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GOVERNO
Defesa de renegociação da dívida pública feita por presidente do Senado gera queixa de Ministro a Lula e a Dirceu
Palocci reage a palpite econômico de Sarney
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em resposta a reações negativas
do mercado à defesa de renegociação da dívida pública em 2004,
feita pelo presidente do Senado,
José Sarney (PMDB-AP), o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) queixou-se ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Como descarta completamente
uma renegociação da dívida pública, Palocci reclamou com Lula
e com o ministro-chefe da Casa
Civil, José Dirceu, articulador político e membro da cúpula do governo que conversa com frequência com o presidente do Senado.
Em entrevista à Folha, publicada na última terça, Sarney disse
que era preciso "rediscutir os prazos, a estrutura da dívida" pública
do Brasil. "Ou se inverte isso [o
elevado pagamento de juros] ou
estamos realmente condenados a
renunciar ao destino nacional",
afirmou ele, um ex-presidente
que decretou moratória em seu
governo (1985-1990).
Na visão de Sarney, essa renegociação não podia ser feita em
2003, por ser o primeiro ano de
governo do PT, no qual o partido
deveria se mostrar responsável.
Com a recuperação da credibilidade, Sarney disse que, em 2004,
"os credores internacionais têm
que compreender".
Ao perceber a repercussão negativa da entrevista, Palocci teve
conversas com Lula e Dirceu dizendo que as palavras do peemedebista "não ajudavam em nada"
do ponto de vista econômico.
Na mesma terça-feira, investidores procuraram informações
no governo sobre uma medida secreta para este final de ano ou para o início do próximo que poderia estar escondida sob as declarações de Sarney, um dos principais
aliados do governo.
Na avaliação do mercado, Sarney poderia estar transmitindo
um recado. O ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), que
foi candidato à Presidência em
2002, defendia na campanha um
"alongamento do perfil da dívida". Ou seja, a reestruturação pregada por Sarney. Como Sarney e
Ciro estão bem na cúpula do governo, o mercado se assustou. Palocci ficou contrariado e procurou Lula e Dirceu para tratar da
repercussão da entrevista.
Nas palavras do ministro da Fazenda, a declaração de Sarney afetou negativamente o mercado financeiro num momento de calma
natural, seja pela redução do volume de negócios no final de ano,
seja pelas previsões futuras de pequena inflação em 2004 e de um
crescimento econômico de mais
de 3% no ano que vem.
A contrariedade de Palocci chegou a Sarney. Segundo a Folha
apurou, interlocutores de Lula e
Dirceu transmitiram ao presidente do Senado, em termos mais
cordatos, a avaliação de Palocci.
Nos bastidores, o ministro ficou
tão chateado que afirmou que a
moratória da dívida decretada no
governo Sarney custou caro ao
Brasil e tem reflexos negativos até
hoje, lançando dúvida sobre a
convicção da classe política brasileira contra "calotes".
Palocci passou o ano de 2003 na
condução de um forte ajuste fiscal, com superávit primário de
4,25% do PIB (Produto Interno
Bruto), para dar um choque de
credibilidade no mercado e afastar os temores dos investidores de
um eventual calote da dívida.
O superávit primário é a principal meta fiscal do acordo com o
FMI. Palocci avalia que o risco-país (indicador que mede a capacidade do país de honrar seus
compromissos) caiu para menos
de 500 pontos (tecnicamente isso
significa que o Tesouro do Brasil
paga juros 5 pontos percentuais
acima dos juros do Tesouro dos
EUA) graças ao elevado superávit.
Para Palocci, a saída para diminuir a relação da dívida com o PIB
é continuar o ajuste fiscal e não
reestruturar o débito.
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