São Paulo, quarta, 27 de janeiro de 1999

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Malan não faz comentários

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, evitou comentar em público a proposta de um pacto antiinflação feita horas antes por seu colega Celso Lafer, do Desenvolvimento, aos presidentes das 27 federações estaduais de indústrias.
"É um título generoso. Mas eu gosto de me debruçar sobre textos, pensar sobre suas palavras, antes de me manifestar sobre documentos. Não recebi ainda nenhum texto que dissesse com clareza o que é esse pacto."
As declarações foram feitas durante entrevista coletiva, após o ministro ter conversado com a mesma platéia que antes ouvira a sugestão de Lafer.
A reação do ministro da Fazenda reflete sua insatisfação com iniciativas que vêm sendo tomadas por outras áreas do governo para combater a inflação, o que Malan diz poder fazer com os instrumentos à disposição de seu ministério.
"Não permitiremos a volta do flagelo inflacionário sobre este país", repetiu Malan, especificando que o exercício da política monetária, como a fixação de taxas de juros, continuará a ser usado para impedir aumento de preços.
Lafer não chegou a apresentar uma proposta por escrito aos líderes industriais. Disse que sua disposição com eles era "trocar opiniões e avaliar possibilidades". A primeira opinião que ele ouviu de um dos empresários presentes foi a de que as câmaras setoriais deveriam ser restabelecidas.
"Não sou nominalista, não acredito que o nome crie a realidade. Mas o nome das câmaras setoriais tem uma conotação que não contribui para o atual ambiente político."
As câmaras foram criadas no governo de José Sarney (1985-1990) e extintas pelo de FHC. Elas reuniam com o governo representantes de trabalhadores e empresários de setores econômicos, em geral para estabelecer aumentos de preços de bens de consumo. São acusadas de corporativismo.
Lafer afirmou que câmaras tinham sua lógica "numa economia mais fechada, na qual os fatores de produção e preços eram muito diferentes dos atuais". No lugar delas, propõe "foros de competitividade", em que conceitos de produtividade e qualidade serão fundamentais.
Apesar de se dizer um não adepto da doutrina nominalista, Lafer pode ter sido considerado um deles. Após ter ouvido a explicação do ministro para os seus foros, o autor da sugestão de ressuscitar as câmaras disse ao colega ao lado: "Então, só vai mudar o nome".
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), senador Fernando Bezerra, apoiou a proposta de Lafer, mas ressaltou que talvez não chegue a ser necessário um pacto formal. "O que é preciso é a sociedade se unir para gerar confiança no futuro. Como vamos transmitir confiança à comunidade internacional se nós não confiarmos?"
O encontro entre Lafer e os empresários ocorreu em clima de grande cordialidade mútua, com trocas de elogios e expressões recíprocas de admiração.



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