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JANIO DE FREITAS
Os fornecedores
Entre os tantos destaques
possíveis, na investida de
bandidos que parou o Rio segunda-feira, o preferido de toda
a mídia foi o pequeno objeto jogado no jardim de um prédio na
praia de Ipanema. Chamado de
granada, como se os repórteres
nunca tivessem visto um filme
em que soldados arremessam
granadas, era uma bomba de
gás, das usadas, inclusive, contra repórteres e fotógrafos. Mas,
agora que sua identidade justificaria o destaque, dá-se o oposto. A bomba era da Marinha.
Não se tem notícia de condenações, ou outras punições, de
responsáveis por depósitos de
armamentos das Forças Armadas. Há anos, no entanto, é comum a identificação de armas de propriedade das Forças Armadas, muitas delas ainda com
o emblema da República, entre
as apreendidas com bandidos.
Aí temos, pois, pelo menos três
mistérios: como são guardados
os armamentos nas bases e
quartéis das Forças Armadas?
como saem daí indevidamente,
com tantas sentinelas e corpos-de-guarda que visíveis, mesmo
de fora, em toda dependência
militar? e não há represália, ou
há e o silêncio resulta em proteção privilegiada para os ladrões
e maus guardiães do patrimônio público que se volta contra a
sociedade?
A possível pertinência das indagações não é dada pela bombinha que se tornou estrela por estar na rica avenida Vieira
Souto, e não, como é frequente,
em rua de subúrbio ou entrada
de favela. São outras as armas
dos mistérios. São cerca de 10
mil identificadas como de propriedade oficial das Forças Armadas e das polícias, no exame a que foram submetidas 35 mil
armas apreendidas no Rio com
marginais, segundo relatório há
pouco divulgado pelo "Globo".
O abastecimento de armas para a criminalidade urbana é o
aspecto mais desprezado pelas
polícias em geral e, sobretudo,
pela Polícia Federal, incumbida
da repressão ao contrabando.
As causas da criminalidade são
outras, mas o seu poder de fogo,
que tantas vezes afugenta a
ação das PMs, é proporcionado
pela estranha ineficiência da repressão ao abastecimento. Mas
não só isso: já se vê que é proporcionado, também, pelas armas
que a sociedade paga para sua
proteção.
A bandidagem não está só nas favelas.
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