São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

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FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

UE diz que pressões para bloco melhorar proposta sobre subsídios agrícolas não são produtivas, e negociações em Davos devem fracassar

Europa acusa Brasil e EUA de "enterrar" Doha

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O tiroteio da União Européia contra Brasil e Estados Unidos recomeçou ontem, exatamente do ponto em que estava antes e durante a Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio em Hong Kong, há pouco mais de um mês. O grave é que se esteja no mesmo ponto apesar de faltar apenas três meses para abril, mês em que os próprios contendores fixaram para tentar tirar do pântano a Rodada Doha de Desenvolvimento, lançada na capital do Qatar em 2001.
Pior: o prazo original de Doha já venceu (era 2005).
Ontem, antevéspera de uma reunião miniministerial em Davos, Peter Mandelson, o comissário europeu do Comércio, disse que Brasil e Estados Unidos correm o risco de "sepultar" Doha se continuarem insistindo, conjuntamente, em uma oferta agrícola mais generosa dos europeus.
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, respondeu com humor: "Davos é mais conhecida como cidade para curar males dos pulmões, não para ser cemitério".
De fato, esta cidadezinha de 13 mil habitantes, encravada nos Alpes suíços, é famosa como sanatório para doentes dos pulmões. Nela, passa-se a novela "Montanha Mágica", do escritor alemão Thomas Mann. "Quem sabe um pouco de mágica não ajuda"?, brincou ainda Amorim.
Robert Portman, responsável pelo comércio exterior norte-americano, não foi bem-humorado mas tampouco foi agressivo na resposta a Mandelson. Disse que os acenos europeus de melhorar a sua oferta agrícola apenas na área de "produtos sensíveis" é insuficiente.
"Não acho que possamos alcançar os objetivos de Doha sem uma fórmula de redução tarifária que abra mais acesso aos mercados", disse ele.
Mandelson, ao contrário, acha que a proposta européia permite, sim, mais acesso ao seu mercado. Cita o caso da carne, área em que a oferta européia já permite, afirma o comissário, importações adicionais de 800 mil toneladas de carne bovina e 300 mil toneladas de carne de frango.
Esse tipo de tiroteio verbal antecedeu os preparativos para a Ministerial de Hong Kong, na qual o único avanço foi fixar a data para o fim dos subsídios às exportações agrícolas (2013, com uma parte substancial já em 2010).
O magro avanço de Hong Kong fez com que os principais países da OMC decidissem organizar uma nova reunião, com menos parceiros (cerca de 30), em Davos, aproveitando o encontro anual do Fórum Econômico Mundial que já traria vários ministros aos Alpes suíços.

Chances mínimas
Mas a repetição de posições que levaram Hong Kong à beira do colapso indica que as chances de avanço são mínimas. Celso Amorim já trata de dizer que não haverá negociação em Davos e, portanto, ninguém deve esperar progressos "espetaculares".
Nem por isso deixa de anunciar que fará pressão para tentar arrancar dos europeus alguma coisa que crie uma dinâmica favorável até a reunião de abril, cujo formato (Ministerial, miniministerial, um grupo pequeno de países) nem está definida.
No fundo, diz o ministro, trata-se mais de criar movimento, no pressuposto de que "ficar parado tende a fazer o processo andar para trás". (CLÓVIS ROSSI)

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