São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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PF e Exército vão atuar contra pistoleiros no PA

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As equipes da Polícia Federal e do Exército enviadas ao Pará por conta do assassinato de Dorothy Stang serão acionadas para dar suporte a programas de governo cuja implantação esbarra na ação de pistoleiros que agem na região.
Deflagrada a crise, que apontou mais uma vez a ausência do Estado na região amazônica, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e Funai (Fundação Nacional do Índio) iniciam programas destinados a inibir a exploração ilegal da madeira, a identificar e retomar terras da União que foram griladas e a demarcar áreas indígenas ocupadas por fazendeiros.
Em um plano emergencial, o Incra fará o recadastramento de cerca de 100 mil imóveis rurais distribuídos por 10 milhões de hectares de terras da União no Pará. O projeto, que começa em abril, mobilizará inicialmente 60 equipes do Incra -cerca de 240 técnicos.
A meta do presidente do órgão, Rolf Hackbart, é dispor de cem equipes (400 técnicos) para concluir o trabalho em dois anos.
O recadastramento extrapola os limites do Pará, seguindo o desenho da BR-163, estrada que liga Santarém (PA) a Cuiabá (MT) e cuja construção é anunciada como uma das prioridades do governo. O edital do empreendimento, estimado em R$ 1 bilhão -somando construção, recuperação e manutenção de uma extensão de 1.340 quilômetros-, deve ser lançado em junho.
A Funai espera demarcar, ainda este ano, quatro das sete terras indígenas existentes no Estado, o que equivale a 90% da área à espera de demarcação.
Entre as pendências está a terra indígena Apyterewa, de 773 mil hectares, que teve a demarcação iniciada em janeiro e depois suspensa por conta da ação de pistoleiros. "Os técnicos estavam a 1.800 metros de concluir a demarcação. Mas foram impedidos de terminar o trabalho", diz Mércio Gomes, presidente da Funai.
Nesta segunda-feira, o Ibama começa por Anapu uma operação de 45 dias para mapear o estoque de madeira em 200 serrarias instaladas no PA, MT e RO.
A idéia é ter um referencial para comparar à quantidade de madeira que estará nestes galpões a partir de maio, quando começa a temporada de seca e, com ela, o desmatamento mais intenso.
Em meio à crise, a PF, que enviou um reforço de 80 homens à região -o corpo permanente na área é de 61 policiais-, aguarda o governo liberar R$ 10 milhões para iniciar a construção de duas novas delegacias -em Altamira e Itaituba- e reformar as instalações e reequipar as já existentes em Marabá e Santarém.
Segundo o delegado Valdinho Caetano, chefe da Divisão de Assuntos e Sociais e Políticos da PF, o reforço servirá para dar suporte a uma força-tarefa para executar mandados de prisão ainda não cumpridos contra pistoleiros em pelo menos 12 comarcas.
Segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra, publicado pela Folha, nas regiões sul e sudeste do Pará, 16 assassinatos de sindicalistas permanecem sem punição para os mandantes e pelo menos 29 acusados de pistolagem estão foragidos.


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