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BAHIAGATE
À PF, responsável por autorizar escutas diz que relação entre ex-chefe da Polícia Civil e empresa de telefonia era "íntima"
Juíza liga delegado à empresa do grampo
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Funcionários da operadora de
telefonia celular TIM mantinham
uma "íntima relação" com o delegado Valdir Barbosa, responsável
pelos pedidos de grampo investigados na Bahia, segundo sugeriu
a juíza de Itapetinga (BA) Tereza
Cristina Navarro Ribeiro em depoimento à Polícia Federal.
A Folha teve acesso ao depoimento, concedido no último dia
13, em Salvador, ao delegado da
PF Gesival Gomes de Souza.
Segundo o registro do depoimento, a juíza disse, referindo-se
a Barbosa, que "não estranhou o
fato de estar um delegado de polícia apresentando-se como preposto da [TIM] Maxitel porque a
relação que o delegado demonstrava ter com as empresas de telefonia era por demais íntima".
A declaração é um dos fatores
que devem levar, segundo a Folha
apurou, a PF e o Ministério Público a centrar o foco das investigações, após o Carnaval, na TIM.
As autoridades querem saber se
a TIM grampeou o telefone celular do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) sem a autorização da juíza e sem um pedido formal da Polícia Civil baiana.
Tereza Cristina é a juíza que
concedeu as ordens judiciais de
autorização para os grampos que
foram pedidos por Barbosa, então
delegado-chefe da Polícia Civil.
A justificava para as escutas
-que incluíram políticos baianos adversários do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA)- era a investigação de um
crime de sequestro ocorrido em
2001 na cidade de Itapetinga.
Segundo depoimento prestado
na segunda-feira pelo assessor da
Secretaria de Segurança Pública
(SSP) da Bahia Alan Farias, a operadora entrou em contato com
ele, entre agosto e setembro do
ano passado, solicitando um ofício retroativo que justificasse o
grampo, instalado meses antes.
Farias afirmou às autoridades
que foi procurado por Mauro Alexandre Cruz, supervisor de segurança corporativa da TIM, que lhe
pediu para elaborar "dois ofícios
de encaminhamento e redirecionamento de interceptações telefônicas que já tinham ocorrido em
meses anteriores".
De acordo com Farias, que já foi
indiciado sob a suspeita de ser um
dos autores dos grampos ilegais,
Barbosa proibiu a expedição do
ofício. Mais tarde, o telefone de
Geddel foi anexado à mão a uma
decisão da juíza.
Apesar da tentativa de Farias de
imputar a responsabilidade pelo
grampo ao telefone do deputado à
TIM, a polícia e a Promotoria suspeitam que funcionários da operadora e da SSP da Bahia trabalhavam em conjunto nas escutas.
O delegado Gesival Gomes de
Souza, que comanda o inquérito,
afirmou que a PF está tentando
localizar Cruz para que ele preste
depoimento após o Carnaval. Ele,
segundo o policial, foi demitido,
junto com outros dois funcionários supostamente envolvidos no
caso, em dezembro de 2002.
A TIM confirma a demissão de
Cruz, mas diz que ela não teve a
ver com o caso dos grampos.
A "íntima" ligação de Barbosa
com a operadora foi registrada
pela juíza em seu depoimento ao
relatar a intercepção de uma petição encaminhada pela sede da
empresa atentando, no final do
setembro e início de outubro, para supostas irregularidades nas
escutas relacionadas ao sequestro.
O delegado Barbosa, segundo a
juíza, afirmou que se tratavam de
problemas técnicos e retirou a petição do cartório do fórum, em
outubro. O documento só foi devolvido em fevereiro deste ano.
A juíza disse que no dia 9 de fevereiro recebeu ligação do secretário da Casa Civil, Rui Tourinho,
para conversar sobre o prazo que
ela concedeu para que a petição
retornasse. De acordo com ela, no
dia seguinte, quem ligou foi o deputado Paulo Magalhães (PFL-BA), sobrinho de ACM -o senador é suspeito de ser o mandante
dos grampos ilegais.
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