais forte do governador em cultos evangélicos fora do Rio e com uma aproximação tática do PMDB fluminense. O mais importante agora não é saber de quem ele se distancia, mas de quem se aproxima.


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