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Geopolítica
de Lula agrada
a petroquímica
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
As relações do governo Lula
com os presidentes esquerdistas
Evo Morales (Bolívia) e Hugo
Chávez (Venezuela), tão criticadas por setores empresariais, são,
no entanto, capazes de resultar
em bons negócios potenciais para
a petroquímica. Ou, mais exatamente, para a Braskem, controlada pelo grupo Odebrechet.
A Braskem (3.300 funcionários,
R$ 12 bilhões de receita líquida
em 2005) está negociando com
Bolívia e Venezuela projetos conjuntos de aproveitamento do gás,
que envolvem no total US$ 1,2 bilhão, sendo US$ 900 milhões na
fronteira Brasil/Bolívia.
"Nesse ponto, a geopolítica brasileira acaba sendo uma vantagem", diz José Carlos Grubisich,
executivo-chefe da empresa.
Por quê? Porque os concorrentes se assustam com o radicalismo, suposto ou real, de Morales e
Chávez e deixam o campo livre
para a empresa brasileira.
Tão livre que o presidente Evo
Morales, antes mesmo de ser eleito, já havia dado sinal verde para a
negociação, que Grubisich pretende concluir até o fim do primeiro semestre deste ano.
Gás boliviano
A Braskem usará o gás boliviano, a principal riqueza do país,
para produzir polietileno, o tipo
mais popular de material plástico
(usado, por exemplo, em sacos de
lixo ou de supermercado).
Os entendimentos em curso
com Bolívia e Venezuela fazem
parte de uma política de processar
mais o material plástico, para
acrescentar valor.
Hoje, o Brasil exporta, por
exemplo, matéria plástica básica
para a China, entre outros países.
Mas corre o risco de receber de
volta o plástico já processado, na
forma, por exemplo, de baldes de
plástico -o que acaba por ser
ruim para a balança comercial, ao
exportar produto básico, de menor valor, e importar o mesmo
produto já manufaturado, com
maior valor agregado.
Acrescentar valor aos produtos
do seu setor não é a única inquietação de Grubisich. Ele gostaria de
acrescentar valor também ao dólar, na comparação com o real.
Como praticamente toda a sua
operação é dolarizada, a queda de
19% do dólar diante do real, no
ano passado, exigiu um esforço
extraordinário da empresa para
manter o lucro.
Grubisich avisa, entretanto, que
se o empresariado perceber que o
câmbio "se manterá estruturalmente forte", vai procurar outros
lugares para investir e manter os
clientes externos.
Não é o caso da Braskem, porque a petroquímica depende da
proximidade com a matéria-prima que utiliza, mas pode ser o caso, entre outros, dos setores têxtil
e de calçados, cujas exportações já
foram afetadas pela valorização
do real.
Na prática, significará a transferência de empregos que hoje estão no Brasil para o exterior.
(CR)
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