|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMAZÔNIA
Ministros começam a divulgar dados com otimismo, mas acabam assumindo aumento na devastação da floresta
Desmatamento é recorde no governo FHC
BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local
O governo Fernando Henrique
Cardoso "comemorou" ontem a
quebra no recorde histórico de
desmatamento da Amazônia:
29.059 km2 em 1995, contra 21.130
km2/ano, registrada no período
1978-1988, a maior marca anterior.
Com isso, 12,9% da área de floresta da Amazônia Legal, estimada
em 4 milhões de km2 já estão devastados.
Na área desmatada em 95 cabe
com folga o Estado de Alagoas
(27.933 km2). Como em 96 o desmatamento atingiu 18.161 km2 da
Amazônia, nos dois primeiros
anos do governo FHC que desapareceu uma área de floresta correspondente ao Estado do Espírito
Santo (45.733 km2).
"Temos uma situação relativamente confortável", disse o ministro da Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas, ao ser perguntado
se esperava um impacto negativo
no exterior da divulgação dos números do desmatamento da Amazônia no governo FHC.
"Os resultados são bons e mostram que o governo está agindo
para reduzir o desmatamento. Seria uma profunda decepção para
mim se os ambientalistas internacionais ficarem 'borboleteando'
esses dados", emendou o ministro do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal,
Gustavo Krause.
As declarações de Vargas e Krause foram feitas em entrevista depois da divulgação das taxas de
desmatamento da Amazônia na
sede do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), em São
José dos Campos (a 97 quilômetros de São Paulo).
A apresentação do levantamento, feito por meio de interpretação
de imagens geradas pelo satélite
Landsat, foi marcada por um tom
otimista. Como o Inpe é vinculado
ao Ministério da Ciência e Tecnologia, coube a Vargas fazer a abertura da apresentação.
Ele destacou a qualidade técnica
do levantamento e adiantou que os
números mostrariam "redução
considerável do desmatamento da
Amazônia".
Segundo ele, essa melhoria reflete o cancelamento de incentivos
fiscais para projetos agropecuários
na Amazônia, o decreto que determinou a interrupção temporária
de novos projetos de extração de
mogno e virola e a melhoria da fiscalização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Para justificar o otimismo, o diretor do Inpe, Márcio Barbosa,
destacou a queda considerável do
desmatamento em 96 em relação a
95. Além disso, o Inpe fez uma
projeção que aponta uma queda
da taxa de desmatamento para
13.037 km2 em 97.
A projeção para 97 foi feita com
base em 47 imagens do Landsat,
escolhidas por representar historicamente as áreas mais críticas de
desmatamento na região. O levantamento completo, retratando a
taxa de desmatamento de 95 e 96
tomou por base 229 imagens que
cobrem toda a Amazônia.
Segundo Barbosa, a margem de
erro da projeção em relação ao levantamento completo é de até 5%.
Críticas
O otimismo do governo FHC
com a projeção da taxa de desmatamento de 97 é criticado por entidades ambientalistas respeitadas,
como o Instituto Sócio-Ambiental, a Amigos da Terra e o Greenpeace, que acompanharam ontem
a divulgação do relatório do Inpe.
João Paulo Capobianco, diretor
do Instituto Sócio-Ambiental,
lembra que o governo Fernando
Collor chegou a comemorar a inversão para baixo da curva de desmatamento na Amazônia.
A comemoração se baseou no levantamento do Inpe referente ao
ano de 91, que apontou uma taxa
de 11.130 mil km2, quase 2 mil km2
inferior à projeção para 97.
Depois do bom resultado de 91, a
taxa de desmatamento anual da
Amazônia subiu continuamente
até chegar ao pico de 95. "Temos
receio de que o governo FHC subestime a possibilidade de uma
nova escalada no desmatamento
da Amazônia", diz Capobianco.
Ao serem questionados sobre o
recorde de 95 e o fato de a taxa de
96 ser pouco inferior ao pico anterior (78-88), Krause reconheceu
que não havia motivos para comemoração: "Realmente os números não são confortáveis e por isso
o governo está adotando uma série
de medidas para conter o desmatamento na Amazônia".
Krause divulgou 13 medidas de
combate ao desmatamento. São 5
decretos, 1 projeto de lei, protocolos e convênios entre os Ministérios da Reforma Agrária, Meio
Ambiente e Agricultura.
Cinco das medidas se referem à
política de assentamentos de
sem-terra.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|