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SALÁRIO
Apesar da medida, FGV estima que a proporção de pobres no Rio continuará mais elevada do que a de São Paulo
Novo mínimo pode reduzir miséria no RJ
ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO
Mesmo com o maior salário mínimo do país, o Rio de Janeiro não
ficará com a menor proporção de
pobres entre as seis principais regiões metropolitanas do Brasil.
Estimativas conservadoras de
um levantamento do Centro de
Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostram que
o aumento do salário mínimo do
Rio de Janeiro para R$ 220 poderá
reduzir a proporção de pobres regional de 28% para 25,7%.
Na região metropolitana de
Porto Alegre, essa proporção é de
17%; na de São Paulo, ela é de 23%
e, na de Belo Horizonte, 25%.
O conceito de pobreza, no caso,
é dado pela soma dos rendimentos dos membros de uma família,
dividido pelo número de pessoas
que moram num mesmo domicílio. Em São Paulo, essa linha de
pobreza fica definida quando essa
"renda individual" está abaixo de
R$ 60, e um pouco mais abaixo
para as demais regiões.
Um acompanhamento de reajustes anteriores do salário mínimo na proporção de pobres mostra que esse grupo chegou a cair
15,8% em maio de 1995, quando o
piso nacional subiu 40% (de R$ 70
para R$ 100) -algo próximo aos
46% aprovados pela Assembléia
Legislativa do Rio de Janeiro na
semana passada.
O pesquisador Marcelo Neri,
chefe do Centro de Políticas Sociais da fundação, informa que o
efeito dessa vez não será tão grande -ele calcula algo em torno de
8%- devido ao grande número
de aposentados no Estado, que seriam beneficiados pelo reajuste
do salário mínimo federal, o que
ainda está na pauta de discussões
do Congresso Nacional, e não
com o reajuste estadual.
No Rio de Janeiro, 18% da renda
vem do pagamento de pensões e
aposentadorias, contra uma média de 12% nas demais regiões
metropolitanas. "Apesar da fama
e do estereótipo de jovens bronzeados nas praias do Rio, a população idosa é grande", diz Neri.
Desemprego
Junto com a melhora da situação de quem trabalha, virá o aumento do desemprego e da informalidade. Neri diz que o reajuste
do mínimo, que passará de R$ 151
para R$ 220 a partir de dezembro,
é uma loteria. "Não será surpresa
se a pobreza em função da renda
cair muito rapidamente", diz Neri. "O problema é que, para algumas pessoas, a renda pode cair a
zero", afirmou.
"O Rio virou um laboratório a
céu aberto. As pesquisas de emprego do IBGE de janeiro e fevereiro já vão mostrar os impactos.
Resta aos demais Estados aprender com a lição daqui", diz.
As regiões mais pobres do Estado são as mais suscetíveis. Na região Noroeste fluminense, onde
estão 13 pequenos e pobres municípios do Rio, 27,8% dos ocupados recebem um salário mínimo.
No norte fluminense e na baixada, a proporção baixa para 16%,
mas continua bem acima da participação do salário mínimo na
renda de quem mora na região
metropolitana do Rio, de acordo
com os dados da FGV.
Apesar de ser um defensor do
piso regionalizado, o economista
acha que uma medida "tão drástica" não deveria ter sido tomada,
principalmente num momento
de inflação baixa. "Se errar na
mão do reajuste, não dá para voltar atrás", disse Neri, referindo-se
a possíveis pressões de consumo
na alta de preços.
O presidente da Fundação Cide
-um instituto de pesquisas ligado ao governo do Estado-, Epitácio Brunet, apesar de achar a
questão polêmica, acredita que o
salário mínimo constitui um instrumento poderoso para a reversão da pobreza.
Segundo Brunet, estima-se que
mais da metade (54%) da força de
trabalho do Estado esteja na economia informal. "Os informais
também usam o salário mínimo
como referência. Haverá um impacto significativo, com certeza",
acredita Brunet.
É histórico o destaque do Rio de
Janeiro como a região de menor
taxa de desemprego, dentre as seis
metropolitanas pesquisadas pelo
IBGE. Para o economista Lauro
Ramos, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o impacto do aumento do salário mínimo não chegará com muita força na taxa de desemprego local.
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