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FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
UE diz que pressões para bloco melhorar proposta sobre subsídios agrícolas não são produtivas, e negociações em Davos devem fracassar
Europa acusa Brasil e EUA de "enterrar" Doha
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O tiroteio da União Européia
contra Brasil e Estados Unidos recomeçou ontem, exatamente do
ponto em que estava antes e durante a Conferência Ministerial da
Organização Mundial do Comércio em Hong Kong, há pouco
mais de um mês. O grave é que se
esteja no mesmo ponto apesar de
faltar apenas três meses para abril,
mês em que os próprios contendores fixaram para tentar tirar do
pântano a Rodada Doha de Desenvolvimento, lançada na capital
do Qatar em 2001.
Pior: o prazo original de Doha já
venceu (era 2005).
Ontem, antevéspera de uma
reunião miniministerial em Davos, Peter Mandelson, o comissário europeu do Comércio, disse
que Brasil e Estados Unidos correm o risco de "sepultar" Doha se
continuarem insistindo, conjuntamente, em uma oferta agrícola
mais generosa dos europeus.
O chanceler brasileiro, Celso
Amorim, respondeu com humor:
"Davos é mais conhecida como
cidade para curar males dos pulmões, não para ser cemitério".
De fato, esta cidadezinha de 13
mil habitantes, encravada nos Alpes suíços, é famosa como sanatório para doentes dos pulmões.
Nela, passa-se a novela "Montanha Mágica", do escritor alemão
Thomas Mann. "Quem sabe um
pouco de mágica não ajuda"?,
brincou ainda Amorim.
Robert Portman, responsável
pelo comércio exterior norte-americano, não foi bem-humorado mas tampouco foi agressivo na
resposta a Mandelson. Disse que
os acenos europeus de melhorar a
sua oferta agrícola apenas na área
de "produtos sensíveis" é insuficiente.
"Não acho que possamos alcançar os objetivos de Doha sem uma
fórmula de redução tarifária que
abra mais acesso aos mercados",
disse ele.
Mandelson, ao contrário, acha
que a proposta européia permite,
sim, mais acesso ao seu mercado.
Cita o caso da carne, área em que
a oferta européia já permite, afirma o comissário, importações
adicionais de 800 mil toneladas de
carne bovina e 300 mil toneladas
de carne de frango.
Esse tipo de tiroteio verbal antecedeu os preparativos para a Ministerial de Hong Kong, na qual o
único avanço foi fixar a data para
o fim dos subsídios às exportações agrícolas (2013, com uma
parte substancial já em 2010).
O magro avanço de Hong Kong
fez com que os principais países
da OMC decidissem organizar
uma nova reunião, com menos
parceiros (cerca de 30), em Davos,
aproveitando o encontro anual do
Fórum Econômico Mundial que
já traria vários ministros aos Alpes suíços.
Chances mínimas
Mas a repetição de posições que
levaram Hong Kong à beira do
colapso indica que as chances de
avanço são mínimas. Celso Amorim já trata de dizer que não haverá negociação em Davos e, portanto, ninguém deve esperar progressos "espetaculares".
Nem por isso deixa de anunciar
que fará pressão para tentar arrancar dos europeus alguma coisa
que crie uma dinâmica favorável
até a reunião de abril, cujo formato (Ministerial, miniministerial,
um grupo pequeno de países)
nem está definida.
No fundo, diz o ministro, trata-se mais de criar movimento, no
pressuposto de que "ficar parado
tende a fazer o processo andar para trás".
(CLÓVIS ROSSI)
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