São Paulo, quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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Ex-ídolo, Obama vira alvo no Fórum Social

Esquerda ataca presidente americano por descumprimento de promessas, como fechar Guantánamo

ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Durou pouco a lua de mel do presidente dos Estados Unidos com a esquerda e movimentos antiglobalização que se materializaram no Fórum Social Mundial. Há menos de um ano, na edição anterior do fórum, em Belém (PA), Obama foi celebrado com euforia como a grande esperança daqueles que esperavam um líder mundial que levasse adiante bandeiras como justiça social, meio ambiente e o fim das guerras.
Reunidos desde segunda-feira em Porto Alegre, onde ocorre a 10ª edição do Fórum Social Mundial, intelectuais de esquerda e movimentos sociais não poupam críticas ao ex-ídolo que não cumpriu promessas como fechar Guantánamo, tirar as tropas do Iraque e pressionar por um novo acordo mundial para reduzir emissões de gases-estufa, na conferência do clima de Copenhague.
Se em Belém as camisas com o presidente recém-empossado eram disputadas, em Porto Alegre elas desapareceram.
"Todos pensaram "ele vai ser meu presidente", mesmo sendo brasileiros, franceses ou de qualquer outra nacionalidade", diz a cientista política e escritora Susan George. "Eu projetei meus sonhos nele, como todos projetaram", afirma.
Segundo David Harvey, professor de antropologia da City University de Nova York, a eleição de Obama teve valor simbólico. "Mas sua relação com o capital e Wall Street já nos avisava para não ter expectativas."
Oded Grajew, fundador do FSM, afirma que Obama não cumpriu suas promessas de campanha, o que desapontou não apenas os americanos, mas o mundo. "Guantánamo continua, há mais tropas no Afeganistão, a democracia em Honduras não foi respeitada, Copenhague foi um fracasso", diz.
Para Oded, a desconfiança nos EUA e "no mundo como um todo" voltou. "Não estamos colocando a pá de cal, mas esse ano será o prazo fatal", afirma.
O sociólogo português Boaventura de Souza Santos é mais pessimista. "A América Latina não tem muitas razões para estar sossegada. Eu estou muito inquieto", diz ele, com referência às bases americanas na Colômbia, à crise em Honduras e à resposta ao terremoto no Haiti. "Muito das conquistas que tivemos na década foi porque os EUA estavam distraídos", diz.


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