Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
""O juiz tem as contas a pagar
como qualquer outro cidadão"
da Sucursal de Brasília
Leia abaixo trechos da entrevista com Gustavo Tadeu Alkmim,
presidente da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho:
Folha - O Poder Judiciário tem
legitimidade de propor greve
por aumento salarial quando alguns membros, no caso da Justiça dos Estados, ganham mais
do que R$ 12.720, o valor do
provável teto salarial do funcionalismo?
Gustavo Tadeu Alkmim - Nenhum juiz trabalhista ou federal
ganha acima do teto. O meu salário bruto é R$ 6.473, sendo R$
5.832 de vencimento básico e o
restante de adicionais por 11 anos
de serviço. Essa é a situação da
grande maioria.
Estamos certos que, quando pedimos o cumprimento da Constituição, a fixação do teto, previsto
na reforma administrativa, estamos pregando uma medida moralizadora: que nenhum servidor
ganhe acima do teto.
Folha - Mas os juízes não estão
se mobilizando pela moralização dos gastos com pessoal e
sim pelo aumento em cascata
na Justiça. O sr. não acha que o
teto deveria ser redutor e não
referência para aumentos salariais?
Alkmim - Defendemos que, fixado o teto, todos fiquem sujeitos
a esse limite, sem exceção.
Quanto à carreira de juiz, ela é
longa. O escalonamento é uma
forma de preservar a carreira e garantir ao juiz que tenha os vencimentos vinculados (à instância
superior) para que não haja redução. Muitas vezes, o funcionário
subordinado ao juiz em uma vara
ganha mais do que ele.
Folha - No caso da Justiça do
Trabalho, a greve ainda não é
mais delicada por causa do escândalo do Fórum Trabalhista
de São Paulo, investigado pela
CPI do Judiciário. Como juízes
que desviam verba de uma obra
pública podem fazer greve por
aumento salarial?
Alkmim - Essa paralisação é importante para discutirmos não só
a questão salarial da magistratura,
mas todo o papel do Judiciário.
Por conta de uma dúzia de suspeitos dentro de um universo de
quase 15 mil magistrados, houve a
CPI do Judiciário, que colocou no
limbo toda a magistratura.
Esse quadro criou um ambiente
de muita revolta na magistratura.
Talvez por causa disso tenhamos
chegado onde chegamos.
Queremos aproveitar a oportunidade da greve para perguntar à
sociedade que futuro deseja para
a magistratura?
Queremos que a sociedade reflita se é correto que o presidente do
Senado, por exemplo, um alto
cargo de um dos Poderes da República, continue a tratar com
tanto menosprezo a magistratura.
Folha - Há grande risco de desgaste político?
Alkmim - Estamos conscientes
de que a greve é a nossa última alternativa. Sabemos muito bem
das consequências e de nossa responsabilidade, mas é preciso acabar com o mito da neutralidade,
não o da imparcialidade.
O juiz não é um ser que paira
acima da sociedade. Ele está sujeito a todos os conflitos sociais, tem
contas a pagar como qualquer outro cidadão, tem dificuldades no
dia-a-dia.
Folha - Como os juízes trabalhistas vão julgar depois greves
de outras categorias depois de
fazer uma paralisação considerada ilegal?
Alkmim - Com muita tranquilidade. As coisas não se confundem. O nosso movimento tem
um objetivo. Isso não pode se
confundir com casos que o juiz
venha a julgar depois.
Folha - Como os juízes podem
fazer uma greve se o STF não reconhece esse direito a nenhum
servidor público, particularmente aos juízes?
Alkmim - Ela acontecerá porque
chegamos a uma situação extrema.
Folha - O TST (Tribunal Superior do Trabalho) enviou um
projeto de lei ao Congresso que,
se aprovado, garantirá abono a
todos os juízes trabalhistas, correspondente ao aumento que
teriam com a fixação do teto em
R$ 12.720.
Alkmim - A iniciativa representa uma luz no fim do túnel. É um
gesto importante, que por si só
não é capaz de evitar a paralisação, mas pode abrir um canal de
negociação. Dependerá da vontade política do Congresso.
Texto Anterior: "Devemos servir de exemplo para toda classe trabalhadora" Próximo Texto: Elio Gaspari: A escola pública vira sucata. A privada ganha BNDES Índice
|