São Paulo, segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

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BRASIL DESIGUAL

Nas regiões Norte e Nordeste, maior parte da renda da população pobre vem de programas sociais do governo

Dependência estatal é maior em Estados pobres

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Em alguns Estados, a dependência de fontes de renda que não o trabalho da população mais pobre chega quase ao total do rendimento, sendo o principal componente que não vem do trabalho os programas de transferência de renda. É o que mostra estudo do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
Isso acontece principalmente em Estados menos desenvolvidos, como Roraima, Amapá, Maranhão, Alagoas, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Nesses, menos de um terço da renda total dos 10% mais pobres vem do trabalho. Em Roraima, onde o quadro é mais acentuado, apenas 12,5% da renda da população mais pobre vem do trabalho.
Em seguida aparecem Amapá (20%), Maranhão (23%), Alagoas (30,8%) e Piauí (32,6%). Em 14 Estados, a renda do trabalho representa menos da metade da renda total dos 10% mais pobres.
No caso de Maranhão e Piauí, fica claro pelas análises do Cebrap que a dependência de outras fontes de renda foi criada após 1995. Há dez anos, os 10% mais pobres do Maranhão tinham quase a totalidade (97,2%) de sua renda vinda do trabalho. Na maioria dos Estados, ela era superior a 80%.
O alto grau de dependência de outras fontes de renda dos pobres de Estados menos desenvolvidos fica evidente na comparação com os 10% mais pobres de Estados mais desenvolvidos. No Rio e em São Paulo, a porcentagem de renda do trabalho entre os 10% mais pobres é maior do que 70%.
Entre os Estados menos desenvolvidos, o quadro é ainda mais grave, porque os mais pobres têm rendimento total muito menor em comparação com os mais pobres de outros Estados.
No Maranhão e Piauí, a renda dos 10% mais pobres é a menor na comparação com os outros Estados e não passa de R$ 17. O rendimento dos extremamente pobres do Maranhão representa apenas 11,3% do dos extremamente pobres em São Paulo (R$ 150).
O sociólogo Álvaro Comin, autor do estudo, destaca que na comparação entre os Estados há uma diferença brutal na desigualdade entre os extremos de riqueza e pobreza. No Maranhão, são necessários 120 trabalhadores no extremo mais pobre para igualar a renda de um único do extremo mais rico. No Piauí, essa relação é de 113. As menores relações são encontradas no Amazonas (19), Santa Catarina (20), São Paulo (28) e Rio de Janeiro (28).


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