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TEORIA & PRÁTICA
Reunião de 6 ministros com a CUT consegue afastar ameaça de greve
Governo rejeita reajuste para servidores, mas obtém trégua
Sérgio Lima/Folha Imagem
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Da esq. para a dir., Ricardo Berzoini, Luiz Dulci e Antonio Palocci Filho, em reunião com líderes sindicais sobre reajuste dos servidores |
MARTA SALOMON
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em quase duas horas de reunião
de uma força-tarefa de seis ministros com representantes dos funcionários públicos, o governo
descartou ontem a possibilidade
de conceder reajuste emergencial
de salários de 46,95% reivindicado pelos servidores, mas conseguiu conter, pelo menos por ora, a
primeira ameaça de greve no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Depois do encontro, o ministro
Guido Mantega (Planejamento)
confirmou que 4% é o percentual
máximo de reajuste permitido
pelo Orçamento da União, abaixo, portanto, da inflação (12,53%
medidos pelo IPC-A).
Ainda assim, deixará de fora
parte dos 1,2 milhão de servidores
civis, aqueles que tiveram aumentos nos últimos 12 meses. Se o reajuste for para todos os civis, o percentual cai para 2,5%.
O arquivamento do projeto de
lei que estabelece teto para a aposentadoria dos futuros servidores
(PL-9, o projeto de lei número 9)
-outro item da pauta de reivindicações- não faz parte dos planos do governo.
"O governo está num processo
de discussão e esperamos que eles
(servidores) entendam", afirmou
Mantega, encarregado de relatar a
conversa.
O que aconteceu ontem foi um
gesto carregado de simbolismo. O
governo reuniu numa sala com
representantes dos servidores
cinco ministros, além do anfitrião, do Planejamento: Antonio
Palocci Filho (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil), Jaques Wagner
(Trabalho), Ricardo Berzoini
(Previdência) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), num
gesto inédito de boa vontade, que
não passou muito disso.
Os servidores voltam a se reunir
em 12 de março já com o secretário de Recursos Humanos, Luiz
Fernando Silva, para começar a
negociação propriamente dita. A
nova reunião plenária dos servidores está marcada para o dia 22.
A discussão da recuperação das
perdas salarias ficou para 2004.
"Simbolicamente, o governo
atendeu à reivindicação de que
houvesse uma negociação de alto
nível. Este é o governo dos trabalhadores, o que por si só estabelece outro nível de diálogo", resumiu Mantega, dando à reunião o
status de "histórica".
Greve
A ameaça de greve, feita no lançamento da campanha salarial
dos servidores, na semana passada, já entrou enfraquecida na reunião de ontem. A greve é uma
proposta da ala mais radical do
movimento, ligada ao PSTU, no
comando hoje da Cnesf (Coordenação Nacional dos Servidores
Públicos Federais).
Apesar de enfraquecida a idéia
de uma greve, pelo menos por enquanto, os considerados "radicais" do movimento mantêm a postura de um embate.
"Temos clareza sobre as dificuldades, mas queremos ver as contas abertas, pois temos divergências sobre as verbas que o governo
diz ter no Orçamento", disse José
Domingues, representante da Andes (Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior) e da Cnesf. "Dependendo do rumo
que tome [a negociação], vamos
para o confronto", completou.
Outros representantes dos servidores avaliam que uma greve
agora seria antipática e não contaria com apoio popular.
"Há uma solidariedade mais do
que nítida", disse o presidente do
Sindilegis (sindicato dos servidores do Legislativo e do TCU), Ezequiel Nascimento, que reivindicou até a paternidade da proposta
apresentada na última sexta-feira
aos governadores, de calcular as
futuras aposentadorias dos servidores com base no salário líquido,
já descontada a contribuição de
11%. A proposta foi considerada o
"ovo de Colombo" da reforma e é
responsável pela maior fatia de
economia aos cofres públicos.
Companheiros
O presidente da CUT (Central
Única dos Trabalhadores), João
Felício, deu razão ao presidente
Lula, que condenou o corporativismo de parte do sindicalismo.
"O movimento sindical precisa
ser mais cidadão", disse.
"Lula pôs seis ministros numa
mesa, é outra coisa lidar com
quem te trata com respeito", comentou. Felício disse que, às vezes, ainda chama os ministros, muitos ex-sindicalistas, de "companheiros".
A confusão ideológica foi motivo de piada no início da reunião
de ontem. Ao apresentar os colegas, Guido Mantega disse que a
sua direita, "mas só na localização
geográfica", estavam Jaques Wagner e José Dirceu. Ao passar aos
ministros que estavam a sua esquerda, Palocci reagiu que não estava apenas geograficamente nessa posição. "Isso foi nos velhos
tempos", brincou o ministro do
Planejamento.
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