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PECADO CAPITAL
Funcionários autorizados a usar sistema podem chegar a 27 mil
Governo quer aumentar
o uso de cartões de crédito
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva baixou decreto com novas
regras para o uso dos cartões de
crédito corporativos, mas, em vez
de limitar os crescentes saques em
dinheiro -considerados uma
ameaça à transparência dos gastos públicos-, a intenção do governo é ampliar o uso dos cartões
na administração pública.
Segundo o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do
Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, mais de 27 mil
funcionários públicos poderiam
ser titulares de cartões para pagamentos de pequenas despesas em
seus respectivos órgãos -nove
vezes o atual número de cartões.
No domingo, reportagem da
Folha mostrou que os saques
-autorizados pela legislação em
caráter excepcional- haviam se
transformado numa rotina cara
sob Lula. Os saques em dinheiro
vivo feitos por funcionários da
Presidência com os 48 cartões, em
2003 e em 2004, totalizaram quase
R$ 6 milhões. Os gastos com cartões na Presidência somaram
R$ 16,7 milhões nos dois primeiros anos de mandato de Lula.
Num único mês de 2004, um
funcionário do departamento de
documentação do Planalto sacou
em dinheiro R$ 78 mil, o suficiente para quatro passagens de São
Paulo a Paris, ida e volta, em primeira classe. A Presidência não
informa a que autoridade o funcionário está vinculado. Em janeiro de 2004, a fatura do cartão do
mesmo funcionário, descontados
os saques em dinheiro, alcançara
R$ 287,7 mil. Daria para comprar
15 carros populares.
O decreto publicado na edição
de ontem do "Diário Oficial" da
União só proíbe os saques em dinheiro para o pagamento de passagens aéreas. Isso já contrariava
as atuais regras, que só autorizam
saque para pagamento de bens e
serviços em estabelecimentos que
não aceitam cartões.
Em relatório votado pelo Tribunal de Contas da União em novembro passado, o ministro Marcos Vilaça recomendou à Secretaria de Administração da Presidência que cumprisse o "caráter
excepcional" da realização de saques com os cartões. Diante dos
sinais de excesso no uso dos cartões, o tribunal determinava que
fossem observados "os princípios
de prudência administrativa".
Os saques em dinheiro tiram a
transparência dos gastos públicos
porque não deixam nem o nome
dos estabelecimentos de compra
registrados nas faturas dos cartões de crédito. No caso dos gastos da Presidência, o destino do
dinheiro público não é revelado
com base numa regra baixada em
dezembro de 2003 pelo Gabinete
de Segurança Institucional.
"Questões de segurança" amparam o sigilo das informações.
Padaria
Embora as principais recomendações do TCU tenham sido ignoradas pelo decreto de Lula, o secretário do Ministério do Planejamento considera que o governo
fez o que tinha de fazer. Informou
que o uso dos cartões de crédito
deverá substituir as contas abertas em nome de funcionários para
despesas de pequeno valor. O
principal benefício seria unificar o
pagamento desse tipo de despesas
num único dia -vencimento das
faturas. Isso não ocorre no caso
dos saques em dinheiro vivo.
"São despesas pequenas, compras em padaria, pagamento de
um táxi, fica mais barato assim",
disse Rogério Santanna.
O ministro Nelson Machado
(Planejamento), que assina o decreto junto com Lula e Antonio
Palocci (Fazenda), comemorou a
medida. "Governo dá mais transparência ao uso do cartão corporativo", anuncia o texto distribuído pelo Planejamento. Machado
mencionou que o cartão pode ser
usado na compra de materiais e
de serviços de pronto pagamento,
"como um chaveiro".
O decreto também autoriza os
ministros do Planejamento e da
Fazenda a editarem regras complementares para os cartões.
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