São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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Marca yanomami.com não está mais à venda

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O endereço www.yanomami.com não está mais à venda. Sua proprietária, Mercedes Meier, venezuelana radicada nos Estados Unidos, disse anteontem à Folha não pretender mais vendê-lo por US$ 25 mil e que o doará em três semanas a uma entidade de defesa dos interesses indígenas na Venezuela que não identificou.
Estima-se haver hoje 26 mil ianomami -15 mil na Venezuela e 11 mil no Brasil, onde se dividem em 228 comunidades, numa área de 96 mil quilômetros quadrados, no Estado de Roraima.
Foi em janeiro que Meier registrou na Internet o domínio yanomami.com. Como ocorre com registros semelhantes, não foi preciso provar vínculos com a "marca" ou um histórico de ligação com aquela que é considerada a última etnia ameríndia a ter mantido contato com o homem branco.
A informação de que ela colocara o domínio à venda circulou há dois meses em telegrama da agência "Reuters" e provocou a indignação de Davi Kopenawa Yanomami, um dos dirigentes da comunidade indígena.
"A senhora não é da nossa confiança. Nós não conhecemos a senhora. Eu quero que a senhora pare de usar o nome dos ianomami", disse ele, em carta encaminhada a Meier em setembro.
Pouco antes, um dos dirigentes da CCPY (Comissão Pró-Yanomami), Fernando Bittencourt, escrevera a Meier para pedir que ela devolvesse a denominação, que no futuro os próprios índios poderiam utilizar se um dia montassem um site num provedor norte-americano da Internet.
Em resposta, Meier propôs que a CCPY, organização não-governamental criada em 1978 para lutar pela delimitação das terras daqueles índios, lançasse uma campanha que arrecadasse fundos para comprar dela a "marca" e em seguida rentabilizasse o site, com doações por cartão de crédito e comercialização de livros ou produtos artesanais dos índios.
"Isso seria um absurdo", reagiu Claudia Andujar, 69, uma das fundadoras da CCPY e que foi ainda há um mês agraciada pela Fundação Lannan por seu trabalho junto aos ianomami.
Há 12 anos ela liderou ao lado do então senador Severo Gomes (PMDB-SP) uma bem-sucedida campanha de pressão sobre o Congresso Constituinte, em favor do reconhecimento dos direitos territoriais dos indígenas.
Fotógrafa, nascida na Suíça e criada na Hungria, formada nos Estados Unidos e fixada no Brasil desde 1956, os grupos de defesa das minorias étnicas reconhecem seu papel no processo que desembocou no decreto de 1992 que delimitou a área daquele povo.
Há um outro endereço, o www.yanomami.org, aberto e mantido por um rapaz alemão de 21 anos, chamado Dennis Besseler. Existe também uma empresa de Campinas (SP) que é proprietária do domínio www.yanomami.com.br. A Folha não conseguiu localizar seus proprietários.


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