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Biógrafos de Jango afirmam não haver prova de assassinato
Mas Jorge Ferreira diz que ela não pode ser descartada; para Marco Villa, afirmação é tentativa de reescrever história
Serafim Jardim, que foi secretário particular de JK e escreveu um livro sobre seu suposto assassinato, afirma que "muita coisa ficou no ar"
9.set.1961/Folha Imagem
| Na cerimônia de posse, João Goulart recebe faixa presidencial |
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA
A hipótese de que o presidente João Goulart (1961-1964) foi
perseguido e assassinado pelo
regime militar não é descartada, mas divide as opiniões de
estudiosos do tema.
Para Jorge Luiz Ferreira, historiador da Universidade Federal Fluminense que vai publicar uma biografia sobre Jango
neste ano, não é possível descartar a tese de assassinato,
mas não há prova cabal de que
ele tenha ocorrido e também é
preciso considerar o histórico
de saúde do presidente.
"A Operação Condor foi uma
realidade. Segundo estudos, os
militares do Cone Sul estavam
convencidos de que, com a política externa norte-americana
de Jimmy Carter, os regimes
militares estavam com os dias
contados. Desse modo, tudo indica que eles queriam fazer
uma "limpeza", livrando-se de
políticos de oposição", afirma.
"Mas é preciso lembrar o histórico de saúde. Ele era cardíaco, no último ano de vida não
subia escadas sem ficar ofegante. Naquela época, ninguém se
preocupava com colesterol."
O historiador descreve que
Jango consumia gordura, tomava algumas doses de uísque
e fumava, apesar de, no último
ano de vida, ter diminuído os
dois últimos. "O primeiro acidente cardiovascular dele ocorreu quando ainda era vice do
Juscelino e viajou ao México."
Segundo o historiador Marco
Antonio Villa, da Universidade
Federal de São Carlos (SP) e autor do livro "Jango, um Perfil"
(2004), dizer que Jango foi assassinado é uma tentativa malfeita de reescrever sua biografia. Para o professor, ele não tinha atuação política na época
da morte, o que extinguiria
qualquer interesse em matá-lo.
"Construir uma figura de resistência da ditadura e que por isso foi assassinada é uma versão
requentada [da tentativa] de
transformar o Jango em um
presidente reformista", diz. Villa não crê na participação do
delegado Sérgio Fleury no suposto assassinato. Para ele, o
delegado não tinha papel de liderança na repressão no Brasil.
Villa diz que a comissão da
Câmara que investigou em
2001 a morte de Jango não
achou nenhum elemento que
prove homicídio. Já o deputado
federal Miro Teixeira (PDT-RJ), relator daquela comissão,
diz que as circunstâncias em
que Jango morreu são "duvidosas", mas não havia como concluir se ele foi morto ou não.
Contudo, há "certeza absoluta"
de que Goulart foi perseguido.
Serafim Jardim -secretário
de Juscelino Kubitschek e autor de "Juscelino Kubitschek:
Onde está a Verdade?"- defende a tese de assassinato e diz
que é preciso investigar mais as
mortes de Juscelino, Jango e
Carlos Lacerda: "As mortes são
coincidências grandes. Eu convivi com Juscelino. Escutei várias vezes ele me dizendo: "Querem me matar". Depois, não
deixaram fazer exumação dos
corpos. O motorista que dirigia
o carro do JK foi o primeiro que
fecharam o caixão. Existe muita coisa que ficou no ar. Sobre
Jango e Lacerda também."
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