São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Para Lula, Dilma precisa de jogo de cintura para sucedê-lo

Presidente pediu ao publicitário João Santana que orientasse ministra sobre eleições

Em conversa com dirigentes do PT paulista, Lula disse que se esforçará ao máximo para eleger em 2010 o "seu sucessor ou sucessora"

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O bambolê que a cúpula do PMDB deu de presente na última semana para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é um episódio altamente simbólico. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dito a auxiliares e aliados que, se Dilma quiser se viabilizar como candidata à Presidência em 2010, precisará de mais jogo de cintura na política.
Lula elogia o que considera "alto preparo técnico" de Dilma, para usar palavras do próprio presidente. Ele está satisfeito com a dura pressão que ela exerce sobre a máquina do governo para tocar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Mas mostra preocupação com seu "pavio curto" -esta uma expressão de um colega dela no governo.
Dois funcionários que deixaram de trabalhar com Dilma recentemente disseram à Folha, sob a condição de anonimato, que é difícil a relação com a ministra no dia-a-dia. Ela daria broncas e exigiria muito. Eles elogiaram a ministra, mas relataram que não suportaram continuar na Casa Civil. Afirmaram ser difícil conciliar a vida pessoal com o trabalho na equipe dela.

Queixas
Os peemedebistas que presentearam a ministra com o bambolê se queixam de Dilma. Alegam que ela foi um dos principais obstáculos em 2007 aos pedidos do partido por cargos e verbas. Dilma freou nomeações no setor elétrico que só agora estão saindo, como a indicação do senador Edison Lobão para o Ministério de Minas e Energia. Ela exerce forte influência na pasta, da qual já foi titular.
A Folha apurou que Lula já pediu ao jornalista João Santana, que fez o marketing de sua campanha presidencial em 2006, para aconselhar a Dilma a respeito de vôos eleitorais. Santana participa das preparações para os freqüentes balanços sobre o PAC.
Lula listou em conversas reservadas alguns requisitos para a candidatura Dilma decolar. O principal deles é alcançar cerca de 15% de intenção de voto em meados de 2009, ano em que o presidente espera que haja forte agenda de inaugurações do PAC, plano de investimentos em obras de infra-estrutura e energia coordenado por Dilma.

Esforço
Em conversa recente com dirigentes do PT paulista, Lula disse que se esforçará ao máximo em 2010 para eleger "seu sucessor ou sucessora", de acordo com relato de um dos participantes do encontro. O presidente conversa abertamente com auxiliares sobre a eventual candidatura de Dilma e diz que realmente está testando o potencial da ministra.
Entre os ministros, Dilma é a aposta preferida do presidente para a sua sucessão. Ele, porém, acha que hoje o ex-ministro Ciro Gomes (PSB) está passos adiante. Por ora, o cacife eleitoral dela é baixo.
Pesquisa Datafolha realizada no final de novembro de 2007 trouxe a ministra da Casa Civil com parcos 2% de intenção de voto para concorrer ao Palácio do Planalto. No cenário em que Dilma concorreu, o governador de São Paulo, José Serra, liderou com 38%. O segundo colocado foi Ciro (19%). Heloísa Helena (PSOL) marcou 15%. E Nelson Jobim, peemedebista que é ministro da Defesa, teve os mesmos 2% de Dilma.
No cenário em que Serra é substituído por Aécio Neves (PSDB), Ciro liderava com 30%, seguido de Heloísa Helena com 20%, Aécio com 15% e Jobim com 3%. Dilma permaneceu com os mesmos 2%.

Ciro
Para Lula, Dilma terá de rebolar para se aproximar da marca dos 15% para que o PT e ele tenham discurso perante os aliados a fim de justificar uma candidatura do partido separada da dos aliados. Nas conversas com petistas e aliados, Lula tem repetido que considera mais competitivo uma grande aliança com candidato só a presidente. No cenário de hoje, Ciro seria esse nome.
Mas Lula também acha que Ciro tem uma desvantagem parecida com a Dilma: temperamento difícil. Um auxiliar direto do presidente brincou com a Folha na última sexta-feira.
Segundo ele, se Dilma, Ciro, Serra e Heloísa Helena forem os candidatos principais em 2010, o Brasil elegerá um presidente de "cabeça quente", bem diferente dos dois últimos ocupantes do Palácio do Planalto: os moderados Lula e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).


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