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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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CRIME ORGANIZADO

Caso corre no STJ, do qual Edson Vidigal, pai de Erick, é o vice-presidente; tribunal diz que advogado deixou processo

Filho de ministro era defensor de traficante

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relacionamento do advogado Erick Vidigal, 28, com prepostos da quadrilha de João Arcanjo Ribeiro começou no ano passado e não se limitou a diálogos mantidos em reuniões fechadas. Timóteo Nascimento da Silva, advogado e lobista a serviço do "comendador", como é conhecido o chefe do crime organizado em Mato Grosso, transferiu para Erick e seus sócios a defesa de Valdenor Alves Marchesan, traficante de drogas preso em Cuiabá.
O caso corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça), corte que tem como vice-presidente o pai de Erick, ministro Edson Vidigal. O substabelecimento (transferência) de procuração de Nascimento da Silva em favor de Erick e dos sócios dele foi aos autos no dia 17 de dezembro de 2002.
Na manhã da última terça-feira, pesquisando no site do STJ, a Folha verificou que Erick ainda figurava como defensor do traficante Valdenor Marchesan. Em nova pesquisa, realizada na tarde do mesmo dia, a reportagem constatou que o nome do filho de Edson Vidigal fora retirado da internet. "Nenhum processo encontrado", eis a nova resposta fornecida pelo serviço eletrônico do tribunal.
A assessoria de imprensa do STJ informou que Erick saíra do processo antes. Seu nome constava do site indevidamente. Por isso foi retirado. O caso envolvendo Valdenor Marchesan está sendo relatado pelo ministro Gilson Dipp. Pedido de libertação do traficante, que se encontra preso, será julgado no mês que vem pela quinta turma do STJ.
A lei não proíbe que filhos de magistrados advoguem no tribunal em que atuam os seus pais. A procuração concedida a Erick ganha relevância porque demonstra um vínculo prévio com personagem que se encontra, desde o final de janeiro, sob investigação da Polícia Federal.

Grampo da PF
Nascimento da Silva, o advogado que transferiu a procuração para Erick, é o mesmo que teve conversas telefônicas captadas por um grampo da PF. Nos diálogos, publicados pela Folha no último domingo, ele discute a "negociação de sentenças" (expressão da PF) em favor de criminosos mato-grossenses.
O nome de Erick é mencionado nos diálogos num contexto que levou a PF a considerá-lo suspeito. Documentos confidenciais da polícia o apresentam como suposto elo de bandidos com o STJ.
Mencionam-se nos diálogos a negociação de um habeas corpus (US$ 100 mil) e entendimentos em torno de um contrato de "assessoramento" nos tribunais de Brasília (R$ 2 milhões).
O filho de Edson Vidigal se defende dizendo que recusou as ofertas.


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