São Paulo, terça, 27 de janeiro de 1998.



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Estradas aceleraram desflorestamento

da Redação

A floresta amazônica permaneceu praticamente intacta até a década de 60. As atividades produtivas -basicamente extrativistas- não chegavam a afetar a mata.
O transporte dos produtos era feito por via fluvial, o que também contribuía para a preservação da floresta. Naquele ano, a região só tinha 6.000 km de estradas, dos quais menos de 300 asfaltados.
Esse isolamento relativo resguardou a vegetação nativa. Um levantamento do WWF (Fundo Mundial para a Vida Selvagem), divulgado em 97, revela que o desmatamento atingiu 41% das florestas latino-americanas, em contraste com as asiáticas (88% de desmatamento) e européias (62%).
O isolamento da Amazônia começou a ser quebrado em 1964, com a abertura da rodovia Belém-Brasília. Com 1.900 km, a BR-010 estimulou a expansão da pecuária (e atividades subsidiárias) nas regiões adjacentes. De 1960 a 1970, a população na zona de influência da estrada passou de 100 mil para 2 milhões de pessoas.
Em 1970, o governo Emílio Médici instituiu o Programa de Integração Nacional, que forneceu recursos para a abertura de 15.000 km de estradas, incluindo a Transamazônica (o primeiro trecho foi inaugurado em 72) e da Cuiabá-Santarém (completada em 76).
O Incra tentou criar uma rede de agrovilas ao longo dessas estradas, mas a iniciativa não teve sucesso: as terras não eram férteis, e o desmatamento provocou um crescimento da malária. O fracasso dos assentamentos protegeu a floresta.
Em 1968, a construção da Cuiabá-Porto Velho (BR-364) abriu uma nova frente de desmatamento em Mato Grosso e Rondônia. A descoberta de jazidas minerais (cassiterita e ouro) na região, conjugada com a distribuição de lotes para pequenos produtores, impulsionou a ocupação da região.

Megaprojetos
O fracasso da Transamazônica induziu o governo a substituir a colonização baseada na pequena propriedade pelos megaprojetos.
O Polamazônia (Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia), de 74, conjugava a construção de uma infra-estrutura com a concessão de subsídios para as empresas privadas.
O mais conhecido dos megaprojetos é o Grande Programa Carajás, que cobre uma superfície de 895.000 km2, mais de 10% da área total do país. Além de assegurar o fornecimento de energia elétrica (a hidrelétrica de Tucuruí começou a operar em 1984) e transporte ferroviário, o Estado também concedeu grandes incentivos fiscais.
O crédito governamental incentivou a destruição da floresta por projetos agropecuários. Os Estados mais atingidos são Pará, Mato Grosso e Rondônia.
A devastação foi acompanhada pela proliferação de associações ambientalistas no país (em geral localizadas no Sul e Sudeste). A primeira associação surgiu em 1971, em Porto Alegre -um ano antes da conferência da ONU sobre meio ambiente, em Estocolmo. A maioria das associações é criada após 1974, quando começa o processo de "distensão".



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