São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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JANIO DE FREITAS

A colônia vulnerável

Os jornais noticiam que a economia cresce alguma coisa, o desemprego diminui um pouco, a renda tem ligeira alta, e tudo isso afinal é verdadeiro - mas as pessoas mais sérias no governo, todas, além de preocupadas com a situação do Brasil. Estão temerosas. Como se dissessem: céu azul é ameaça de tempestade.
Armínio Fraga, presidente do Banco Central e depositário da competência existente na área econômica do governo, tem usado uma expressão para resumir sua apreensão aguda: "Os ventos estão contra". São correntes de ar americanas, européias, asiáticas e argentinas, às quais a vulnerabilidade continuada da economia brasileira está exposta.
Tente entender: vamos bem, mas estamos mal.
Não só pelas correntes de ar, porém. A desnacionalização da economia brasileira é monstruosa, em qualquer sentido dessa palavra. Os bilhões de "dólares de investimento" que continuam entrando nada criam nas atividades produtivas, nada trazem para suprir carências: só compram, compram, compram o que já existia. Pouco resta de brasileiro nas atividades econômicas do Brasil. Em setores inteiros nada resta. Em outros, nem se percebeu que vão deixando de ser brasileiros -até o das farmácias, por exemplo.
Fernando Henrique Cardoso tem conhecimento notório do poder das multinacionais. Seu governo, já ao fim do sexto ano, só teve até agora duas políticas: com uma das mãos, segura o real e, com a outra, faz a desnacionalização acelerada e indiscriminada do Brasil, passando a produção, o sistema bancário, os serviços e o grande comércio para multinacionais.
O efeito essencial da desnacionalização é claro: "se as multinacionais começarem "a impor aquilo que nós (o Brasil) não queremos, pobre de nós", porque elas têm muita força". O pobre no singular é por conta do autor: Fernando Henrique Cardoso na quinta-feira, portanto, sem tempo ainda de esquecer o que disse.
É fácil entender: não falta nem a declaração-confissão de que a vulnerabilidade a que o Brasil foi levado seria motivo bastante, não fosse o arranjo político no Congresso, para exame de impeachment, por desídia, quebra da soberania nacional e transgressão dos deveres constitucionais.

O aliado
A iniciativa do senador Eduardo Suplicy, de cobrar explicações ao Senado do apoio dado pelo governo brasileiro a Fujimori, quando muitos países o condenavam por reeleger-se com fraudes eleitorais, está limitada por uma formalidade: o convocado à Comissão de Relações Exteriores do Senado tem que ser o ministro Luiz Felipe Lampreia.
A defesa de Fujimori foi, porém, decidida à margem do Ministério das Relações Exteriores. Fernando Henrique Cardoso decidiu-a, em conformidade com o acordo de apoio pessoal mútuo, entre ele, Fujimori e Menem (este, e não Sérgio Motta como pensam muitos, foi o lançador da proposta de reeleição no Brasil e, depois, da candidatura de Fernando Henrique).
Lampreia não pode dizer a única frase que deveria dizer: aplicou, com seus faustosos e banqueteiros diplomatas, o combinado em telefonema entre Fernando Henrique e Fujimori, na época divulgado como simples coleta de informações sobre a situação política peruana logo após a rerreeleição.

Os paralisados
Entre as grandes cidades brasileiras, nenhuma tem o trânsito mais fluente que o do Rio. Na sexta-feira, porém, o Rio viveu um inferno viário sem precedentes. Centenas de taxistas, dizem outros terem sido milhares, bloquearam as vias de interligação dos bairros ao centro, trancaram os carros e se afastaram a pé, levando as chaves. Houve muitas consequências graves, por exemplo na movimentação necessária a ambulâncias, médicos e policiais.
Taxis são concessões públicas. Para serviço de transporte. Se, em vez dele, impedem todos os transportes e paralisam uma cidade, sob o falso pretexto de manifestação contra uma liminar judicial, violaram as condições da concessão.
Os taxis foram multados, logo, suas identificações estão disponíveis. Ao prefeito, como responsável pelo poder concedente, e ao governador, como responsável pela ordem em todas as cidades do Estado, compete a obrigação legal de cassar as concessões de todos os que as usaram contra a população.
Luiz Paulo Conde e Anthony Garotinho só vêem nos taxistas uma força eleitoreira. Como os taxistas, o seu serviço público é assunto pessoal e secundário.


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