São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/GUERRA FRIA

Fotomontagem espalhada nos principais pontos de Brasília mostra senador pefelista de uniforme nazista; oposição culpa o governo

Cartaz apócrifo compara Bornhausen a Hitler

Lula Marques/Folha Imagem
Cartaz que foi colado em vários pontos de Brasília com fotomontagem que compara o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) a Hitler


COLUNISTA DA FOLHA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA


Os principais pontos do centro de Brasília amanheceram ontem exibindo cartazes com fotomontagens do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), com uniforme de nazista e com os dizeres: "Vamos acabar com "este" raça. Pretos, pobres e operários nunca mais!" Debaixo do braço, um exemplar da revista "Veja".
Os cartazes provocaram a ira da oposição, que acusa o governo de participação no episódio. Bornhausen disse estar convencido de que, como havia cartazes nas áreas mais movimentadas da cidade, e eram em grande número, não teria sido uma operação isolada de um grupo. Ele é considerado no governo o mais ácido crítico tanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como do PT.
"Isso é que é nazi-fascismo, e foi pago com o dinheiro da corrupção", disparou o senador, que almoçou ontem com o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), e pediu-lhe uma apuração sobre a distribuição dos cartazes, as origens, a gráfica usada e seus responsáveis.
Apesar das acusações, não havia pistas até ontem de quem fez a ação. Um dos cartazes foi afixado diante de uma agência do BRB (Banco Regional de Brasília). Como há uma câmera de segurança no local, Bornhausen acha que a polícia poderá chegar aos responsáveis. "A origem vem de dentro do governo", disse o senador José Jorge (PE), líder da bancada do PFL, num discurso em plenário.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), se solidarizou com o colega. "O PT ainda tem tempo para fazer isso?", questionou.
A frase usada no cartaz - "vamos acabar com essa raça" -foi dita por Bornhausen após um evento em que ele defendia a derrota do PT e dos petistas nas eleições de 2006. Questionado pela platéia se não estaria desencantado com o que ocorria em Brasília, respondeu: "Desencantado? Pelo contrário. Estou é encantado, porque estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos".
Na semana passada, ao fazer referência à frase, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, declarou: "Ele [Bornhausen] tem saudade de Hitler [ditador nazista]". Ontem, o senador ironizou: "O Marinho disse isso no mesmo dia em que se descobriu que ele participava de orgias na Alemanha". Marinho foi citado em denúncias de um ex-diretor da Volkswagen, de que viajava ao país como líder sindical e era brindado com festas com prostitutas. Ele nega. O ex-diretor é suspeito de corrupção.
Ontem, o Ministério do Trabalho divulgou nota na qual diz que Marinho considera uma "irresponsabilidade" a afirmação do pefelista. "O senador fez alusão a uma fala do ministro que, na semana passada, se referiu à atitude discriminatória do PFL", diz a nota. "O ministro considera os cartazes um desrespeito ao senador da República e afirma que não pactua com atitudes criminosas."
Um blog de notícias divulgou, anteontem, que Lula estava irritado com Bornhausen, a quem considerava seu pior inimigo. O senador diz acreditar que os fatos não são coincidência e não vai pedir investigação à PF, subordinada ao Ministério da Justiça. (ELIANE CANTANHÊDE e CHICO DE GOIS)

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