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JANIO DE FREITAS
A colônia vulnerável
Os jornais noticiam que a
economia cresce alguma
coisa, o desemprego diminui
um pouco, a renda tem ligeira
alta, e tudo isso afinal é verdadeiro - mas as pessoas mais sérias no governo, todas, além de
preocupadas com a situação do
Brasil. Estão temerosas. Como
se dissessem: céu azul é ameaça
de tempestade.
Armínio Fraga, presidente do
Banco Central e depositário da
competência existente na área
econômica do governo, tem
usado uma expressão para resumir sua apreensão aguda:
"Os ventos estão contra". São
correntes de ar americanas, européias, asiáticas e argentinas,
às quais a vulnerabilidade continuada da economia brasileira
está exposta.
Tente entender: vamos bem,
mas estamos mal.
Não só pelas correntes de ar,
porém. A desnacionalização da
economia brasileira é monstruosa, em qualquer sentido
dessa palavra. Os bilhões de
"dólares de investimento" que
continuam entrando nada
criam nas atividades produtivas, nada trazem para suprir
carências: só compram, compram, compram o que já existia. Pouco resta de brasileiro
nas atividades econômicas do
Brasil. Em setores inteiros nada
resta. Em outros, nem se percebeu que vão deixando de ser
brasileiros -até o das farmácias, por exemplo.
Fernando Henrique Cardoso
tem conhecimento notório do
poder das multinacionais. Seu
governo, já ao fim do sexto ano,
só teve até agora duas políticas:
com uma das mãos, segura o
real e, com a outra, faz a desnacionalização acelerada e indiscriminada do Brasil, passando
a produção, o sistema bancário,
os serviços e o grande comércio
para multinacionais.
O efeito essencial da desnacionalização é claro: "se as multinacionais começarem "a impor
aquilo que nós (o Brasil) não
queremos, pobre de nós", porque elas têm muita força". O
pobre no singular é por conta
do autor: Fernando Henrique
Cardoso na quinta-feira, portanto, sem tempo ainda de esquecer o que disse.
É fácil entender: não falta
nem a declaração-confissão de
que a vulnerabilidade a que o
Brasil foi levado seria motivo
bastante, não fosse o arranjo
político no Congresso, para exame de impeachment, por desídia, quebra da soberania nacional e transgressão dos deveres
constitucionais.
O aliado
A iniciativa do senador
Eduardo Suplicy, de cobrar explicações ao Senado do apoio
dado pelo governo brasileiro a
Fujimori, quando muitos países
o condenavam por reeleger-se
com fraudes eleitorais, está limitada por uma formalidade: o
convocado à Comissão de Relações Exteriores do Senado tem
que ser o ministro Luiz Felipe
Lampreia.
A defesa de Fujimori foi, porém, decidida à margem do Ministério das Relações Exteriores.
Fernando Henrique Cardoso
decidiu-a, em conformidade
com o acordo de apoio pessoal
mútuo, entre ele, Fujimori e
Menem (este, e não Sérgio Motta como pensam muitos, foi o
lançador da proposta de reeleição no Brasil e, depois, da candidatura de Fernando Henrique).
Lampreia não pode dizer a
única frase que deveria dizer:
aplicou, com seus faustosos e
banqueteiros diplomatas, o
combinado em telefonema entre Fernando Henrique e Fujimori, na época divulgado como
simples coleta de informações
sobre a situação política peruana logo após a rerreeleição.
Os paralisados
Entre as grandes cidades brasileiras, nenhuma tem o trânsito mais fluente que o do Rio. Na
sexta-feira, porém, o Rio viveu
um inferno viário sem precedentes. Centenas de taxistas, dizem outros terem sido milhares,
bloquearam as vias de interligação dos bairros ao centro,
trancaram os carros e se afastaram a pé, levando as chaves.
Houve muitas consequências
graves, por exemplo na movimentação necessária a ambulâncias, médicos e policiais.
Taxis são concessões públicas.
Para serviço de transporte. Se,
em vez dele, impedem todos os
transportes e paralisam uma cidade, sob o falso pretexto de
manifestação contra uma liminar judicial, violaram as condições da concessão.
Os taxis foram multados, logo, suas identificações estão disponíveis. Ao prefeito, como responsável pelo poder concedente, e ao governador, como responsável pela ordem em todas
as cidades do Estado, compete a
obrigação legal de cassar as
concessões de todos os que as
usaram contra a população.
Luiz Paulo Conde e Anthony
Garotinho só vêem nos taxistas
uma força eleitoreira. Como os
taxistas, o seu serviço público é
assunto pessoal e secundário.
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