São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Biógrafos de Jango afirmam não haver prova de assassinato

Mas Jorge Ferreira diz que ela não pode ser descartada; para Marco Villa, afirmação é tentativa de reescrever história

Serafim Jardim, que foi secretário particular de JK e escreveu um livro sobre seu suposto assassinato, afirma que "muita coisa ficou no ar"

9.set.1961/Folha Imagem
Na cerimônia de posse, João Goulart recebe faixa presidencial


FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA

A hipótese de que o presidente João Goulart (1961-1964) foi perseguido e assassinado pelo regime militar não é descartada, mas divide as opiniões de estudiosos do tema.
Para Jorge Luiz Ferreira, historiador da Universidade Federal Fluminense que vai publicar uma biografia sobre Jango neste ano, não é possível descartar a tese de assassinato, mas não há prova cabal de que ele tenha ocorrido e também é preciso considerar o histórico de saúde do presidente.
"A Operação Condor foi uma realidade. Segundo estudos, os militares do Cone Sul estavam convencidos de que, com a política externa norte-americana de Jimmy Carter, os regimes militares estavam com os dias contados. Desse modo, tudo indica que eles queriam fazer uma "limpeza", livrando-se de políticos de oposição", afirma.
"Mas é preciso lembrar o histórico de saúde. Ele era cardíaco, no último ano de vida não subia escadas sem ficar ofegante. Naquela época, ninguém se preocupava com colesterol."
O historiador descreve que Jango consumia gordura, tomava algumas doses de uísque e fumava, apesar de, no último ano de vida, ter diminuído os dois últimos. "O primeiro acidente cardiovascular dele ocorreu quando ainda era vice do Juscelino e viajou ao México."
Segundo o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (SP) e autor do livro "Jango, um Perfil" (2004), dizer que Jango foi assassinado é uma tentativa malfeita de reescrever sua biografia. Para o professor, ele não tinha atuação política na época da morte, o que extinguiria qualquer interesse em matá-lo. "Construir uma figura de resistência da ditadura e que por isso foi assassinada é uma versão requentada [da tentativa] de transformar o Jango em um presidente reformista", diz. Villa não crê na participação do delegado Sérgio Fleury no suposto assassinato. Para ele, o delegado não tinha papel de liderança na repressão no Brasil.
Villa diz que a comissão da Câmara que investigou em 2001 a morte de Jango não achou nenhum elemento que prove homicídio. Já o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), relator daquela comissão, diz que as circunstâncias em que Jango morreu são "duvidosas", mas não havia como concluir se ele foi morto ou não. Contudo, há "certeza absoluta" de que Goulart foi perseguido.
Serafim Jardim -secretário de Juscelino Kubitschek e autor de "Juscelino Kubitschek: Onde está a Verdade?"- defende a tese de assassinato e diz que é preciso investigar mais as mortes de Juscelino, Jango e Carlos Lacerda: "As mortes são coincidências grandes. Eu convivi com Juscelino. Escutei várias vezes ele me dizendo: "Querem me matar". Depois, não deixaram fazer exumação dos corpos. O motorista que dirigia o carro do JK foi o primeiro que fecharam o caixão. Existe muita coisa que ficou no ar. Sobre Jango e Lacerda também."


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