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Elio Gaspari
A telebagunça dos comissários
A compra da Brasil
Telecom pela Telemar/Oi pressupõe uma simpática canetada do Nosso Guia
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HÁ ALGO ESQUISITO nas tratativas
dos marqueses da Telemar/Oi
com os comissários da Brasil Telecom para comprar a empresa, formando a maior operadora de telecomunicações do país. É um negócio de R$ 4,8 bilhões e ninguém teria nada a ver com isso se a operação não dependesse de um
decreto de Nosso Guia, mudando as regras do jogo desse mercado.
Quando duas empresas armam uma
transação que depende de um ato do poder público, fica-se numa posição parecida com a do sujeito que tem um terreno
onde se pode construir um edifício de
quatro andares e negocia sua venda na
expectativa de uma nova postura municipal que elevará o gabarito para dez pisos. Se o vendedor e o comprador não conhecem o prefeito e não pretendem influir na mudança da postura, tudo bem.
Resta acreditar que os marqueses da Telemar, bem como os comissários da Brasil Telecom não sabem o telefone do Palácio do Planalto, muito menos o do
BNDES. Nem eles nem a turma dos fundos de pensão estatais que investiram
maciçamente na empresas.
No dia 9, a Telemar informou ao mercado que estudava "oportunidades de
aquisição" de outras empresas e queixou-se das "notícias desencontradas"
que vinham sendo publicadas sobre o caso. Disse também que estudava o assunto "no âmbito do marco regulatório em
vigor". Difícil, por que sem mudar a Lei
de Outorgas, o negócio é tão viável quanto abrir um restaurante em Marte.
No dia seguinte, respondendo a uma
solicitação da Comissão de Valores Mobiliários, admitiu o óbvio: negociava a
Brasil Telecom e seu vasto porão.
Tudo ficaria mais simples se as coisas
fossem feitas numa ordem lógica. Primeiro o governo muda as regras. Se possível, discute o novo modelo com a choldra. Depois, as empresas negociam o que
bem entenderem dentro do verdadeiro
marco regulatório. Foi essa opção preferencial pela anarquia que atazanou a privataria tucana depois da armação do leilão que torrou a Vale e do que permitiu o
surgimento da Telemar, cujos controladores foram chamados de "telegangue"
pelo então ministro das Comunicações,
Luiz Carlos Mendonça de Barros.
EM 1921, NO COMUNISMO, COMIAM-SE CRIANÇAS
No no que vem chegará às
estantes de Pindorama um
grande livro. É "Os Murmuradores" ("The Whisperers"),
do professor inglês Orlando
Figes. No ponto de partida é
um retrato da vida privada do
povo russo durante o stalinismo, mas na linha de chegada é
uma viagem pelas trevas da
alma humana.
Tratar de livro que só sairá
em português no ano que vem
é chatice pernóstica, mas o
novo trabalho de Figes é uma
oportunidade para que se resgate outra obra dele, publicada em 1999 no Brasil, que passou despercebida. É a monumental "A Tragédia de um Povo -A Revolução Russa, 1891-1924". Ainda pode ser encontrada em livrarias eletrônicas.
Com traduções em 20 idiomas, foi saudado como o melhor livro sobre o assunto. Sua
narrativa cinematográfica e
documentação acachapante
fazem do drama uma aventura. Quem o atravessar, dificilmente precisará ler mais sobre o assunto. A tomada do
palácio de inverno, em outubro de 1917, é um adorável
pastelão. Uma página sobre a
fome de 1921, provocada por
Lênin e sua ekipekonômica é
assustadora. Trata do canibalismo ocorrido nos vilarejos.
Na estepe de Bashkir ocorreram milhares de casos documentados. Um canibal contou
que na sua cidade havia tavernas onde se servia carne humana, inclusive de crianças.
Figes ilustrou a narrativa com
uma fotografia de dois antropófagos diante dos restos de
uma refeição.
Figes sustenta que a Revolução Russa poderia ter sido
evitada, mas a natureza totalitária do regime, não.
SP DANÇA
Amanhã São Paulo receberá
uma boa notícia. O governo do
Estado criará a "SP Companhia
de Dança", que ganhará uma
sede e casa de espetáculos no
centro da cidade, no terreno
onde funcionou a estação rodoviária. Obra para três anos. A
companhia estréia ainda neste
ano, em outro teatro. O corpo
de 40 bailarinos será selecionado com audições no Brasil, em
Nova York e em Buenos Aires.
Para esse trabalho, já há uma
verba de R$ 13 milhões anuais.
O projeto inclui uma escola para jovens. (Os profissionais terão salários de R$ 6.000 a
7.000.) A casa será dirigida por
Iracity Cardoso, ex-diretora do
balé Gulbenkian, de Lisboa, e
Inês Bogéa, autora do livro
"Contos do Balé", ex-bailarina
do Grupo Corpo.
Além dos benefícios que a
iniciativa trará para a cultura
da cidade, o novo teatro formará um tripé de revitalização do
centro da cidade. O governador
Mario Covas já havia transformado a estação da Luz numa
casa de concertos e a sede da
polícia política na Pinacoteca.
Erro
Ao contrário do que foi noticiado aqui, no sítio onde estão
os 7.000 artigos do repórter
Carlos Castello Branco não faltam os textos do período de
1975 a 1978. Quem entra naqueles anos pelo mês de janeiro
pode pensar que faltam artigos,
mas Castelinho estava em férias. O sítio tem até ferramenta
de busca. Ele permite, por
exemplo, localizar a primeira
referência de Castello a Nosso
Guia. É a coluna intitulada "Lula, e suas idéias políticas", de 12
de dezembro de 1978.
Serviço: o tesouro está em
www.carloscastellobranco.com.br/indexphp.
SUPER MARTA
Enquanto o tucanato dedica-se à autofagia, a nação petista
costura uma poderosa aliança
para a disputa da Prefeitura de
São Paulo. O objetivo é replicar
na cidade a base de apoio federal. Se isso acontecer, a coligação de Marta terá um tempo de
televisão equivalente à soma de
todos os adversários.
Mais: aglutinará perto de
dois terços das lideranças espalhadas pelos bairros e poderá
ter Nosso Guia nos palanques.
SONHO MEU
Grandes empresários do Rio
de Janeiro sonham com a candidatura de Roger Agnelli, presidente da Vale do Rio Doce, ao
governo do Estado.
VALÉRIO LEMBRA
O advogado de Marcos Valério sabe do que fala quando faz
perguntas críticas ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. No
início de 2006, Valério recebeu
uma promessa de compensação pelos estragos sofridos com
a explosão do mensalão. Os algarismos seriam tratados com
o ex-tesoureiro Paulo Okamotto. Deu em nada. O publicitário
reclamou e fez chegar a Lula o
seu desconforto com a quebra
de palavra dos companheiros.
O assunto seria repassado ao
ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, mas ele foi eletrocutado antes de desempenhar a
missão.
SONHO DELE
Eremildo é um idiota, não
acredita que tenha havido
mensalão e quer comprar um
apartamento em Paris. Fará isso mandando uns papéis para
Edinho Lobão assinar sem ler,
como fez com o papelório que
transferiu para uma empregada doméstica as ações de uma
empresa espetada na Receita
Federal.
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