UOL

São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEORIA & PRÁTICA

Reunião de 6 ministros com a CUT consegue afastar ameaça de greve

Governo rejeita reajuste para servidores, mas obtém trégua

Sérgio Lima/Folha Imagem
Da esq. para a dir., Ricardo Berzoini, Luiz Dulci e Antonio Palocci Filho, em reunião com líderes sindicais sobre reajuste dos servidores


MARTA SALOMON
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em quase duas horas de reunião de uma força-tarefa de seis ministros com representantes dos funcionários públicos, o governo descartou ontem a possibilidade de conceder reajuste emergencial de salários de 46,95% reivindicado pelos servidores, mas conseguiu conter, pelo menos por ora, a primeira ameaça de greve no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Depois do encontro, o ministro Guido Mantega (Planejamento) confirmou que 4% é o percentual máximo de reajuste permitido pelo Orçamento da União, abaixo, portanto, da inflação (12,53% medidos pelo IPC-A).
Ainda assim, deixará de fora parte dos 1,2 milhão de servidores civis, aqueles que tiveram aumentos nos últimos 12 meses. Se o reajuste for para todos os civis, o percentual cai para 2,5%.
O arquivamento do projeto de lei que estabelece teto para a aposentadoria dos futuros servidores (PL-9, o projeto de lei número 9) -outro item da pauta de reivindicações- não faz parte dos planos do governo.
"O governo está num processo de discussão e esperamos que eles (servidores) entendam", afirmou Mantega, encarregado de relatar a conversa.
O que aconteceu ontem foi um gesto carregado de simbolismo. O governo reuniu numa sala com representantes dos servidores cinco ministros, além do anfitrião, do Planejamento: Antonio Palocci Filho (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil), Jaques Wagner (Trabalho), Ricardo Berzoini (Previdência) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), num gesto inédito de boa vontade, que não passou muito disso.
Os servidores voltam a se reunir em 12 de março já com o secretário de Recursos Humanos, Luiz Fernando Silva, para começar a negociação propriamente dita. A nova reunião plenária dos servidores está marcada para o dia 22. A discussão da recuperação das perdas salarias ficou para 2004.
"Simbolicamente, o governo atendeu à reivindicação de que houvesse uma negociação de alto nível. Este é o governo dos trabalhadores, o que por si só estabelece outro nível de diálogo", resumiu Mantega, dando à reunião o status de "histórica".

Greve
A ameaça de greve, feita no lançamento da campanha salarial dos servidores, na semana passada, já entrou enfraquecida na reunião de ontem. A greve é uma proposta da ala mais radical do movimento, ligada ao PSTU, no comando hoje da Cnesf (Coordenação Nacional dos Servidores Públicos Federais).
Apesar de enfraquecida a idéia de uma greve, pelo menos por enquanto, os considerados "radicais" do movimento mantêm a postura de um embate.
"Temos clareza sobre as dificuldades, mas queremos ver as contas abertas, pois temos divergências sobre as verbas que o governo diz ter no Orçamento", disse José Domingues, representante da Andes (Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior) e da Cnesf. "Dependendo do rumo que tome [a negociação], vamos para o confronto", completou.
Outros representantes dos servidores avaliam que uma greve agora seria antipática e não contaria com apoio popular.
"Há uma solidariedade mais do que nítida", disse o presidente do Sindilegis (sindicato dos servidores do Legislativo e do TCU), Ezequiel Nascimento, que reivindicou até a paternidade da proposta apresentada na última sexta-feira aos governadores, de calcular as futuras aposentadorias dos servidores com base no salário líquido, já descontada a contribuição de 11%. A proposta foi considerada o "ovo de Colombo" da reforma e é responsável pela maior fatia de economia aos cofres públicos.

Companheiros
O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), João Felício, deu razão ao presidente Lula, que condenou o corporativismo de parte do sindicalismo. "O movimento sindical precisa ser mais cidadão", disse.
"Lula pôs seis ministros numa mesa, é outra coisa lidar com quem te trata com respeito", comentou. Felício disse que, às vezes, ainda chama os ministros, muitos ex-sindicalistas, de "companheiros".
A confusão ideológica foi motivo de piada no início da reunião de ontem. Ao apresentar os colegas, Guido Mantega disse que a sua direita, "mas só na localização geográfica", estavam Jaques Wagner e José Dirceu. Ao passar aos ministros que estavam a sua esquerda, Palocci reagiu que não estava apenas geograficamente nessa posição. "Isso foi nos velhos tempos", brincou o ministro do Planejamento.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.