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São Paulo
MARTA
Modo de atuação tem gosto por detalhes e estilo "mandão"
Ex-ministra se incomoda em ter esmiuçadas em público as características femininas que ela leva ao poder
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
No auge da batalha contra a
máfia dos transportes, em
2003, a então prefeita Marta
Suplicy escapulia entre audiências e reuniões para opinar sobre móveis, cores das paredes e
tecidos que seriam usados na
futura prefeitura, no Anhangabaú. As amostras eram estrategicamente colocadas em uma
sala ao lado de seu gabinete
-onde discutia detalhes com o
arquiteto, um dos melhores do
país, escolhido a dedo por ela.
De volta às reuniões, Marta
mantinha postura rigorosa:
não fazia brincadeiras, cobrava
resultados e não terminava o
encontro sem delegar tarefas.
Para a psicóloga, sexóloga,
ex-apresentadora de TV, ex-prefeita e ex-ministra, ter esmiuçadas em público as características femininas que leva ao
poder não passa de preconceito. Grife da roupa, cabeleireiro
ou cirurgias plásticas jamais estariam na pauta de perguntas a
um político homem, afirma.
"Ser mulher é dose", já disse.
Marta não deixa de confessar, entretanto, que uma líder
feminina tem um espaço de
comportamento que é vedado
aos homens: ralhar feito uma
mãe com empresários que reclamam do IPTU progressivo e
censurar em público subordinados e até mesmo o ex-marido, senador Eduardo Suplicy.
Ao mesmo tempo em que é
conhecida entre assessores por
ser detalhista e objetiva, às vezes beirando a rispidez, Marta
ouve e opina sobre relacionamentos com seu motorista, discute moda com subordinadas e
não deixa de cumprimentar
garçons e serventes.
Segundo um ex-secretário,
discutir cinema, moda ou a decoração de seu novo gabinete
são formas de descontrair e relaxar das pressões do cargo.
Entre atuais e antigos subordinados, Marta é reverenciada
pela objetividade e assertividade. Não deixa nada subentendido. Reclama, cobra prazos e pede explicações. Mas também
ouve e aceita críticas. Para tomar decisões importantes, consulta assessores de confiança
-que garantem que ela muda
de opinião se bons argumentos
a convencerem. Delega, dá carta-branca e acredita em secretários -até demais, dizem, citando áreas da prefeitura em
que ela teria levado tempo demais para fazer substituições.
A mesma objetividade que
conquista a fidelidade de muitos assessores garante também
desafetos no trabalho e na política. No PT, já foi chamada de
burguesa, pela origem rica.
Entre ex-assessores, há
quem reclame do excesso de
cuidado com minúcias. Um assistente conta que se a cor de
um uniforme não agradava, ela
dava bronca. A necessidade de
aprovação pública é vista como
defeito -e assessores aprenderam a jogar com isso. Segundo
um deles, funcionários à paisana chegaram a ser convocados
para uma inauguração, elogiaram o empreendimento e ela ficou feliz. A fama de mandona
também lhe rende censura.
Se não há compromissos que
exijam as primeiras horas da
manhã, guarda o horário para
ler jornais, fazer ginástica e ficar com a família. Mas não deixa de ligar cedo -ou bem tarde
da noite- para assessores sempre que lembra de um assunto.
Marta é conhecida por aproveitar o almoço para se reunir
com secretários ou despachar.
Também fica sempre até mais
tarde no gabinete, quando não
tem jantares de trabalho.
Quando ministra do Turismo, passava a semana em Brasília, onde morava no mesmo
hotel do ministro Paulo Bernardo (Planejamento), com
quem trocava idéias. Os fins de
semana eram gastos em SP com
o marido, Luís Favre, tido como
uma das principais influências.
Apesar de negar a influência
do marido, com quem se casou
em 2003, após 37 anos de união
com Suplicy, Marta conta pelo
menos duas intervenções dele
em ações na prefeitura: a sugestão do nome CEU (Centro Educacional Unificado) e a idéia de
transformar o parque do Gato
em uma recuperação social e
urbanística modelo.
Inovação
Marta enfrenta desafios e toma decisões com o mesmo
olhar questionador da psicóloga em início de carreira que não
concordava em medir o QI das
crianças de periferia com os
testes das classes média e alta.
"Lembro que uma das perguntas era "qual é a cor da esmeralda". Como uma criança da periferia pode ser mais burra ou
mais inteligente por não saber
a cor da esmeralda?", argumenta. E diz: "Minha sina é sempre
querer o novo, propor o novo".
Suas propostas de inovação
levaram polêmica à prefeitura.
Com poder estrogênico, lutou
contra a máfia dos transportes,
criou escolas com orquestras
sinfônicas para a periferia e o
plantio de coqueiros para embelezar a cidade, que a levaram
a um bate-boca com eleitora
em frente às câmeras de TV.
A espontaneidade rende frases de efeito e deixa assessores
desconfortáveis na cadeira,
sempre à espera de comentários bombásticos. O mais famoso foi também o mais amargo:
"Relaxa e goza", respondeu ao
ser perguntada sobre qual conselho daria aos passageiros na
crise aérea, em 2007.
De educação conservadora, à
qual tem fortes críticas, Marta
percorreu um longo caminho
para se estabelecer como liderança no PT. Mas não conseguiu driblar a rejeição, explicada muitas vezes como preconceito. Talvez menos o de ser
mulher e mais o de dizer o que
pensa. "Mulher que fala o que
pensa é temperamental", diz.
Assista a vídeo sobre a
biografia dos candidatos
www.folha.com.br/0829911
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