São Paulo, terça, 27 de janeiro de 1998.



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AMAZÔNIA
Ministros começam a divulgar dados com otimismo, mas acabam assumindo aumento na devastação da floresta
Desmatamento é recorde no governo FHC

BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local

O governo Fernando Henrique Cardoso "comemorou" ontem a quebra no recorde histórico de desmatamento da Amazônia: 29.059 km2 em 1995, contra 21.130 km2/ano, registrada no período 1978-1988, a maior marca anterior.
Com isso, 12,9% da área de floresta da Amazônia Legal, estimada em 4 milhões de km2 já estão devastados.
Na área desmatada em 95 cabe com folga o Estado de Alagoas (27.933 km2). Como em 96 o desmatamento atingiu 18.161 km2 da Amazônia, nos dois primeiros anos do governo FHC que desapareceu uma área de floresta correspondente ao Estado do Espírito Santo (45.733 km2).
"Temos uma situação relativamente confortável", disse o ministro da Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas, ao ser perguntado se esperava um impacto negativo no exterior da divulgação dos números do desmatamento da Amazônia no governo FHC.
"Os resultados são bons e mostram que o governo está agindo para reduzir o desmatamento. Seria uma profunda decepção para mim se os ambientalistas internacionais ficarem 'borboleteando' esses dados", emendou o ministro do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, Gustavo Krause.
As declarações de Vargas e Krause foram feitas em entrevista depois da divulgação das taxas de desmatamento da Amazônia na sede do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em São José dos Campos (a 97 quilômetros de São Paulo).
A apresentação do levantamento, feito por meio de interpretação de imagens geradas pelo satélite Landsat, foi marcada por um tom otimista. Como o Inpe é vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, coube a Vargas fazer a abertura da apresentação.
Ele destacou a qualidade técnica do levantamento e adiantou que os números mostrariam "redução considerável do desmatamento da Amazônia".
Segundo ele, essa melhoria reflete o cancelamento de incentivos fiscais para projetos agropecuários na Amazônia, o decreto que determinou a interrupção temporária de novos projetos de extração de mogno e virola e a melhoria da fiscalização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Para justificar o otimismo, o diretor do Inpe, Márcio Barbosa, destacou a queda considerável do desmatamento em 96 em relação a 95. Além disso, o Inpe fez uma projeção que aponta uma queda da taxa de desmatamento para 13.037 km2 em 97.
A projeção para 97 foi feita com base em 47 imagens do Landsat, escolhidas por representar historicamente as áreas mais críticas de desmatamento na região. O levantamento completo, retratando a taxa de desmatamento de 95 e 96 tomou por base 229 imagens que cobrem toda a Amazônia.
Segundo Barbosa, a margem de erro da projeção em relação ao levantamento completo é de até 5%.

Críticas
O otimismo do governo FHC com a projeção da taxa de desmatamento de 97 é criticado por entidades ambientalistas respeitadas, como o Instituto Sócio-Ambiental, a Amigos da Terra e o Greenpeace, que acompanharam ontem a divulgação do relatório do Inpe.
João Paulo Capobianco, diretor do Instituto Sócio-Ambiental, lembra que o governo Fernando Collor chegou a comemorar a inversão para baixo da curva de desmatamento na Amazônia.
A comemoração se baseou no levantamento do Inpe referente ao ano de 91, que apontou uma taxa de 11.130 mil km2, quase 2 mil km2 inferior à projeção para 97.
Depois do bom resultado de 91, a taxa de desmatamento anual da Amazônia subiu continuamente até chegar ao pico de 95. "Temos receio de que o governo FHC subestime a possibilidade de uma nova escalada no desmatamento da Amazônia", diz Capobianco.
Ao serem questionados sobre o recorde de 95 e o fato de a taxa de 96 ser pouco inferior ao pico anterior (78-88), Krause reconheceu que não havia motivos para comemoração: "Realmente os números não são confortáveis e por isso o governo está adotando uma série de medidas para conter o desmatamento na Amazônia".
Krause divulgou 13 medidas de combate ao desmatamento. São 5 decretos, 1 projeto de lei, protocolos e convênios entre os Ministérios da Reforma Agrária, Meio Ambiente e Agricultura.
Cinco das medidas se referem à política de assentamentos de sem-terra.



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