São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

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Geopolítica de Lula agrada a petroquímica

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

As relações do governo Lula com os presidentes esquerdistas Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela), tão criticadas por setores empresariais, são, no entanto, capazes de resultar em bons negócios potenciais para a petroquímica. Ou, mais exatamente, para a Braskem, controlada pelo grupo Odebrechet.
A Braskem (3.300 funcionários, R$ 12 bilhões de receita líquida em 2005) está negociando com Bolívia e Venezuela projetos conjuntos de aproveitamento do gás, que envolvem no total US$ 1,2 bilhão, sendo US$ 900 milhões na fronteira Brasil/Bolívia.
"Nesse ponto, a geopolítica brasileira acaba sendo uma vantagem", diz José Carlos Grubisich, executivo-chefe da empresa.
Por quê? Porque os concorrentes se assustam com o radicalismo, suposto ou real, de Morales e Chávez e deixam o campo livre para a empresa brasileira.
Tão livre que o presidente Evo Morales, antes mesmo de ser eleito, já havia dado sinal verde para a negociação, que Grubisich pretende concluir até o fim do primeiro semestre deste ano.

Gás boliviano
A Braskem usará o gás boliviano, a principal riqueza do país, para produzir polietileno, o tipo mais popular de material plástico (usado, por exemplo, em sacos de lixo ou de supermercado).
Os entendimentos em curso com Bolívia e Venezuela fazem parte de uma política de processar mais o material plástico, para acrescentar valor.
Hoje, o Brasil exporta, por exemplo, matéria plástica básica para a China, entre outros países.
Mas corre o risco de receber de volta o plástico já processado, na forma, por exemplo, de baldes de plástico -o que acaba por ser ruim para a balança comercial, ao exportar produto básico, de menor valor, e importar o mesmo produto já manufaturado, com maior valor agregado.
Acrescentar valor aos produtos do seu setor não é a única inquietação de Grubisich. Ele gostaria de acrescentar valor também ao dólar, na comparação com o real. Como praticamente toda a sua operação é dolarizada, a queda de 19% do dólar diante do real, no ano passado, exigiu um esforço extraordinário da empresa para manter o lucro.
Grubisich avisa, entretanto, que se o empresariado perceber que o câmbio "se manterá estruturalmente forte", vai procurar outros lugares para investir e manter os clientes externos.
Não é o caso da Braskem, porque a petroquímica depende da proximidade com a matéria-prima que utiliza, mas pode ser o caso, entre outros, dos setores têxtil e de calçados, cujas exportações já foram afetadas pela valorização do real.
Na prática, significará a transferência de empregos que hoje estão no Brasil para o exterior.
(CR)


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