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""Devemos servir de exemplo
para toda classe trabalhadora"
free-lance para a Folha
Leia abaixo trecho da entrevista
com Fernando Tourinho Neto,
presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil:
Folha - Durante a greve as audiências serão suspensas. Os juízes não temem uma reação negativa da sociedade?
Fernando Tourinho Neto -Estamos dispostos a enfrentar o desgaste. A nossa proposta é esclarecer a população. Evidentemente
que ela vai sofrer com a greve,
mas terá um benefício no futuro,
pois lutamos por uma Justiça Federal mais ágil e de qualidade.
Folha - Existem quantos juízes
federais no Brasil?
Tourinho Neto - São 750 na primeira instância e 101 nos tribunais regionais. Uma média de 1
juiz para 220 mil habitantes. O
ideal seria 1 juiz para 10 mil. Por
isso é que a Justiça é morosa.
Folha - E a média salarial?
Tourinho Neto - Cerca de 80%
desses 750 juízes são jovens com
salários médios variando de R$
3.500 a R$ 5.000.
Folha - Com a greve, muitos
processos importantes vão ficar
parados, como o da suspensão
do processo de privatização do
Banespa. Agora a questão salarial é mais importante?
Tourinho Neto - Sempre vai ter
problema.
Folha - Então a greve é a única
forma de pressão que sobrou?
Tourinho Neto - Sim. Já fizemos de tudo, mas chegamos a um
impasse. Parece que fizeram um
feitiço em uma encruzilhada para
isso ser resolvido. Esse teto estabelecido pela emenda constitucional 19 não vai dar certo nunca.
Folha- Por quê?
Tourinho Neto - Uma grande
parcela de deputados ganha mais
que R$ 12.720. O próprio presidente ganha mais do que isso acumulando aposentadoria e o salário de presidente. O presidente da
Câmara, deputado Michel Temer
(PMDB-SP), aposentado como
procurador de São Paulo, também ganha mais do que isso. Dezenas ou centenas de funcionários dos três Poderes ganham
muito mais do que esse valor.
Folha - O que os juízes federais esperam dessa greve?
Tourinho Neto - O país chegou
a um ponto em que o trabalhador
não faz mais greve com medo de
perder o emprego. Hoje ele faz
acordo sindical coletivo para aceitar redução de salário. Isso é fruto
de uma política econômica desastrosa. Há um endeusamento do
Plano Real. O lema do presidente
parece que é "salvemos o Plano
Real ainda que o povo morra". Os
juízes devem servir de exemplo a
toda classe trabalhadora.
Folha - Mas não é estranho os
juízes deflagrarem uma greve
ilegal? O Supremo Tribunal Federal não aceita greve de servidores, especialmente de juízes.
Tourinho Neto - Se nós achássemos que a greve é ilegal, nós não
a faríamos. O artigo 9º da Constituição assegura aos trabalhadores
o direito de greve, e o juiz é um
trabalhador. Nós faremos a greve
Garantindo os serviços essenciais.
Folha - Mas quem decide se a
greve é ilegal ou não é o STF
que, até então, tem tido a postura de considerar as greves de
servidores públicos ilegais.
Tourinho Neto - É verdade, até
hoje foi assim. Quem sabe o STF
comece a arejar, a pensar melhor.
Folha - O Congresso discute a
reforma do Judiciário. A greve
não seria inoportuna?
Tourinho Neto - Nenhuma greve é oportuna para o Poder. O Poder não quer a greve porque ele se
desmoraliza. Aquela empáfia de
dizer que o governo é democrático cai por terra. Uma reforma como a que está sendo feita é enganação do povo. Não é isso que vai
tornar o Judiciário rápido, mas
sim a diminuição de recursos
processuais e a contratação de
pessoal.
Folha - O sr. acha que esta greve vai prejudicar a imagem do
Brasil no exterior?
Tourinho Neto - Sem dúvida.
Quem vai aplicar dinheiro em um
país onde os juízes federais entram em greve? Eles devem pensar que, para chegar a este ponto,
o país deve estar um caos.
Folha - E o que faltou nas negociações para evitar a greve?
Tourinho Neto - Faltou vontade
política do Executivo, que jogou a
responsabilidade para o STF tentando nos enganar.
Folha - E até quando os juízes
aguentam manter a greve?
Tourinho Neto - Devemos pensar em seis meses, um ano.
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