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Marca yanomami.com não está mais à venda
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O endereço www.yanomami.com não está mais à venda.
Sua proprietária, Mercedes Meier,
venezuelana radicada nos Estados Unidos, disse anteontem à
Folha não pretender mais vendê-lo por US$ 25 mil e que o doará
em três semanas a uma entidade
de defesa dos interesses indígenas
na Venezuela que não identificou.
Estima-se haver hoje 26 mil ianomami -15 mil na Venezuela e
11 mil no Brasil, onde se dividem
em 228 comunidades, numa área
de 96 mil quilômetros quadrados,
no Estado de Roraima.
Foi em janeiro que Meier registrou na Internet o domínio yanomami.com. Como ocorre com registros semelhantes, não foi preciso provar vínculos com a "marca"
ou um histórico de ligação com
aquela que é considerada a última
etnia ameríndia a ter mantido
contato com o homem branco.
A informação de que ela colocara o domínio à venda circulou há
dois meses em telegrama da agência "Reuters" e provocou a indignação de Davi Kopenawa Yanomami, um dos dirigentes da comunidade indígena.
"A senhora não é da nossa confiança. Nós não conhecemos a senhora. Eu quero que a senhora
pare de usar o nome dos ianomami", disse ele, em carta encaminhada a Meier em setembro.
Pouco antes, um dos dirigentes
da CCPY (Comissão Pró-Yanomami), Fernando Bittencourt, escrevera a Meier para pedir que ela
devolvesse a denominação, que
no futuro os próprios índios poderiam utilizar se um dia montassem um site num provedor norte-americano da Internet.
Em resposta, Meier propôs que
a CCPY, organização não-governamental criada em 1978 para lutar pela delimitação das terras daqueles índios, lançasse uma campanha que arrecadasse fundos para comprar dela a "marca" e em
seguida rentabilizasse o site, com
doações por cartão de crédito e
comercialização de livros ou produtos artesanais dos índios.
"Isso seria um absurdo", reagiu
Claudia Andujar, 69, uma das
fundadoras da CCPY e que foi
ainda há um mês agraciada pela
Fundação Lannan por seu trabalho junto aos ianomami.
Há 12 anos ela liderou ao lado
do então senador Severo Gomes
(PMDB-SP) uma bem-sucedida
campanha de pressão sobre o
Congresso Constituinte, em favor
do reconhecimento dos direitos
territoriais dos indígenas.
Fotógrafa, nascida na Suíça e
criada na Hungria, formada nos
Estados Unidos e fixada no Brasil
desde 1956, os grupos de defesa
das minorias étnicas reconhecem
seu papel no processo que desembocou no decreto de 1992 que delimitou a área daquele povo.
Há um outro endereço, o
www.yanomami.org, aberto e
mantido por um rapaz alemão de
21 anos, chamado Dennis Besseler. Existe também uma empresa
de Campinas (SP) que é proprietária do domínio www.yanomami.com.br. A Folha não conseguiu localizar seus proprietários.
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