DA REDAÇÃO

Num contra-ataque provocado por críticas feitas por José Dirceu, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, nos Estados Unidos, que o ministro-chefe da Casa Civil "parece ter vocação para práticas autoritárias".
Na sexta-feira, o ministro Dirceu sugeriu ao ex-presidente que, em vez de fazer críticas "ressentidas" ao governo Lula, cuidasse "da biblioteca, dos netos".
Para FHC, o ministro da Casa Civil está tentando censurá-lo: "É demais proibir-me de dizer o que toda a imprensa está dizendo, que não há uma política social consistente (e acrescento sempre, até agora). Não preciso de conselhos de quem parece ter vocação para práticas autoritárias".
"Já tive meus direitos políticos cerceados pelos militares. Não sabia que o ministro Dirceu quer renovar a prática", completou o ex-presidente, por meio de uma nota redigida em Washington. Ele deve continuar nos EUA até janeiro, fazendo pesquisas na biblioteca do Congresso americano.
Na resposta, Fernando Henrique usou adjetivos como "arrogante", "parcial", "ressentido" e "soberbo" para qualificar Dirceu:
"Faria bem o ministro em ser menos arrogante e parcial ao julgar o passado e mais tolerante e democrático ao escutar os reparos -que nem críticas chegam a ser- sobre o presente. As críticas, se for o caso, virão mais tarde, sem o ressentimento e a soberba por ele revelados nesse episódio".
Foram esses "reparos" feitos por Fernando Henrique que deram início à mais recente troca de farpas entre ele e Dirceu. Na sexta-feira, o jornal espanhol "El País" publicou uma entrevista em que FHC diz que, com exceção da economia, ao governo Lula "falta imaginação em todo o resto". A principal crítica foi à área social.
A entrevista foi publicada justamente no dia em que o presidente Lula foi à Espanha receber o prêmio Príncipe de Astúrias. Lá mesmo, o ministro rebateu: "Ele tem é que escrever suas memórias, cuidar da biblioteca, dos netos. O Brasil está avançando. Não reconhecer isso é mesquinharia".
Dirceu também disse que, em dez meses, Lula já fez coisas que FHC não conseguiu em oito anos.
Em sua tréplica, porém, o ex-presidente lembrou que não fez apenas críticas a Lula na entrevista ao jornal espanhol: "Tenho sido prudente nas respostas que dou aos jornalistas. Ainda agora, reafirmei que o governo tem agido responsavelmente na área econômica".


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