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Justiça apreende 40 milhões de bens de acusados de crimes
Total chega a R$ 929 milhões; dado é de órgão do CNJ, que unificou apreensões
Há helicópteros, carros e joias, entre outros itens; maior parte dos bens fica retida na Justiça à espera da conclusão da ação criminal
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em menos de dez meses, a
Justiça brasileira registrou a
apreensão de 40 milhões de
bens adquiridos por meio de
práticas ilícitas ou utilizados
em atividades criminosas. São
helicópteros, carros, lanchas,
joias e imóveis, entre outros
itens, estimados em aproximadamente R$ 929 milhões.
O dado é do SNBA (Sistema
Nacional de Bens Apreendidos), criado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para
unificar, pela primeira vez, todos os bens e valores bloqueados em processos criminais que
tramitam na Justiça Federal e
na Estadual por todo o país.
Segundo o CNJ, hoje a maior
parte desse material está guardada em depósitos e pátios, o
que dificulta o controle e aumenta o risco de deterioração
ou de desvio. Normalmente, a
apreensão é mantida até o final
do processo, o que pode levar
anos, para, só então, ser revertida em definitivo para a União
ou, em caso de absolvição, para
o proprietário.
Após a finalização da lista de
bens, o próximo passo, segundo
o juiz auxiliar da presidência do
CNJ e integrante do comitê
gestor do SNBA, Marcelo Berthe, é transferir para o sistema
a administração dos bens.
Para isso, a Justiça espera
que o Congresso aprove um
projeto de lei que regula a venda antecipada de bens apreendidos em processos criminais,
mesmo que estes não sejam baseados na lei de combate ao tráfico de entorpecentes (lei nº
11.343) -essa é uma das poucas
que prevê a venda imediata e o
depósito para o Funad (Fundo
Nacional Antidrogas).
O Código de Processo Civil
prevê a alienação antecipada de
bens penhorados quando estes
estiverem sujeitos a deterioração ou depreciação, mas o projeto de lei irá detalhar o tema.
Exceção
Foi com base no Código de
Processo Civil que o juiz federal
Fausto Martin De Sanctis, da 6ª
Vara Criminal de São Paulo, determinou, em caráter "absolutamente excepcional", a venda
de todos os bens apreendidos
do narcotraficante Juan Carlos
Ramírez Abadia, condenado a
30 anos de prisão por lavagem
de dinheiro e corrupção, entre
outros crimes.
Segundo o juiz, a decisão foi
motivada por declaração do
próprio Abadia, que, no curso
do processo, disse "abrir mão"
de todos os bens adquiridos por
ele no Brasil por reconhecer a
origem ilícita dos mesmos.
Em abril de 2008, todos os
bens de Abadia foram leiloados
em um bazar beneficente e 35%
dos R$ 8,76 milhões arrecadados foram doados a instituições
de caridade.
A FIC (Fraternidade Irmã
Clara), que funciona de forma
precária embaixo de um viaduto, em São Paulo, cuidando de
pessoas com grau severo de paralisia cerebral, e a Ação Social
Claretiana, que abriga cerca de
200 crianças carentes, em Embu (SP), receberam R$ 1,2 milhão cada uma.
"Sem esse valor, não seria
possível concluir a nova sede da
FIC, que irá abrigar, de forma
muito mais humana, até 70
portadores de paralisia cerebral", afirmou o presidente da
entidade, Eduardo Barros.
Além das ONGs, R$ 1,6 milhão do arrecadado no leilão foi
destinado a reforçar o sistema
de segurança do prédio da Polícia Federal de São Paulo, que
prendeu o traficante.
De uma forma geral, o juiz
Sergio Fernando Moro, da Justiça Federal de Curitiba, especializada em lavagem de dinheiro, disse que os bens
apreendidos "podem e devem,
com as cautelas devidas, ser revertidos para reforçar a segurança pública e em investimentos sociais".
"Perde-se importante fonte
de recursos com a deterioração
dos bens no curso dos processos judiciais, usualmente demorados. Não é raro vermos,
por exemplo, cemitérios de automóveis apodrecendo em pátios de delegacias", disse Moro.
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