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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

À PF, responsável por autorizar escutas diz que relação entre ex-chefe da Polícia Civil e empresa de telefonia era "íntima"

Juíza liga delegado à empresa do grampo

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Funcionários da operadora de telefonia celular TIM mantinham uma "íntima relação" com o delegado Valdir Barbosa, responsável pelos pedidos de grampo investigados na Bahia, segundo sugeriu a juíza de Itapetinga (BA) Tereza Cristina Navarro Ribeiro em depoimento à Polícia Federal.
A Folha teve acesso ao depoimento, concedido no último dia 13, em Salvador, ao delegado da PF Gesival Gomes de Souza.
Segundo o registro do depoimento, a juíza disse, referindo-se a Barbosa, que "não estranhou o fato de estar um delegado de polícia apresentando-se como preposto da [TIM] Maxitel porque a relação que o delegado demonstrava ter com as empresas de telefonia era por demais íntima".
A declaração é um dos fatores que devem levar, segundo a Folha apurou, a PF e o Ministério Público a centrar o foco das investigações, após o Carnaval, na TIM.
As autoridades querem saber se a TIM grampeou o telefone celular do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) sem a autorização da juíza e sem um pedido formal da Polícia Civil baiana.
Tereza Cristina é a juíza que concedeu as ordens judiciais de autorização para os grampos que foram pedidos por Barbosa, então delegado-chefe da Polícia Civil.
A justificava para as escutas -que incluíram políticos baianos adversários do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA)- era a investigação de um crime de sequestro ocorrido em 2001 na cidade de Itapetinga.
Segundo depoimento prestado na segunda-feira pelo assessor da Secretaria de Segurança Pública (SSP) da Bahia Alan Farias, a operadora entrou em contato com ele, entre agosto e setembro do ano passado, solicitando um ofício retroativo que justificasse o grampo, instalado meses antes.
Farias afirmou às autoridades que foi procurado por Mauro Alexandre Cruz, supervisor de segurança corporativa da TIM, que lhe pediu para elaborar "dois ofícios de encaminhamento e redirecionamento de interceptações telefônicas que já tinham ocorrido em meses anteriores".
De acordo com Farias, que já foi indiciado sob a suspeita de ser um dos autores dos grampos ilegais, Barbosa proibiu a expedição do ofício. Mais tarde, o telefone de Geddel foi anexado à mão a uma decisão da juíza.
Apesar da tentativa de Farias de imputar a responsabilidade pelo grampo ao telefone do deputado à TIM, a polícia e a Promotoria suspeitam que funcionários da operadora e da SSP da Bahia trabalhavam em conjunto nas escutas.
O delegado Gesival Gomes de Souza, que comanda o inquérito, afirmou que a PF está tentando localizar Cruz para que ele preste depoimento após o Carnaval. Ele, segundo o policial, foi demitido, junto com outros dois funcionários supostamente envolvidos no caso, em dezembro de 2002.
A TIM confirma a demissão de Cruz, mas diz que ela não teve a ver com o caso dos grampos.
A "íntima" ligação de Barbosa com a operadora foi registrada pela juíza em seu depoimento ao relatar a intercepção de uma petição encaminhada pela sede da empresa atentando, no final do setembro e início de outubro, para supostas irregularidades nas escutas relacionadas ao sequestro.
O delegado Barbosa, segundo a juíza, afirmou que se tratavam de problemas técnicos e retirou a petição do cartório do fórum, em outubro. O documento só foi devolvido em fevereiro deste ano.
A juíza disse que no dia 9 de fevereiro recebeu ligação do secretário da Casa Civil, Rui Tourinho, para conversar sobre o prazo que ela concedeu para que a petição retornasse. De acordo com ela, no dia seguinte, quem ligou foi o deputado Paulo Magalhães (PFL-BA), sobrinho de ACM -o senador é suspeito de ser o mandante dos grampos ilegais.


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