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Malan não faz comentários
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, evitou comentar em
público a proposta de um pacto
antiinflação feita horas antes
por seu colega Celso Lafer, do
Desenvolvimento, aos presidentes das 27 federações estaduais de indústrias.
"É um título generoso. Mas
eu gosto de me debruçar sobre
textos, pensar sobre suas palavras, antes de me manifestar
sobre documentos. Não recebi
ainda nenhum texto que dissesse com clareza o que é esse
pacto."
As declarações foram feitas
durante entrevista coletiva,
após o ministro ter conversado
com a mesma platéia que antes
ouvira a sugestão de Lafer.
A reação do ministro da Fazenda reflete sua insatisfação
com iniciativas que vêm sendo
tomadas por outras áreas do
governo para combater a inflação, o que Malan diz poder fazer com os instrumentos à disposição de seu ministério.
"Não permitiremos a volta do
flagelo inflacionário sobre este
país", repetiu Malan, especificando que o exercício da política monetária, como a fixação
de taxas de juros, continuará a
ser usado para impedir aumento de preços.
Lafer não chegou a apresentar uma proposta por escrito
aos líderes industriais. Disse
que sua disposição com eles era
"trocar opiniões e avaliar possibilidades". A primeira opinião que ele ouviu de um dos
empresários presentes foi a de
que as câmaras setoriais deveriam ser restabelecidas.
"Não sou nominalista, não
acredito que o nome crie a realidade. Mas o nome das câmaras setoriais tem uma conotação que não contribui para o
atual ambiente político."
As câmaras foram criadas no
governo de José Sarney (1985-1990) e extintas pelo de FHC.
Elas reuniam com o governo
representantes de trabalhadores e empresários de setores
econômicos, em geral para estabelecer aumentos de preços
de bens de consumo. São acusadas de corporativismo.
Lafer afirmou que câmaras tinham sua lógica "numa economia mais fechada, na qual os fatores de produção e preços
eram muito diferentes dos
atuais". No lugar delas, propõe
"foros de competitividade", em
que conceitos de produtividade e qualidade serão fundamentais.
Apesar de se dizer um não
adepto da doutrina nominalista, Lafer pode ter sido considerado um deles. Após ter ouvido
a explicação do ministro para
os seus foros, o autor da sugestão de ressuscitar as câmaras
disse ao colega ao lado: "Então,
só vai mudar o nome".
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), senador Fernando Bezerra, apoiou a proposta de Lafer,
mas ressaltou que talvez não
chegue a ser necessário um
pacto formal. "O que é preciso
é a sociedade se unir para gerar
confiança no futuro. Como vamos transmitir confiança à comunidade internacional se nós
não confiarmos?"
O encontro entre Lafer e os
empresários ocorreu em clima
de grande cordialidade mútua,
com trocas de elogios e expressões recíprocas de admiração.
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