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CELSO PINTO
Calabi, o Ultra e o BNDES
Quem acha que a mudança na
presidência do BNDES vai significar uma reviravolta no complexo processo de reestruturação da
petroquímica pode estar enganado. Andrea Calabi garante
que o ministro Alcides Tápias
sempre endossou suas posições,
inclusive na crítica à possibilidade de o Banco Central impedir o
Grupo Ultra de comprar a Politeno.
O caso da petroquímica é complicado demais para ser explicado por chavões. É uma disputa
entre um grupo paulista (Ultra)
e um baiano (Odebrecht), mas lideranças baianas, como ACM,
preferem a solução paulista. É
um caso de apoio do BNDES a
um grupo nacional, mas não exclui, em teoria, um desfecho favorável a um grupo estrangeiro.
Opôs BC e BNDES, mas nem
sempre por razões óbvias.
Calabi argumenta que o
BNDES não "escolheu" o Grupo
Ultra como vencedor da reestruturação da petroquímica. Todo o
processo vem sendo discutido no
BNDES há mais de um ano, a
partir de alguns princípios.
Um deles é que é mais interessante para o Brasil ter algumas
empresas brasileiras capitalizadas como atores importantes na
petroquímica do que ter um único grupo monopolista (por
exemplo, a Odebrecht). Um grupo único, diz Calabi, provavelmente teria uma base de capital
pequena para uma dívida grande. Acabaria vulnerável a ser absorvido por um gigante externo.
O outro princípio é que ter um
único pólo dominante seria menos interessante para o país do
que ter três pólos (Bahia, São
Paulo e Rio Grande do Sul) mais
equilibrados. Dar ao pólo do Sul
vantagens para dominar o pólo
baiano, por exemplo, geraria um
quase monopólio.
Da mesma forma, na visão de
Calabi, se um gigante externo como a Dow Química, que já domina o pólo de Baía Blanca, na
Argentina, ficasse com Camaçari, provavelmente acabaria inviabilizando os outros dois pólos.
A Dow tem um porte quase vinte
vezes maior do que as petroquímicas brasileiras.
Estes são alguns dos princípios.
Na prática, o poder do BNDES
tem óbvias limitações.
A reestruturação terá que passar pela Copene, no pólo baiano,
cujo controle acabou dividido
entre inúmeros grupos, tendo o
ex-grupo Econômico (hoje nas
mãos do BC, como liquidante)
como um ator central. O Grupo
Ultra, diz Calabi, foi o único a
apresentar um projeto detalhado
e bem montado, integrando a
central de matérias-primas com
as indústrias de segunda geração. Esse ponto é reconhecido
por muitos, inclusive por Ângelo
Calmon de Sá, ex-dono do Econômico e, portanto, interessado
em ter concorrência na venda.
O BNDES decidiu apoiar uma
operação em duas etapas. Na
primeira, a Suzano e o Sumitomo (com 65% das ações) estão
vendendo o controle da Politeno
que, por sua vez, tem uma participação importante na Copene.
O outro sócio da Politeno é o
Econômico/BC (com 35%).
Calabi argumenta que houve
uma concorrência internacional
aberta a todos, vencida pelo Ultra (que se capitalizou no exterior para isso). Como o Ultra já
tem 10% da Norquisa, que controla a Copene, com a Politeno e
mais alguma outra compra de
participação, poderia controlar o
pólo.
Neste ponto, três sócios da Norquisa -Econômico/BC, Mariani
e Odebrecht- fizeram um lance
defensivo: assinaram um protocolo de que só venderiam suas
ações em conjunto. Calabi acha
o lance legítimo, pois quem ficasse de fora da venda perderia o
prêmio de controle. Reclama
apenas que o BC tomou a decisão de surpresa, sem discussão.
Com o protocolo, o Ultra se retraiu, pois aumentou o risco de
ele, mesmo controlando a Politeno, acabar sem a Copene. O
BNDES resolveu bancar o risco,
entrando com capital e financiamento para a compra da Politeno.
O BC, contudo, pode melar a
compra se exercer o direito de
minoritário na Politeno e ficar
com as ações que o Ultra quer
comprar. Reforçaria sua posição
na venda final da Norquisa, mas
virtualmente eliminaria competidores locais. O comprador final
provável seria a Dow, embora a
Odebrecht diga que pelo menos
outros três grupos internacionais
tenham manifestado interesse: a
Total/Fina, a Basf e a Repsol.
O BC tem argumentado, corretamente, que está defendendo o
melhor preço pelo ativo do Econômico, em defesa do contribuinte. Calabi acha que o argumento justifica o protocolo, mas
não o fato de o Estado vir a comprar uma empresa petroquímica
(a Politeno). Diz que Tápias concorda inteiramente com esta posição.
Se o BC não exercer o direito de
comprar a Politeno, isso não
quer dizer que o Ultra vai levar a
Copene, lembra Calabi. A venda
final vai ser um leilão aberto a
quem quiser. O Ultra terá o
apoio do BNDES por ter apresentado um projeto consistente. O
pólo do Sul (Copesul) reclama
que quer a mesma vantagem,
mas ele acha que isso poderia levar a uma concentração indesejável do setor.
A ironia é que a Odebrecht, como vendedora da Copene (com
Mariani e o BC), quer concorrência e preço alto. Mas como
um grande ator na Copesul, junto com o Ipiranga, poderia se
transformar num comprador da
Copene.
Como se vê, a história da petroquímica é um cipoal de interesses, mas que parece ter tido
muito pouco a ver com a queda
de Calabi.
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